O Língua de Trapo começou assim : no início de 1979, eu e o Laert "Sarrumor", éramos os
últimos remanescentes do "Boca do Céu, nossa primeira banda de Rock, que tinha
mudado de nome em 1978, para "Bourréebach", pretensiosamente
progressivo e não condizente com nossos parcos recursos musicais na ocasião. A última tentativa para manter essa chama
viva, ocorreu em março de 1979, com uma formação que chegou a ensaiar, comigo no
baixo; Laert a tocar teclados e cantar; Zé Claudio na bateria (nos anos 1980,
foi baterista do "Violeta de Outono"), e um guitarrista chamado, Paulo
Estevam Andrade, que o Laert conhecera na Faculdade Cásper Líbero, onde acabara de
ingressar, e cursava o 1°semestre do curso de jornalismo.
Com essa formação, havia a perspectiva para
realizar um show em um festival estudantil (Colégio Claretiano, no bairro de Santa
Cecília, próximo ao centro de São Paulo). Mas esse show não aconteceu e como não houve
mais intenção em prosseguir-se com esse trabalho, findou-se aí, a história do
Boca do Céu / Bouréebach, iniciada em 1976 e curiosamente, comigo sendo o único
remanescente original da época de sua fundação, já que o Laert entrara meses depois do início das atividades dessa
banda.
Como o Laert já estava na faculdade e
a enturmar-se com vários estudantes que eram músicos, também, logo formou um grupo de música e
poesia, para um recital a ser realizado no meio do ano. Ao não encontrar
nenhum baixista entre os alunos, ele sugeriu a minha inclusão, mesmo eu não
ainda não sendo estudante da Cásper Líbero (eu era ainda secundarista, estava no 3° colegial, em 1979). Dessa
maneira, fui aceito, mas no início, houve um choque estético entre eles e eu.
Pela primeira vez, tive contato com pessoas que não tinham formação Rocker, minha base primordial desde sempre e o
estranhamento foi inevitável. Apesar desse início com mútuo desconforto estético, musicalmente,
adaptei-me rápido ao repertório “MPBístico” e sob acento bem calcado na Bossa
Nova. O ruim eram as ideias e o preconceito inicial da parte deles, movidos por ideais esquerdistas que tendiam a enxergar o Rock como um subproduto do capitalismo norteamericano.
Com forte caráter politizado, as conversas
giravam em torno de Marx; Engels; Trotsky; Che Guevara, e eu pensava em Beatles;
Led Zeppelin, Allen Ginsberg; Herbert Marcuse; Hermann Hesse; Ken Kesey; Timothy Leary...
Chegaram a pressionar-me para tocar
contrabaixo acústico, pois o elétrico era "americanizado" na visão
deles, ainda no embalo da polarização política de direita / esquerda na MPB,
etc e tal ...
Senti-me no meio da ridícula "Marcha" contra a guitarra elétrica na MPB, nos anos sessenta...
Senti-me no meio da ridícula "Marcha" contra a guitarra elétrica na MPB, nos anos sessenta...
Mas essa estranheza, foi logo superada,
porque eu enturmei-me rápido, e mesmo com eles a saber de minha formação
Rocker, fui bem aceito em um segundo instante de adaptação. Mesmo porque eram
jovens empolgados pela questão política, e como Brasil vivia aquele clima de
ditadura e era óbvio que essa euforia pelos ideais esquerdistas de igualdade
social, fossem o pano de fundo de toda a movimentação dentro de uma faculdade
de jornalismo, ainda mais a Cásper Líbero, uma das mais tradicionais de São Paulo e do Brasil.
Lembro-me que esse clima de "caminhando e andando e
seguindo a canção", era ainda muito forte nos corredores da Cásper Líbero,
como se estivéssemos em 1968, e não 1979, como era o que ocorria de fato. Mas
ao mesmo tempo, foram tempos de “anistia, ampla geral e irrestrita”, portanto,
fazia sentido um certo clima sessentista nesse aspecto, ali dentro. E claro, no
grupo, esses jovens podiam estar nessa vibe esquerdista meio radical, mas só
tinha gente inteligente e culta, portanto, rapidamente perceberam que eu era
rocker; hippie, mas não alienado como pensaram inicialmente.
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