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quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 68 - Por Luiz Domingues

Último capítulo desta parte importante de minha trajetória musical.
Como de praxe, deixo claro que posso reabrir o capítulo em qualquer momento, desde que fatos novos apareçam, com a possibilidade de materiais perdidos que possam surgir; correções; adendos; contatos com ex-membros que tragam algum elemento diferente à narrativa etc. Como já deixei claro ao longo de toda a narrativa, o Terra no Asfalto foi mais que um meio para ganhar dinheiro, meramente, em um momento em que foram cruciais dois aspectos em minha vida : 

1) Ganhar dinheiro e; 
2) Autoafirmação como músico profissional.
Ao ir além, foi um verdadeiro curso intensivo que fiz, para dar-me experiência musical; destreza ao instrumento; segurança; postura de palco, e convívio com músicos de alto nível. Infelizmente, além da narrativa desta autobiografia, praticamente não existe material dessa banda. Por tratar-se de uma banda cover, nunca cogitamos fotografar apresentações, tampouco fazer uma sessão com fotos promocionais. Não existe um release oficial, histórico ou qualquer material, a não ser as minhas anotações de apoio com datas, locais e quantidade de público presente nas apresentações, fora pouquíssimos itens de portfólio, que tenho usado e abusado como ilustração, nos capítulos. Melhor que nada, diria o otimista, mas muito pouco para o pessimista de plantão...
Mesmo assim, e por considerar ter sido um celeiro com grandes músicos, eu mesmo criei uma comunidade na extinta rede social Orkut, a visar preservar um pouco da história da banda, embora eu reconheça que o pouco que ali conteve, fora o conteúdo que eu mesmo reuni e disponibilizei nesta autobiografia. Mesmo assim, o objetivo foi agregar material; histórias e observações sobre o trabalho dessa banda, que embora não fizesse música autoral, foi uma banda formada por grandes músicos que por ali passaram. O Orkut fechou as suas portas, infelizmente, mas eu abri comunidades em outras redes sociais com o mesmo teor. Portanto, esse recurso encontra-se nas Redes Sociais, "Google+" e "Yoble", em um primeiro instante, mas tenho planos de seguir tal estratégia em outras redes, igualmente. Estejam convidados a participar, e já deixo o recado : quem porventura possuir algum tipo de material (fotos; filmagens; recortes de jornais & revistas, cartazetes e filipetas), por favor divulguem-nos na comunidade, seja de que Rede Social, for. 

Agradeço a todos os companheiros que passaram pela banda, por todos os shows que fizemos. Mas sobretudo pela enorme ajuda que ofertaram-me, ao fazer a transição de que tanto necessitava, em suplantar a barreira inicial dos primeiros e difíceis anos de minha carreira, para uma condição de músico profissional, em condições de lutar por uma carreira autoral no mundo musical. Obrigado ao Cido Trindade, por acreditar em minha pessoa, sobretudo em um momento onde percebeu que eu melhorara como instrumentista, quando vislumbrou levar-me para um trabalho como side-man, a acompanhar o cantor, Tato Fischer, e sem o qual, não acarretaria na oportunidade por ter conhecido o tecladista, Sérgio Henriques. Agradeço Sérgio Henriques por ter tido a perspicácia em indicar esse trio que acompanhava o Tato Fischer, para fundir-se a um outro trio de músicos, e ter nascido assim, o primeiro sexteto raiz do Terra no Asfalto. Sem Sérgio Henriques, eu não teria conhecido Paulo Eugênio, que foi o homem aglutinador do Terra no Asfalto.
Através de Paulo Eugênio, conheci Wilson Canalonga Jr.; Geraldo "Gereba"; Fernando "Mu", e Aru Junior, quatro guitarristas da pesada. 

Obrigado, Paulo Eugênio Lima, onde estiver, por ter proporcionado-me a chance para tocar com essas feras, por oitenta e três apresentações, onde sem dúvida, tal carga teve o peso de um curso intensivo para a minha formação profissional.

Obrigado ao Wilson Canalonga Junior, pelo convívio, amizade, conversas animadas sobre os Beatles, que adoramos, e pela possibilidade em ouvir as suas vocalizações nos bonitos backing vocals que fazia.

Obrigado, Geraldo "Gereba", pela sua guitarra "arretada". Seus solos inacreditáveis ainda ressoam em minha memória, cheios daquela brasilidade que só você, e o Pepeu Gomes possuem... e que esteja a tocá-los aí, do "outro lado" !

