domingo, 28 de outubro de 2018

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 315 - Por Luiz Domingues

Descansados, banhados e com o estômago abastecido, aguardamos no saguão do hotel a chegada da van contratada. Apuramos que na sua condução, trava-se de um motorista que já trabalhara com a Patrulha do Espaço várias vezes nas fases posteriores à nossa (eu e Rodrigo), de 2005 em diante, portanto, tratava-se de uma pessoa da confiança do Rolando Castello Junior. 

Um roadie local viajaria conosco, também um profissional bem competente e com serviços prestados ao Rolando, há tempos. E mais uma surpresa agradável: Suka Rodrigues, a viúva do grande artista, Ivo Rodrigues, proeminente guitarrista/compositor e cantor das seminais bandas paranaenses, "A Chave" e "Blindagem", o que em termos de história do Rock paranaense, equivaleria a dizer que ele tocara nos Beatles e também nos Rolling Stones.

Ao ir além, o Ivo tinha uma relação muito próxima com a Patrulha do Espaço, pois a nossa banda gravara algumas canções suas nos anos oitenta e nessa noite em Ponta Grossa-PR, estava programado que tocaríamos a canção: "Berro", uma composição de sua autoria e lançada no LP de 1981. 

Portanto, termos a Suka Rodrigues entre nós nessa viagem como nossa convidada especial, foi um prazer, pois ela representava o Ivo nesta homenagem. E além do mais, a Suka também era minha amiga virtual há anos e nós havíamos tido um encontro pessoal no ano anterior, em agosto de 2017, quando ela esteve em São Paulo e presenciou uma apresentação d'Os Kurandeiros, fato relatado com detalhes no capítulo correspondente da cronologia dessa banda em minha autobiografia. 

O simpático roadie também já havia chegado ao hotel. Chamava-se Jardel, e ali travamos uma conversação agradável enquanto esperávamos a chegada da van, quando ele contou-me que atuava com bandas de Rock, há muitos anos, e por ser músico também, fazia parte de uma banda orientada pelo Folk-Rock norte-americano, dos anos sessenta e setenta. Esplêndido, a conversa girou animadamente sobre o lendário "CSNY", os discos solo de Neil Young, Bob Dylan e que tais, ou seja, só coisas boas. 

Finalmente chegou a van e infelizmente, o atraso perpetrado pelo seu motorista, tratou por colocar uma pimenta no bom astral, que estava para lá de doce, até então. Apesar do rapaz ser muito tranquilo, simpático e solícito, tal atraso atrapalhou-nos não só pela questão do clima ter pesado, mas por desencadear um problema que enfrentaríamos já em Ponta Grossa. 

Apelidado como "Bolívia", não recordo-me de seu nome. A viagem foi tranquila, apesar de tais apreensões relatadas acima, porém, inevitavelmente, chegamos nessa cidade interiorana com substancial atraso e como resultado prático, ao invés de podermos descansar um pouco no hotel, tivemos que tomar posse dos quartos, guardar a bagagem pessoal e sair imediatamente para o local do evento, pois o horário do soundcheck, estava para acontecer. 

Para amenizar essa pressa desmedida, eis que ao chegarmos ao hotel, fomos recepcionados por um fã inveterado da Patrulha do Espaço, que não só viajara de Curitiba para assistir-nos, como colocou-se à disposição para ajudar como assistente de produção. Isso não foi algo improvisado ali no calor dos acontecimentos, pois o Junior já havia combinado isso previamente há muito tempo com ele, mas foi providencial contar com a ajuda do simpaticíssimo, Cristiano Rocha Affonso Costa. 

Fã da Patrulha do Espaço há muitos anos, baterista de uma banda de Rock de Pinhais-PR, chamada: "Matilda Rock Band", sendo também um militar com alta patente e com diversas especializações: escritor com livros técnicos publicados e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná. 

Acompanhado de sua esposa e não menos simpática, Lorena Costa, o casal recebeu-nos no saguão do hotel com extrema cordialidade. Ali, rapidamente, pois o tempo urgia, enquanto voltávamos a correr para a van com destino ao local do show para realizarmos o soundcheck, ele relatou-me que fora a um show da Patrulha do Espaço, de nossa formação, em Campinas-SP, no ano de 2000, ocasião em que estava naquela cidade interiorana paulista, a cumprir os seus estudos na escola de cadetes do exército, mas que por força das circunstâncias, não assistira o show, mas apenas abordara-nos durante o período vespertino, quando estávamos a preparar o soundcheck. 

