segunda-feira, 11 de junho de 2012

Um Corpo Remoto na Floresta - Por Julio Revoredo

Deitaste o corpo remoto
Na imota floresta
Entre sombras
Eco distante, no que destoa
Sentado, caminhas, sob fina garoa
Sim, fina garoa
Como um trago de garapa
Sob o violáceo olhar de uma mulher, obtusa e pontiaguda.
Cintilante luz no estreito de bósforo
Alarga-se e estreita-se, como um fósforo, beócio, num jogo de espelhos, entre o ódio, o ócio, o ópio.

Galhos e folhas caem, como traduzir esta estação ?
O mar e sua arrebentação?!
No campo das coisas, respinga o intraduzível, o silêncio abre-se, como os olhos que saem do balso.
O não pensar, desvidra-se
A boneca enraíza-se
No topo do castelo sideral,
vejo asas sem donos, percorro quartos vazios, imensos
Enquanto minha alma e pequena, para deambular no átrio.
Procuro o espelho, como a água no oásis.
 
Lilás são teus nos, num salto, afasto-me, árvores permanecem sob os olhos de fogo.
 
Amanhã e outro presente, posso não nascer, como ser e ser sem ter, para compreender, minha ausência lúcida, entre sombras e fendas, coisas inabitadas, tempos esquecidos, onde deitaste o teu corpo remoto.


Julio Revoredo é colunista fixo do Blog Luiz Domingues 2. Poeta e letrista de diversas músicas em que compusemos em parceria, em três bandas pelas quais eu atuei: A Chave do Sol, Sidharta e Patrulha do Espaço. A sua produção poética é vasta e de incalculável valor artístico.

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