Muito grato, Fernando "Mu" ! Você foi o primeiro grande guitarrista Rocker com o qual eu pude ter a honra em tocar. Tocar contigo, foi como estar no palco do festival de Woodstock, a tocar com um Deus do Rock, verdadeiramente. 

Jamais esquecer-me-ei de sua interpretação para : "Star-Spangled Banner", ao fazer toda a ruideira proveniente das alavancadas criadas pelo Jimi Hendrix, , só que através de uma guitarra Gibson Les Paul Jr, a puxar o headstock na mão ! Fazer aquilo sem alavanca, foi inacreditável, e deixaria o Hendrix com o seu queixo caído !

Obrigado, Aru Junior ! Você foi um professor e um maestro para a minha trajetória. Sua dica em torno do mise-en-scenè, mudou mesmo a minha vida, e se sou respeitado em minha carreira, devo muito à essa orientação valiosa. E que bom que esteja do "lado de cá", espero que por muitos anos, ainda.

Obrigado, Luis Bola ! Você foi muito generoso comigo, e os sons do Frank Zappa que ouvimos na sua casa, foram sempre muito inspiradores.

Edson "Kiko" : já expressei através da narrativa, as minhas desculpas, reiteradas vezes. Espero que esteja bem neste momento !  
Um agradecimento especial ao Edmundo, pelo apoio recebido logo no início das atividades da banda, e amizade expressa por muitos anos, ainda que vejamo-nos sazonalmente.

Aos agregados, amigos e músicos com passagens rápidas, um muito obrigado, igualmente.

O Terra no Asfalto teve méritos, apesar de ter sido somente uma banda cover. E nos agradecimentos expressos acima, fica uma constatação : teve o efeito de uma verdadeira teia... uma peça ligou-se à outra, e sem as quais, eu não teria tido tantas oportunidades. O fim do Terra no Asfalto foi o começo da história d'A Chave do Sol em minha trajetória. Basta continuar a ler, dali em diante...

Muito obrigado por acompanhar, amigo leitor !



Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 65 - Por Luiz Domingues

Fernando Guimarães Vasconcellos, ou simplesmente, "Mu": 

Eu tinha uma versão um pouco distorcida sobre a morte do Fernando "Mu". O Rolando Castello Júnior, baterista da Patrulha do Espaço, havia relatado-me que o Fernando "Mu" fora assassinado no Largo 13 de Maio, centro do bairro de Santo Amaro, na zona sul de São Paulo, por um traficante de drogas. Foi quase isso na verdade. Segundo apurei com o Aru Junior, em visita à sua residência (2 de maio de 2012), o Fernando "Mu" foi mesmo assassinado, mas em uma padaria próxima à estátua do Borba Gato, na Av. Santo Amaro, e alguns quarteirões distante do Largo 13 de maio. Foi de fato um traficante de drogas a cobrar um acerto de contas, mas o devedor da conta não fora o Fernando "Mu!"

Rara foto do Fernando Guimarães Vasconcellos, o popular: "Mu" a tocar violino no encarte do disco da "Bandazul", lançado nos anos oitenta. Acervo e cortesia: Edmundo Gusso

O sujeito que estava a ser perseguido por bandidos, estava a tomar cerveja com o Fernando "Mu", em uma determinada madrugada de domingo para segunda. Um carro com quatro bandidos chegou, abordou o sujeito, e o Fernando "Mu", de forma imprudente, tentou amenizar a situação dramática do seu amigo. Dessa forma, o rapaz escapuliu ao aproveitar a confusão gerada, mas os bandidos não tiveram compaixão, e assassinam o Fernando "Mu", de uma forma fria, e muito cruel. Segundo o Aru Junior, foram três tiros à queima roupa, disparados diretamente à sua cabeça. E o Aru chegou a ser avisado a tempo, para comparecer ao velório. Isso ocorreu em 1997, e não em 1995, como eu supunha anteriormente.

O Fernando "Mu" saiu do Terra no Asfalto em 1980, com uma grande oportunidade, mas infelizmente não a aproveitou. Por não firmar-se na peça teatral, "Calabar", perdeu oportunidades de ouro para infiltrar-se no mundo da MPB mainstream.

