quinta-feira, 7 de junho de 2012

Autobiografia na Música - Boca do Céu - Capítulo 9 - Por Luiz Domingues

Mas chegou a hora de contar sobre o nosso imbróglio com Ezequiel Neves, poucos dias depois de fazermos o nosso primeiro show.

Foi em fevereiro de 1977, que o “Made in Brazil” iniciou uma temporada com duas semanas no teatro Aquarius, em São Paulo. Então o Laert propôs que fôssemos, e apresentássemo-nos ao Ezequiel Neves, e quem sabe assim ele não interessar-se-ia em ajudar-nos de fato, visto ter publicado meses antes, ainda em 1976, que era o nosso "padrinho"?
Essa dose de ousadia do Laert era muito salutar, mas contrastava com nossa ingenuidade juvenil, pois era óbvio que o Ezequiel não houvera levado a sério esse suposto "apadrinhamento". Eu e o Laert chegamos decididos à porta do teatro, em um domingo, por volta das dezenove horas. Ouvíamos a banda a realizar seu soundcheck ainda, quando falamos com o bilheteiro do teatro, ao perguntarmos-lhe se o Ezequiel estava presente.
O bilheteiro pôs-se a emitir evasivas e nós a insistir, até que vimos o Ezequiel a circular nas dependências do teatro e o chamamos. Ele demonstrou uma certa irritação e ignorou-nos por um tempo. Mas como insistimos, ele enfim veio e seu semblante era de alguém muito irritado. 

Mesmo assim, quando aproximou-se, o Laert educadamente apresentou-se e ao falar que éramos o "Boca do Céu", antigo "Injeção na Veia", e que havia mandado-lhe exemplares do "Sarrumorjovem" etc. Ezequiel ficou possesso e aos gritos, dizia não lembrar-se de nada disso, e que nós deveríamos pagar os ingressos, se quiséssemos assistir o show. Foi quando o Laert (até hoje não sei se foi por ingenuidade ou deboche), falou que ele era “nosso padrinho” e poderia pelo menos dar-nos ingressos sob cortesia...

O Ezequiel ficou irado e ao afirmar que não era padrinho de "porra nenhuma", pegou dois ingressos, deu-nos com truculência gestual e advertiu-nos a nunca mais o abordarmos com essa conversa de "padrinho", e que deveríamos pagar pelos ingressos, doravante. Garotos que éramos, não incomodamo-nos com o “chilique” e fomos ver o show... claro, perdermos um "padrinho", talvez para um concorrente tão juvenil quanto nós na época, um tal de Cazuza...
Essa foto acima, que achei na internet, é de fato do show "Massacre", do Made in Brazil, que assistimos no Teatro Aquarius em 1977, não necessariamente do dia em que fomos, mas da mesma turnê, sem dúvida

Continua...

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