terça-feira, 30 de outubro de 2018

Autobiografia na Música - Trabalhos Avulsos (Hid Trio) - Capítulo 89 - Por Luiz Domingues

O Hid Trio com a minha presença, Luiz Domingues, José Luiz Dinola e Rodrigo Hid, em ação. Sidharta, Pedra, A Chave do Sol e Patrulha do Espaço neste palco a interligar os três amigos ali a tocar. Hid Trio no Finnegans Pub de São Paulo, em 28 de abril de 2018. Click, acervo e cortesia de Priscilla Scardoa Hid
  
Eis que uma nova oportunidade para tocar sob total improviso com o Hid Trio, surgiu-me. E exatamente como ocorrera na apresentação em que participei, no início de janeiro de 2018, foi muito prazeroso tocar com meu velho amigo, Rodrigo Hid, parceiro de tantos trabalhos em conjunto e com um adendo sensacional, eu diria. 

Conforme relatado no capítulo anterior, naquela ocasião, ocorrida na casa noturna, "Kildare Irish Pub", fora um prazer tocar com Hid & Scartezini, meus velhos companheiros do Pedra. E desta feita, Scartezini não poderia participar, mas o convidado seria um outro grande amigo de longa data, pelo qual eu tenho grande apreço pela amizade construída, desde 1980, com intensificação total a partir de 1982, quando tornamo-nos de fato, fraternos e sócios no empreendimento artístico e negócio, chamado: "A Chave do Sol". Portanto, exatamente como fora um prazer tocar com Hid & Scaterzini, onde relembramos os bons tempos do "Pedra', nessa nova noite proporcionada pelo Hid Trio, eu reencontraria o grande: José Luiz Dinola!

José Luiz Dinola e Rodrigo Hid a conversar, em um intervalo da apresentação. Hid Trio no Finnegans Pub de São Paulo, em 28 de abril de 2018. Click: Luiz Domingues

Mais do que minha ligação fraternal e artística com Dinola e ante a nossa história construída em parceria com Rubens Gióia, Verônica Luhr, Chico Dias, Fran Alves e Beto Cruz, em torno d'A Chave do Sol, houve uma tríplice relação histórica ali, pois eu, Luiz, Hid & Dinola trabalhamos juntos no projeto, que na verdade fora revestido pelas nuvens psicodélicas  e reluzentes a espalhar cores, e que denominou-se: "Sidharta", ali entre o final de 1997 e o início de 1999. 

O Sidharta não foi para a estrada e nem deixou algum registro fonográfico oficial, mas o seu legado, foi levado adiante como a base Chronophágica da Patrulha do Espaço, renascida em 1999, portanto, fora devidamente honrado. 

Em suma, se em janeiro de 2018 nós misturamos: 3/4 de Pedra, 1/2 Patrulha do Espaço e 1/2 Sidharta, na receita do Hid Trio, e desta feita, o nosso confeito foi produzido por ingredientes diferentes, mas dentro da mesma árvore genealógica, com 2/3 (ou 2/4) d'A Chave do Sol, 3/4 de Sidharta, 1/2 Patrulha do Espaço e 1/2 Pedra. Portanto, a certeza de que com tais ingredientes, mesmo a improvisar completamente um repertório escolhido na hora e sem a presença de set list manuscrito para servir como orientação, daria tudo certo mesmo assim e o público receberia um produto saboroso. 

Dessa forma, com tal ótima perspectiva, desloquei-me até as dependências do "Finnegans Pub", localizado no bairro de Pinheiros, zona oeste de São Paulo, na noite de 28 de abril de 2018.

Na mesma configuração da foto anterior. Hid Trio no Finnegans Pub de São Paulo, em 28 de abril de 2018. Click: Luiz Domingues

De fato, tocamos três entradas muito boas a destilar Rocks, Blues, R'n'B, e Soul Music, para agradar o público jovem ali presente e divertirmo-nos muito. Fora isso, o prazer de tocar com os meus amigos e poder conversar animadamente com ambos nos intervalos, foi imenso. Relembramos várias passagens que tivemos em comum através das bandas pelas quais atuamos no passado, inclusive os três, no Sidharta, e assim rimos muito e a noite valeu muito a pena.

As esposas de Hid e Dinola, respectivamente: Priscila Scardoa Hid (esquerda) e Carla Lemos (direita). Trio no Finnegans Pub de São Paulo, em 28 de abril de 2018. Click: Luiz Domingues

Cabe registrar a simpática presença das esposas de Hid & Dinola, das quais também também sou amigo. Priscila Scardoa Hid e Carla Lemos interagiram bastante na prazerosa conversação travada aos intervalos. 

E para não dizer que não houve mais nenhum registro extra, devo relatar que algo engraçado ocorreu-nos nessa noite. Um grupo formado por jovens com feições orientais, pareceu estar a divertir-se muito com o nosso som. Riam, aplaudiam e dançavam, a demonstrar alegria e até uma certa euforia pela vibração que gerávamos ali no pequeno espaço do Finnegans Pub. 