Elenco e músicos da peça "Calabar". O Fernando "Mu" é o último em pé, na fileira mais alta, da esquerda para a direita


Nos primórdios d'A Chave do Sol, chegou a aparecer uma tarde no Bar Deixa Falar, em 1982, e presenciou um ensaio nosso, rapidamente. Lembro-me em vê-lo a atuar em uma banda de Rock Progressivo, de grande categoria (com o tecladista / guitarrista, Fernando Costa na formação), ao apresentar-se no programa "A Fábrica do Som", da TV Cultura de São Paulo, em 1984. Soube, anos depois, pelo amigo em comum, Edmundo Gusso, que ele gravara um álbum com a "bandazul" entre 1986 e 1987.

Mas infelizmente foi o som errado, para a época errada. Depois disso, só fui saber mesmo de seu falecimento por motivo violento, muitos anos depois. O "Mu" chamava-se Fernando Guimarães Vasconcellos, mas ninguém que o conhecia o chamava assim. E no curtíssimo tempo em que foi membro do Terra no Asfalto, entrou a impor-se. Tinha uma postura altiva, era temperamental, mas eu sentia que por baixo dessa casca forjada para parecer um "outsider " durão, havia um senso de humanidade.

Como músico, ele foi excepcional. Um dos melhores com quem já toquei, apesar de tão pouco tempo em que trabalhamos juntos. Sua segurança era enorme. Seus solos eram infernais; sua interpretação como cantor era intensa, e sua postura de palco fora a de um grande artista. Infelizmente, ele não teve a oportunidade para ser reconhecido como o grande artista que o foi, e sua carreira foi calcada na absoluta obscuridade do mundo underground, de onde jamais conseguiu libertar-se. Eu sinto muito que um talento desses tenha ficado circunscrito à última divisão da música, a tocar para poucos que nem percebiam o seu talento. E outra fator que eu admirava nele, foi o elán Rocker. Ele tinha o Rock nos olhos, como uma marca de nascença que poucos possuem. Que esteja bem acompanhado, na presença de Hendrix, "lá do outro lado"... 

Luis "Bola":

O Luis Bola foi baterista duas vezes do Terra no Asfalto, mas na realidade, ele tocou muito pouco. Deu azar por entrar em momentos de baixa, com uma agenda pequena, ou em fase de reformulação da banda. Era um rapaz determinado e com um bom astral. Bom baterista, camarada e com disposição para trabalhar. Ajudou-me ao arrumar-me trabalhos avulsos (relatado amplamente no capítulo"Trabalhos Avulsos"). 

Passei muitas horas prazerosas em sua casa, a ouvir os discos de sua coleção gigantesca de vinis. Era louco pelo Frank Zappa, e foi nessa fase onde eu também culminei em mais escutar a obra do mestre, Zappa. Depois do Terra no Asfalto, vi o Luis Bola, em 1984, ao levar a esposa para uma consulta pré-natal. 

Não me recordo se foi a primeira ou segunda filha do casal, que estava a chegar. Só lembro-me que foi repentino e muito rápido, pois fora um dia chuvoso, e ele se limitou a cumprimentar-me, pois estava preocupado em amparar a esposa grávida, e em meio à chuva. E foi a última vez que o vi, ou tive alguma notícia sua.

Edson "Kiko":

O Edson foi um músico que eu indiquei em um momento onde o Cido Trindade deixou-nos, subitamente. Admiro muito a sua boa vontade em esforçar-se para dominar um universo musical do qual não fazia parte, pois ele não acompanhava o Rock, e gostava mesmo era de música étnica, jazz etc. Foi muito generoso, ao ceder-nos a sua residência no bairro do Pacaembu, zona oeste de São Paulo, para ensaios super confortáveis. O quarto de ensaios era imenso, e mesmo na ausência de vedação, tocávamos sossegados, sem problemas com a vizinhança. 

Era um bom músico, e só ficava um pouco deslocado em nosso contexto mais centrado no Rock, mas deu conta do recado. A saída dele foi lamentável, ainda que a obedecer uma resolução que privilegiara em tese, o melhor para a banda naquele instante. Fiquei bem constrangido, por sentir-me maculado, eticamente a falar. Já pedi as minhas desculpas neste capítulo, e reitero-as aqui. 

Soube de uma notícia dele, no meio dos anos oitenta, ao dar conta de que estava a apresentar-se com uma banda orientada pelo som "World Music", com tendências africanas. Fiquei contente em saber disso, pois fora o seu desejo artístico. E isso foi a última coisa que eu soube dele.

Continua...

