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quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 41 - Por Luiz Domingues



Claro, não estou afirmar isso, mas, digamos que eles pensaram mais friamente no melhor para a banda, sem deixar-se levar pelo sentimentalismo daquela situação. Não lembro-me ao certo a data onde tivemos que conversar com o Edson Kiko, mas esse dia chegou, e na reunião fatídica, realizada em sua residência, a incumbência maldita estourou em minhas mãos, lamentavelmente. 

Sob um clima constrangedor, fui eu o designado a falar, e assim, senti-me terrivelmente mal por encará-lo e dizer-lhe que chegáramos à conclusão de que o melhor para a banda seria manter o substituto, Cido Trindade, no posto, a despeito dele, Kiko, ter recuperado-se. Aquele silêncio constrangedor enquanto eu falava a gaguejar, foi horrível. O Kiko ficou bravo. Teve toda a razão por sentir-se traído; humilhado; desprestigiado, etc. Além do fato de que mesmo não por não ser um simpatizante dos nossos ideais na música, teve toda a força de vontade para adequar-se à banda e ao repertório, emprestara a sua casa para ensaios, ajudou-nos financeiramente na aquisição de equipamento, em uma compra recente, e acidentara-se, lamentavelmente. Alguns minutos depois, menos exaltado, ele disse-nos que tudo bem, sobreviveria e desejava-nos boa sorte, ao ponderar que realmente não era um Rocker, e que pretendia tocar outro material que gostava, na MPB e música instrumental, música étnica etc. 
E o pior, foi quando ao dirigir-se especificamente à minha pessoa, afirmou estar muito desapontado comigo. Aquilo cortou-me o coração, pois justamente eu, fui o que mais relutei com essa atitude, justamente por ter considerado essa situação como uma questão antiética e abominável. Mas aos olhos dele, fui diretamente culpado pois ele deve ter considerado que pelo fato de eu ter tomado a palavra, fora o mentor da ideia. Conclusão : assumo a minha parcela de culpa nessa história, pela falta de empenho em ter brigado mais pela causa do Kiko, quando surgiu esse movimento interno na banda. 

Essa foi uma mácula que criei na minha carreira, e humano que sou, estou sujeito a erros, como todo mundo. Pedi desculpas a ele naquele momento, mas foi algo praticamente imperdoável, convenhamos. Três ou quatro anos depois, eu estava já com A Chave do Sol a conquistar uma certa proeminência na mídia, e soube de uma notícia dele. Edson "Kiko" estava a tocar em um projeto ligado à música étnica, algo relacionado com música africana. Acho que foi mesmo a sua predileção, por apreciar a dita, World Music. Espero que esteja bem, e se souber deste relato meu, aproveito e registro mais uma vez, o meu sincero pedido de desculpa.



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domingo, 1 de setembro de 2013

Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 40 - Por Luiz Domingues

E assim, o Cido Trindade apareceu, montou sua bateria e sem passar o som, tocamos todo o nosso repertório, sem problemas. Com pequenos erros, quase irrelevantes, fez uma ótima participação.
 

Ao ir além, ficou nítido para todos que ele havia proporcionado a banda, um enorme crescimento. Todos entreolhavam-se e riam, ao constatar o quanto o som da banda havia crescido com a sua presença. Foi por outro lado, uma infâmia, pois o Cido estava ali a atuar emergencialmente apenas, como substituto sob uma circunstância terrível, já que o baterista titular, Edson "Kiko" estava a convalescer de um acidente sofrido. E fora absolutamente recente, com o Kiko ainda a sentir as dores decorrentes do acidente de moto. 

Durante o intervalo, o guitarrista, Aru Júnior observou-me que a despeito da situação do Edson Kiko, não poderíamos ignorar o fato de que o Cido Trindade mostrava-se muito mais técnico e encaixara-se perfeitamente à banda, mesmo sem ensaios. -"imagine se ensaiasse", dizia-me entusiasmado, o Aru Júnior.  Ele foi o único entre nós, que não conhecia o potencial do Cido. Os demais, Paulo Eugênio e Wilson e eu incluso, estavam acostumados, após tantas apresentações do Cido conosco, em formações anteriores do Terra no Asfalto. Criou-se assim uma pressão terrível a partir desse mesmo dia, para efetivar o Cido na banda e isso denotava ser uma atitude muito desagradável em todos os sentidos, pelos aspectos éticos e morais. 