Então, assim que encerramos a primeira entrada, um dos rapazes, aproximou-se e a expressar-se com um português bem razoável, embora com forte sotaque, disse-me ser chinês, como os demais, rapazes e moças ali presentes em sua turma e que estavam a gostar. Até aí, tudo bem, foi uma abordagem simpática, respeitosa etc. e tal. Mas aí, no decorrer da segunda entrada, o rapaz passou a gritar entre uma música e outra para tocarmos a música: "Despacito", um hit Pop cafona e com origem latino-americana/hispânica, que tornara-se uma "febre" nas redes sociais da internet, entre 2017 e 2018. Sem noção alguma sobre o despropósito de seu pedido, é claro, porém foi inacreditável o rapaz pedir isso para nós que estávamos ali a tocar The Beatles, The Rolling Stones, Ray Charles e outros artistas dessa esfera cultural tão dispare ante os seus anseios expressos, verbalmente. 

No próximo intervalo, ei-lo novamente a abordar-me e desta vez, ele perguntou-me se nós não iríamos cantar em "espanhol". Nesse instante, pensei que talvez por ser oriundo de uma cultura asiática, completamente diferente da nossa, tendia a confundir o português com o espanhol, ao não notar a diferença. Bem, claro que expliquei-lhe que falávamos português e não espanhol, e que ali, a apresentação estava versada em quase 100 % por canções cantadas em inglês. O rapaz entendia e falava o português com uma certa desenvoltura, mas a seguir ficou novamente a pedir, "Despacito", insistentemente, mas ria, ao parecer apenas querer brincar com tal manifestação despropositada. 

Quando chegou o próximo intervalo, eis que o sorridente chinês aproximou-se novamente e não contente em tentar conversar mais uma vez, sentou-se à nossa mesa e colocou-se acintosamente a prestar atenção à fala da namorada do Dinola, Carla Lemos, que contava-nos algo sobre as suas filhas naquele instante, ou seja, um assunto pelo qual o rapaz não deveria nutrir nenhum interesse, mas de uma maneira deselegante, eis que ele ficou ali até a Carla cair na risada e afirmar: -"ai, gente, não consigo falar assim desse jeito", ao fazer menção ao estranho e insólito rapaz ali sentado indevidamente, em profunda atenção ao que ela dizia. Ou seja, se era um louco, sem noção alguma de sociabilidade, um debochado contumaz ou apenas queria ouvir o nosso idioma e aprender o significado das palavras, ficamos sem saber do que se tratou realmente. 

Nesse instante, ao perceber que a atitude dele não fora ofensiva, eu apenas sinalizei em sua direção a gesticular o clássico sinal de "positivo" e disse-lhe em tom de brincadeira: -"Beijing, Beijing", a estabelecer um clima amistoso. Então ele sinalizou positivamente e sempre a sorrir de uma forma desmesurada, talvez a denotar um traço típico desses povos asiáticos, e imediatamente voltou ao seio de sua turma. Os demais chineses, também riam o tempo todo, mas não foram impetuosos, pois acredito que não sabiam comunicar-se em nossa língua, e nem mesmo em inglês ou espanhol. Em síntese, a concordar com os sorrisos do chinês, sem noção, foi mesmo engraçado lidar com esse jovem estrangeiro e tresloucado.

Bem, foi a segunda participação minha com o Hid Trio, um combo para tocar covers clássicos pela noite, sob total improviso e marcado pelo reencontro de grandes amigos. Teoricamente, a formação dessa banda concentra-se entre Rodrigo Hid, Ivan Scartezini & Marcião Gonçalves, outro fraternal colega de longa data. Mas a priori, eu sabia que em qualquer momento eu poderia voltar a ser convidado para atuar e haveria de ser sempre um grande prazer estar por algumas horas a atuar com Hid, Scartezini, Dinola e qualquer outro amigo que estivesse junto em uma noitada dessas e tive também a certeza, sempre seriam divertidas tais noitadas.

Dinola & Hid a conversar, com Priscila Scardoa Hid, atrás. Hid Trio no Finnegans Pub de São Paulo, em 28 de abril de 2018. Click: Luiz Domingues

Portanto, eis que o meu pressentimento veio a concretizar-se em um breve espaço de tempo, ainda em 2018, e assim, esta participação com o Hid Trio ganharia um novo capítulo dentro das histórias construídas ao longo dos meus "Trabalhos Avulsos". Mas antes dessa terceira oportunidade para tocar novamente com o Hid Trio, eis que um convite para participar de um combo formado com muitos outros amigos queridos dentro da música, surgiu. E foi ao ar livre, nas ruas do bairro da Vila Pompeia.

Então, continua...

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