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 61 - Por Luiz Domingues


Bem, o Terra no Asfalto foi uma banda cover que apesar de ter sido criada com esse objetivo, exclusivamente (salvo a vã tentativa para tornar-se banda autoral, ao final de 1981), teve muitos méritos. O primeiro e óbvio, foi no sentido em proporcionar-me uma escola viva, onde libertei-me enfim da fase inicial da minha carreira, onde a insegurança em apresentar um nível técnico como principiante, fora superada.

Claro, um pouco antes, quando eu fui tocar na banda de apoio do cantor, Tato Fischer, em 1979, na verdade eu já estava seguro e com um nível técnico mínimo necessário para considerar -me um músico profissional, mas no Terra no Asfalto, ganhei ainda mais desenvoltura e cancha de palco (apesar da banda ter atuado predominantemente circunscrita aos humildes palcos de casas noturnas). O segundo ponto também é motivo de orgulho. Mesmo por ser uma banda irregular, com diversas idas e vindas, o Terra no Asfalto teve em suas fileiras, grandes músicos. Não é toda banda cover que pode orgulhar-se por ter tido tantos músicos bons assim, em sua trajetória. O terceiro ponto são as histórias acumuladas. Algumas engraçadas, outras desagradáveis, mas no cômputo geral, quando uma banda, mesmo sendo cover, reúne um repertório com histórias ocorridas em sua carreira, é sinal de que foi prolífica. O início foi sob puro improviso.

A maneira com a qual foi formada, foi inusitada, com praticamente uma fusão feitas às pressas. Aquele primeiro show de 1979, que gerou a semente inicial, foi de uma insanidade total, mas provou também que havia uma "química", e de fato, aquele conglomerado formado por músicos juntados às pressas, gerou uma banda. A entrada do Fernando "Mu", trouxe um élan. Foi o meu primeiro contato com um guitarrista de alto nível, e embora muito genioso, e difícil para lidar-se como Ser Humano, foi a oportunidade para ter a minha primeira sensação no sentido em estar dentro de uma banda com comprometimento Rocker, e dotada de um nível técnico compatível com essa pretensão. Não levo em conta o trio do Tato Fischer nesse mesmo sentido, pois ali eu também estava a tocar com músicos de um nível alto, principalmente o Sérgio Henriques, mas não foi exatamente uma banda de Rock.

O crescimento da banda, a atrair público nos primeiros bares, e posterior oportunidade para tocar em bares mais categorizados, foi bonito, apesar de ser meramente o trabalho de uma banda cover. Os momentos difíceis do meio do ano de 1980, não amargurou-me, pois eu estava a todo vapor a tocar nos primórdios do Língua de Trapo, e a participar de vários trabalhos paralelos. E convenhamos, com dezenove para vinte anos de idade, as intempéries da vida nem são sentidas inteiramente.

Na foto recortada acima, eis a minha própria persona (Luiz Domingues), a tocar com o Terra no Asfalto em março de 1981. Acervo e cortesia: Cido Trindade. Click: desconhecido

A volta do Terra no Asfalto, ao final de 1980, coroou a trajetória da banda, ao dar-lhe a sua melhor fase, com regularidade, várias apresentações memoráveis, e um dinheiro providencial. Banda cover não é, nem nunca foi o meu objetivo de vida, mas recordo-me com carinho de várias ocasiões onde o Terra no Asfalto tocou para públicos entusiasmados, e arrancou aplausos e gritos. Não fora o nosso som, e sim o sucesso fácil da criação alheia, mas ficou a lembrança de uma banda azeitada, e com recursos técnicos muito bons.

Após a parada forçada, no meio de 1981, a banda perdeu o fôlego e nunca mais alcançou esse patamar máximo que conseguíramos anteriormente. Entre muitos percalços, finais e recomeços, estendemos o Terra no Asfalto até proporcionar-me uma oportunidade de vida, enfim, quando nos seus estertores, conheci o guitarrista, Rubens Gióia, e finalmente montei a minha banda de Rock autoral, sonho perseguido desde 1976, e que o caráter infantojuvenil do Boca do Céu, não permitira-me realizar em sua plenitude. Posso afirmar sem medo de errar, que o Terra no Asfalto foi a semente primordial do nascimento d'A Chave do Sol.
Continua... 

sábado, 6 de julho de 2013

Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 27 - Por Luiz Domingues


Lembro-me em ter assistido a peça teatral, Calabar, no Teatro Pedro II, na Barra Funda, zona oeste de São Paulo. Fui com o Paulo Eugênio; Wilson e Gereba, e lá encontramos os amigos, Roatã Duprat, e a Virgínia, namorada do Fernando "Mu".

http://homenagemaomalandro.blogspot.com/2009/06/peca-calabar.html

Nesse link acima, consta a ficha técnica dessa montagem, com o nome do Mu, citado.   

