domingo, 16 de setembro de 2012

Autobiografia na Música - Língua de Trapo - Capítulo 1 - Por Luiz Domingues


O Língua de Trapo começou assim : no início de 1979, eu e o Laert "Sarrumor", éramos os últimos remanescentes do "Boca do Céu, nossa primeira banda de Rock, que tinha mudado de nome em 1978, para "Bourréebach", pretensiosamente progressivo e não condizente com nossos parcos recursos musicais na ocasião. A última tentativa para manter essa chama viva, ocorreu em março de 1979, com uma formação que chegou a ensaiar, comigo no baixo; Laert a tocar teclados e cantar; Zé Claudio na bateria (nos anos 1980, foi baterista do "Violeta de Outono"), e um guitarrista chamado, Paulo Estevam Andrade, que o Laert conhecera na Faculdade Cásper Líbero, onde acabara de ingressar, e cursava o 1°semestre do curso de jornalismo. 



Com essa formação, havia a perspectiva para realizar um show em um festival estudantil (Colégio Claretiano, no bairro de Santa Cecília, próximo ao centro de São Paulo). Mas esse show não aconteceu e como não houve mais intenção em prosseguir-se com esse trabalho, findou-se aí, a história do Boca do Céu / Bouréebach, iniciada em 1976 e curiosamente, comigo sendo o único remanescente original da época de sua fundação, já que o Laert entrara meses depois do início das atividades dessa banda.



Como o Laert já estava na faculdade e a enturmar-se com vários estudantes que eram músicos, também, logo formou um grupo de música e poesia, para um recital a ser realizado no meio do ano. Ao não encontrar nenhum baixista entre os alunos, ele sugeriu a minha inclusão, mesmo eu não ainda não sendo estudante da Cásper Líbero (eu era ainda secundarista, estava no 3° colegial, em 1979). Dessa maneira, fui aceito, mas no início, houve um choque estético entre eles e eu. Pela primeira vez, tive contato com pessoas que não tinham formação Rocker, minha base primordial desde sempre e o estranhamento foi inevitável. Apesar desse início com mútuo desconforto estético, musicalmente, adaptei-me rápido ao repertório “MPBístico” e sob acento bem calcado na Bossa Nova. O ruim eram as ideias e o preconceito inicial da parte deles, movidos por ideais esquerdistas que tendiam a enxergar o Rock como um subproduto do capitalismo norteamericano.



Com forte caráter politizado, as conversas giravam em torno de Marx; Engels; Trotsky; Che Guevara, e eu pensava em Beatles; Led Zeppelin, Allen Ginsberg; Herbert Marcuse; Hermann Hesse; Ken Kesey; Timothy Leary...




Chegaram a pressionar-me para tocar contrabaixo acústico, pois o elétrico era "americanizado" na visão deles, ainda no embalo da polarização política de direita / esquerda na MPB, etc e tal ... 
Senti-me no meio da ridícula "Marcha" contra a guitarra elétrica na MPB, nos anos sessenta...




Mas essa estranheza, foi logo superada, porque eu enturmei-me rápido, e mesmo com eles a saber de minha formação Rocker, fui bem aceito em um segundo instante de adaptação. Mesmo porque eram jovens empolgados pela questão política, e como Brasil vivia aquele clima de ditadura e era óbvio que essa euforia pelos ideais esquerdistas de igualdade social, fossem o pano de fundo de toda a movimentação dentro de uma faculdade de jornalismo, ainda mais a Cásper Líbero, uma das mais tradicionais de São Paulo e do Brasil. 



Lembro-me que esse clima de "caminhando e andando e seguindo a canção", era ainda muito forte nos corredores da Cásper Líbero, como se estivéssemos em 1968, e não 1979, como era o que ocorria de fato. Mas ao mesmo tempo, foram tempos de “anistia, ampla geral e irrestrita”, portanto, fazia sentido um certo clima sessentista nesse aspecto, ali dentro. E claro, no grupo, esses jovens podiam estar nessa vibe esquerdista meio radical, mas só tinha gente inteligente e culta, portanto, rapidamente perceberam que eu era rocker; hippie, mas não alienado como pensaram inicialmente.


Continua...
 

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