Não lembrei-me dessa ocorrência, apesar de ter uma memória de longo alcance muito boa, mas ele compreendeu o meu esquecimento e de fato, além de tratar-se de uma lembrança muito remota, de fato, conversamos com muitas pessoas em situações assim, e lembrarmos dos pormenores sobre todas, é realmente muito difícil.

No momento do soundcheck, no palco montado no Parque Manoel Ribas, em Ponta Grossa-PR, na tarde de 13 de abril de 2018. Da esquerda para a direita: Luiz Domingues, Marta Benévolo, Rolando Castello Junior e no comando da selfie, Rodrigo Hid. Click (selfie), acervo e cortesia de Rodrigo Hid      

Fomos rapidamente para o soundcheck e o local foi um Parque Público, no centro da cidade de Ponta Grossa. Cerca de quinze minutos perdidos a mais, por conta do impasse em achar-se um local adequado para a van ficar próxima do palco, eis que conseguimos, enfim. 

Apesar da correria toda, deu para fazer um soundcheck satisfatório. O equipamento providenciado pela produção não foi de primeira linha, mas o seu proprietário e técnico de áudio, fez um bom trabalho, devo reconhecer isso e assim, o som arrumado no soundcheck, deu-nos a devida confiança de que o nosso show seria bom.

A banda a realizar o soundcheck. Ponta Grossa / PR, 13 de abril de 2018. Click; acervo e cortesia de Cristiano Rocha Affonso Costa
 
Apesar desse conforto de perceber que apesar dos pesares essa produção seria mínima o suficiente para darmos um bom recado aos fãs de Ponta Grossa-PR, a tensão gerada ainda pelos atrasos acumulados, pairava no ar. Tínhamos, ao término do soundcheck, cerca de meia hora para voltarmos ao hotel e retornar o local do show. 

A banda de abertura ainda nem tinha aparecido para fazer o seu soundcheck, mas o horário previsto para a sua apresentação já estava para iniciar-se. Em suma, foi quando o imponderável ocorreu, em uma decorrência óbvia do fato da nossa saída de Curitiba ter precipitado um encadeamento de eventos mal-sucedidos. 

Com pressa e nervosismo instaurados naquela van, eis que já dirigíamo-nos de volta ao hotel, quando em um determinado cruzamento, o nosso simpático motorista, distraiu-se e simplesmente não parou, mesmo ao estar claro que a preferencial seria de quem transitava pela perpendicular. Vimos um motociclista a subir com razoável velocidade e pela sua postura, munido da certeza de que a preferencial era sua (e o era, de fato), o rapaz não esboçara nenhuma intenção em frear, portanto, quando sentimos que o nosso motorista também não fez menção de pisar no freio, só deu tempo para gritarmos, uma interjeição coletiva, simultânea e instintiva ao pronunciarmos em uníssono a palavra: "cuidado" ... porém, o impacto foi inevitável, com o motociclista ao ser atingido em cheio, mediante um estrondo violento. 

Pela impressão inicial, eu pensei que o rapaz havia ferido-se gravemente e a sua moto estivesse arruinada. Mas qual não foi a nossa surpresa quando o vimos levantar-se e ao fazer um autoexame, o próprio acidentado verificou que não sofrera nem um arranhão, sequer. A seguir, ele examinou a sua moto, que aliás era uma bela, Harley Davidson, portentosa e esta também pareceu-lhe intacta. 

Já a polaina frontal do para-choque da Van, ficou inteiramente arrebentada. Enfim, o susto foi enorme, mas o rapaz estava bem e a sua moto sem grandes avarias, portanto, mediante uma troca de contatos, o rapaz nem cogitou chamar alguma autoridade para lavrar um boletim de ocorrência e liberou-nos. 

Para quem estava sob extremo atraso, parar por conta de um acidente desse porte... enfim, com o tempo exíguo, realmente não deu para relaxar no pré-show, mediante o conforto do bom hotel onde hospedáramo-nos e assim, só deu tempo para trocar de figurino e lá fomos nós de volta ao local do show...

Continua...   

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