Foi um espetáculo denso, bem produzido e recheado por atores famosos. O Fernando "Mu" tocava violão; guitarra e bandolim muito bem, obviamente, e a banda, formada por músicos de alto nível, claro.
O Fernando "Mu" é o primeiro, da direita para a esquerda, na parte mais alta, a usar um paletó de cor clara

Infelizmente, soubemos que o Fernando "Mu" fora demitido pouco tempo depois, por motivos desagradáveis. Fomos informados que ele costumava chegar atrasado nas apresentações, além de apresentar sinais de embriagues. Soubemos também, que ficou insustentável a situação dele, e infelizmente ele foi demitido daquela que poderia ter sido a sua grande porta aberta para voos maiores na carreira.

Como instrumentista, seu talento e preparo eram inquestionáveis, mas no quesito profissionalismo, infelizmente ele não adequou-se à uma situação de alto nível.

Depois de sua saída do Terra no Asfalto, e dessa vez que fui ao teatro assisti-lo atuar em Calabar, só fui vê-lo novamente em 1982, por acaso, quando apareceu de surpresa no bar Deixa Falar, onde A Chave do Sol ensaiava em seus primeiros momentos. Foi uma visita curta e inesperada, visto que ele procurava a Dona Sabine, dona da casa, provavelmente para tentar agendar uma data para uma banda cover em que estava a atuar. E depois, no início de 1984, o vi a atuar a atuar em uma banda autoral orientada pelo Prog Rock, pela TV, ao apresentar-se no programa : "A Fábrica do Som". Lembro-me que o tecladista dessa banda foi o Fernando "The Crow" Costa, futuro guitarrista do Inox. Mas que eu saiba, essa banda não avançou. Também pudera... Rock Progressivo em 1984, representaria lutar contra a maré daquele momento, ao caracterizar-se quase como uma afronta. Soube também que ele fora assaltado na saída de um bar no Brooklin, zona de sul de São Paulo, e agredido, ficou desmaiado. Quando foi socorrido, sua Gibson Les Paul Junior, ano 1958, havia desaparecido. Hoje em dia, ela estaria a valer ainda mais que naquela época. E muitos anos depois, soube que ele fora assassinado em uma padaria, no Brooklin, bairro da zona sul de São Paulo.
Continua...

sexta-feira, 1 de março de 2013

Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 17 - por Luiz Domingues

Essa foi uma das histórias mais engraçadas do Terra no Asfalto ! Passamos do susto ao relaxamento total, sob um piscar de olhos. Não lembro-me do nome do PM. Nunca mais o vimos, apesar dele ter deixado contato para auxiliar-nos em qualquer situação, incluso ao oferecer-se para fazer segurança particular, como trabalho extra, fora de seu emprego dentro da corporação.


A apresentação, apesar desse stress da demora em começar, foi muito boa, e o gerente acalmou-se, ao sinalizar que poderíamos agendar mais apresentações. Mas esse contato só seria concretizado a partir da reencarnação do Terra no Asfalto, com nova formação, no final de 1980. Isso porque o Fernando "Mu" acabara de aceitar uma oferta irrecusável para a sua carreira, e o Cido Trindade, também estava de saída.
No caso do Mu, a Celina Silva, esposa do tecladista, Sérgio Henriques, o havia indicado para ser guitarrista / violonista da banda de apoio ao espetáculo teatral e musical "Calabar", peça de autoria de Chico Burque de Hollanda, e que estrearia logo a seguir, em abril de 1980, a apresentar a atriz / cantora Tania Alves, como protagonista dessa montagem. O Fernando "Mu" não pensou duas vezes, e aceitou a oferta, visto ser qualificado para o trabalho, e acima de tudo, ser uma grande oportunidade para a sua carreira.
O cachet fixo oferecido, mostrava-se excelente, fora a quantidade de contatos e portas que abriria, ao conhecer tanta gente do mainstream da música, e meio teatral / TV.
Logo na estreia, para você, leitor, ter uma ideia, o Chico Buarque em pessoa estava a assistir, além de vários outros artistas famosos da música, e do teatro. 

E o Cido Trindade, que paralelamente ao Tato Fischer, estava também desde o segundo semestre de 1979, a tocar na banda de apoio do ex-vocalista dos Novos Baianos, Paulinho Boca de Cantor, recebeu um convite para continuar nessa banda, agora para  acompanhar a cantora emergente, Eliete Negreiros (já relatado, também, no capítulo dos "Trabalhos Avulsos"). Com essas perdas, o Terra no Asfalto esmoreceu, e passou por momentos difíceis nos meses seguintes.

Continua...

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 15 - Por Luiz Domingues

E assim, no dia 23 de fevereiro de 1980, refeitos da frustrante e claustrofóbica viagem ao litoral, fomos tocar novamente no bar, Lei Seca. Desta vez, o público presente foi muito bom, com cerca de trezentas pessoas a abarrotar as dependências da casa. Mas houve uma explicação : tratava-se de uma festa fechada. A surpresa agradável que tivemos foi esse bom cachet, além de um público animado. E as curiosas, foram motivadas por duas personalidades improváveis que ali estavam, e que evidentemente jamais imaginaríamos ver : o ator Global, Mário Gomes, e o compositor / cantor e violonista, Luis Carlos Sá, da dupla Sá e Guarabyra.
O Mario Gomes estava acompanhado de uma mulher espetacular. A trajar smoking em um bar informal, causara espécie também por esse aspecto. Os maldosos rumores que quase destruíram a sua carreira, eram ainda recentes no início de 1980, portanto, sua presença ali chamava a atenção também por esse aspecto, quando ouviam-se cochichos motivados por piadas maledicentes sobre o episódio ocorrido entre 1977 e 1978, mais ou menos. Alheio à esses comentários fortuitos, ele dançou a noite inteira com a mulher linda que o acompanhava, ao desferir um autêntico tapa de luva de pelica, nos seus detratores...

E o Luis Carlos Sá, como músico, ficou a assistir-nos tocar, aplaudiu bastante e cumprimentou o Mu, a elogiar sua performance em particular. Sim, vivíamos um ótimo momento de expansão naquele começo de 1980, a alavancar a nossa agenda. Mas logo teríamos revés, que mudaria o panorama. E quanto ao Luis Carlos Sá, ele realmente apreciou por um bom tempo a nossa performance. Reação típica de músico que ouve música de uma forma diferente das pessoas que não ligam-se em pormenores, e a seguir, foi aproveitar a festa, pois a casa estava lotada, repleta por mulheres bonitas etc. A próxima etapa, foi cumprida em uma outra casa badalada da época, chamada, "Casablanca", que ficava no Campo Belo, zona sul de São Paulo, bairro vizinho ao Brooklin. Nessa casa, tocaríamos pela primeira vez com o Terra no Asfalto, mas na verdade, tocaríamos outras vezes com a segunda formação da banda, que iniciar-se-ia em dezembro de 1980, e teria maior longevidade. Um fato extraordinário aconteceu nessa noite. O que tinha tudo para ser um desastre para o Terra no Asfalto, mas culminou em transformar-se em uma das mais hilárias histórias dessa banda. Conto tal história curiosa, no próximo capítulo.

Continua...

Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 14 - Por Luiz Domingues

 
O Fernando "Mu" pediu à Virgínia, para que ela escondesser o material na sua calcinha, e se algum policial a tocasse, que ela fizesse um escândalo, a exigir uma policial feminina, e na confusão, se aparecesse uma policial, desse um jeito de jogar o pacote no barranco. Por sorte, não havia policiais femininas, mas mesmo assim, a blitz foi tensa, com os policiais a imprimir aquele terrorismo típico por uns quarenta minutos. Sem meios de incriminar-nos em nada, fomos liberados, mas com os policiais ainda a fazer ameaças, ao anotar a placa da Brasília preta de Paulo Eugênio, e dizer-nos que seríamos vigiados dali até São Paulo etc.
Eu usava cabelos compridos desde 1971. Entre 1971 e 1974, eram comedidos, pouco abaixo do pescoço, mais a seguir a moda que espalhara-se pela sociedade em geral (até o Cid Moreira foi "cabeludo", a narrar o "Jornal Nacional"...), mas de 1975 para frente, já com 15 anos de idade, virei Hippie de vez, e aí o cabelo comprido tornou-se mais que uma opção estética, mas um símbolo a representar toda uma gama de ideais da contracultura. Em 1978, o Cido Trindade tinha cortado o cabelo curto, radicalmente. O Paulo Eugênio e o Gereba não embarcavam nessa, e tinham visual de playboys, com cabelos bem cortados, além de usar roupas de grife etc.

Mais pareciam frequentadores de clubes de discothéque, e o Fernando "Mu", havia recentemente cortado a sua longa cabeleira também, após mais de dez anos de resistência em prol dos ideais.
E o Wilson também seguia essa linha de rapaz bem comportado, com cabelos curtos e no uso de trajes tradicionais. Eu lembro-me bem que de todos os Freaks que eu conhecia no meu bairro, desde 1977, ali no ano de 1980, eu era o único ainda cabeludo, e ganhei nessa época o apelido de, "O último dos Moicanos", por não aderir à essa tendência em romper com os ideais contraculturais cultivados nas décadas de 1960 e 1970, ou seja, emblemática ao extremo, tal situação fora mais um inequívoco sinal dos tempos, e que só avançou no decorrer da década de oitenta. Falei tudo isso porque acho que o fato de só eu ter aparência rocker, ali naquela Blitz, pode ter aliviado um pouco a situação, visto que se todos tivessem aparência de hippies / freaks, os policiais teriam sido ainda mais truculentos.
Como ali em Trindade, demarca-se praticamente a divisa entre estados, resolvemos voltar em direção a São Paulo, e pararmos em uma cidade qualquer. A primeira parada foi em Paraty, ainda no estado do Rio. A cidade é uma graça, de tão bonita, mas em clima de carnaval e a chover, não havia vagas em hotéis ou pensões. Dessa forma, seguimos de volta ao nosso estado, e paramos em Caraguatatuba, onde passamos o restante do domingo. E mais uma vez sem achar acomodações e sob chuva. Foi uma experiência claustrofóbica passarmos a madrugada esmagados dentro de uma Brasília. E assim, passamos a segunda-feira, quando finalmente alguém teve a brilhante ideia em acabarmos com aquela tortura, e voltarmos à São Paulo. A próxima apresentação, seria no mesmo bar Lei Seca, marcada para o dia 23 de fevereiro de 1980, e nesse show, teríamos surpresas, uma agradável e outras, curiosas.

Continua...

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 11 - Por Luiz Domingues


Em relação às pessoas que citei no capítulo anterior, só fiquei conhecido praticamente, sem aprofundar-me na amizade com nenhum deles, em específico. No caso do Ney Haddad, tive notícias suas, anos depois, a dar conta que estava no interior, em Ribeirão Preto, a tocar em uma banda de bailes. Já no início dos anos noventa, soube que voltara à São Paulo e montou um estúdio.
Frequentei o estúdio Quorum, de sua propriedade (em sociedade com os irmãos Molina), onde gravei uma fita demo de um trabalho paralelo de um guitarrista, cuja história eu conto no capítulo adequado ("Projeto Rock'n Roll", leia essa história no capítulo dos "Trabalhos Avulsos").

Já no futuro, entre 1992 e 1994, encontramo-nos muitas vezes pelos bastidores de emissoras TV, Rádio, e shows, por ele ser baixista do Neanderthal, nessa ocasião, banda que estava presente também na coletânea em que o Pitbulls on Crack gravou no selo Eldorado. No caso do Catalau, ele quase tornou-se um integrante do Terra no Asfalto, em uma fase onde cogitou-se termos três guitarristas na formação, mas isso não deu certo, por não passar de algumas reuniões e ensaios acústicos, infrutíferos.
No início de 1983, ficamos mais próximos quando A Chave do Sol fechou um contrato no Victoria Pub, para dividir a noite, ou com o Tutti-Frutti, ou com o Fickle Pickle (a depender da noite), banda essa na qual ele era o vocalista nessa ocasião. Essa história conto com detalhes nos capítulos da Chave do Sol.

O outro rapaz amigo da banda, que era irmão de um dos componentes do grupo Uakti, eu nunca mais encontrei ou tive notícias sobre o seu paradeiro. Ele morava em um prédio de apartamentos também nas imediações, no bairro das Perdizes e tinha uma particularidade : quando ficava em estado alterado de percepção, digamos assim, ostentava uma gargalhada descomunal.
Muitas vezes provocou epidemia de risadas entre nós, nem tanto pelo motivo da graça em si, mas pelo efeito avassalador de sua gargalhada, que causaria inveja ao Coringa, inimigo do Batman...

Um outro rapaz, que cujo nome esqueci-me, mas apelidado como : "Catito", era completamente aéreo, e tinha aquele comportamento típico de Freak setentista.
Lembrava o personagem, "Lingote", do Chico Anysio, pois praticamente só comunicava-se através de monossílabos. Era fanático pelo John Lennon, e na sua Kombi (que muitas vezes transportou a banda para apresentações), só ouvia discos solos do Lennon, e enlouquecia ao cantar ao dirigir, quando berrava músicas como, "Isolation", uma canção forte do álbum do Lennon, de 1970, "Plastic Ono Band". Fora o Edmundo, que citei logo nos primeiros capítulos, e mais um ou outro não tão marcante que tivesse ficado na memória, creio que o núcleo básico de amigos da banda, nessa fase inicial, foi esse.

Continua...

Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 10 - Por Luiz Domingues


Dessa forma, Gereba e Mu, um simpatizou o outro. Era difícil não ficar amigo do Gereba, logo de início, pois ele era um sujeito muito simples, mas extremamente comunicativo, brincalhão. Não lembro-me em tê-lo visto mal humorado, nenhuma vez. Ele não era um Rocker, certamente. Sua cultura musical era estreita, pois mal sabia o nome de muitas bandas clássicas, quiçá as obscuras. Seu talento é que era enorme para tirar de ouvido coisas complexas, e reproduzir fielmente, nota por nota, sem entender nada de teoria musical, e nada de técnica de guitarra ou violão.
Já o Mu, mostrava-se o inverso. Conhecia o campo harmônico e escalas na ponta da língua, tinha excelente leitura de partitura, e dominava a história do Rock de cor e salteado. 

Aproveito para mencionar, que havia uma turma que gravitava em torno da banda. Eram amigos do Paulo Eugênio; Gereba e Wilson, principalmente.

Neste casarão, funcionava a pensão onde moravam Gereba e Wilson, e que serviu de QG do Terra no Asfalto nos primeiros tempos da banda, como ponto de encontro

O Paulo Eugênio morava na Rua Traipu, e Wilson e Gereba dividiam um quarto de pensão em rua estreita, chamada São Geraldo, travessa da Rua Turiaçú, ambos os endereços a fazer parte do bairro das Perdizes, zona oeste de São Paulo. E ali era o ponto de encontro dessa turma toda. A pensão em que moravam, chamava-se São Geraldo (apelidada por eles mesmo como "Sãope"), e os outros moradores espantavam-se com a movimentação de cabeludos a carregar instrumentos para lá e para cá.
Lembro-me que o baixista, Ney Haddad, era um desses amigos.Ele era um adolescente nessa época e alguns anos depois, abriria o estúdio Quorum, no mesmo bairro das Perdizes, além de que tornar-se-ia o baixista da banda, Neanderthal, com quem tanto o Pitbulls on Crack (minha banda nessa ocasião futura), dividiria espaço em bastidores de shows e TV, nos anos noventa.
Outro rapaz que chamava-se Sérgio, era irmão de um dos músicos da banda experimental, Uakti, que dava seus primeiros passos naquela época. Ele chegou a contar-me que seu irmão idolatrava o Gentle Giant, na década de setenta, e tocava bateria.
Outro que conheci bem no início de 1980, era um tipo muito magro e elétrico, que respondia pelo apelido de "Catalau". Morava em uma rua próxima (Rua Ministro Godoy), e mesmo por ser muito jovem, informaram-me que tinha sido parceiro de composições do Casa das Máquinas, nos anos setenta. 

A namorada do Mu, tocava flauta. Chegamos a cogitar ter sua participação como convidada, a planejar tocarmos canções do Moody Blues; Jethro Tull, Focus etc. Chamava-se Virginia, e acabara de voltar de Londres, quando contou-nos uma novidade : tinha visto um show do King Crimson... eu e Cido Trindade ficamos pasmos, pois nem sabíamos que o velho Rei Escarlate havia voltado à cena.
E empolgada, disse-nos que o baixista, um sujeito careca, usava um instrumento exótico que tinha som de baixo, mas não era baixo (o tal do "Stick"). Bill Brufford não usava uma bateria convencional, mas um conglomerado de instrumentos de percussão exóticos e os rapazes tocavam trajados com terno & gravata, fora o fato de  usar cabelos bem curtos, ao estilo dos "nerds", componentes da banda Techno alemã, Kraftwerk... cáspite, os anos oitenta estavam a chegar... socorro !

Continua...