Tecnicamente, era óbvio que o Cido tinha mais condições, fora a bagagem pessoal no tocante à sua formação Rocker, coisa que o Edson não tinha. E o mais óbvio aspecto : era nosso amigo, desde longa data. Durante algumas apresentações, esse impasse colocou-se a crescer, enquanto o Kiko recuperava-se e naturalmente aspirava voltar o quanto antes a ocupar seu posto. Íamos visitá-lo, e esse clima desagradável entre nós, só crescia. Todos estavam fechados na ideia em efetivar o Cido, mas eu sentia-me muito mal com essa situação, principalmente pelo fato de eu ter sido responsável pela sua indicação à banda (ao referir-me ao Kiko), fora a questão dele ter ausentado-se graças a um acidente. Não que os outros não fossem sensíveis a tal situação, no entanto...
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Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 39 - Por Luiz Domingues



Tudo corria bem na banda, com apresentações seguras, datas novas a ser fechadas, e o clima bom na parte interna, entre os componentes. Com a aquisição recente de mais equipamentos, o nosso áudio também melhorou muito, e claro, isso animou-nos. 
Mas uma fatalidade imprevista acarretou um enorme susto, e posteriormente uma situação delicada, cujo desfecho foi desagradável, e embora injustamente imputado somente à minha pessoa, pois fora uma culpa coletiva, a verdade foi que eu saí chamuscado dessa história. Foi o seguinte : na apresentação do dia 13 de fevereiro de 1981, quando estávamos a prepararmo-nos para carregar a Kombi que alugávamos normalmente para transportar nosso equipamento, soubemos que o nosso baterista, Edson "Kiko", sofrera um acidente com a sua motocicleta. 
Por sorte, apesar da violência da colisão, ele sofreu escoriações e apenas uma luxação no pé, como consequência direta, pois poderia ter sido muito pior, e a moto também não estragou muito. Contudo, ficava obviamente impedido para tocar naquela noite, e talvez por mais algumas apresentações. Ficamos no impulso óbvio em cancelar prontamente a apresentação, mas ele mesmo insistiu para que procurássemos um substituto, e se alguém aceitasse, que fôssemos tocar, pois poderíamos perder a vaga no Bar 790. Então, o Paulo Eugênio pensou em três nomes imediatos : Edmundo, Luis Bola e Cido Trindade.
O Edmundo era velho amigo dele, e acompanhara o nascimento da nossa banda, Terra no Asfalto, pois sua casa foi o próprio berço desse nascimento, mas pesava-lhe contra, o fato por estar enferrujado, sem tocar há muito tempo. O Luis Bola nem foi mais citado, pois quando o Cido Trindade havia externado seu desinteresse, quando a banda voltou no final de 1980, este também declinara do convite. O Cido Trindade deveria ter sido o baterista oficial desde o início dessa volta das atividades da banda em dezembro de 1980, por ser da formação original, reconhecidamente preparado para assumir as baquetas do Terra no Asfalto, mas pesava contra, o fato de haver deixado-nos desamparados, recentemente, quando da reformulação da banda. Por que aceitaria agora ? Mas o Paulo Eugênio ligou, ele aceitou, e foi com sua bateria imediatamente. encontrar-nos no bar 790. Mesmo sem ensaiar, ele conhecia 99% do repertório e mesmo sujeito a erros pontuais, não haveria em proporcionar um vexame, de jeito nenhum.
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Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 38 - Por Luiz Domingues




Então, esse sujeito que chamava-se, Plínio, propôs-se a desmontar todo o nosso equipamento recém adquirido, e assim estabelecer um grande check up, para trocar possíveis peças estragadas, ao promover uma limpeza, enfim. Dissemos-lhe que não tínhamos condições para pagar-lhe por esse serviço, e que aguardasse então uma oportunidade melhor advinda dos nossos bolsos, mas ele insistiu muito nessa determinação em ajudar-nos, e que faria tudo gratuitamente, pelo prazer em ajudar, e se liberássemos sua entrada em uma apresentação nossa, nos bares em que tocávamos, como uma mera cortesia. 
O sujeito insistiu tanto, que realmente acreditamos no seu espírito altruísta e finalmente concordamos em deixar que ele ajudasse-nos com tal manutenção.
E de fato, tal como um carro usado que compramos e rapidamente encostamos em nosso mecânico de confiança para promover um check-up, realmente foi uma ajuda providencial. Sendo assim, o rapaz colocou a mão na massa. Em dois dias, desmontou tudo, checou todos os componentes eletrônicos, válvulas dos amplificadores, limpou e lubrificou tudo etc. Mas, por esquecer-se do que havia dito-nos anteriormente, quando apertou o último parafuso, para montar a última peça, apresentou uma conta, que tinha um valor absurdo ! E aí, rapidamente o clima amistoso transformou-se em uma discussão acirrada, com o tom a esquentar bastante, e mediante troca de insultos, até chegar-se sob um limite bem desagradável. Como resolução, o rapaz compareceu a uma dessas apresentações subsequentes, e teve sua entrada liberada conforme o combinado, contudo, na hora da sua saída do estabelecimento, quis debitar a enorme conta de consumação que fizera, em nossa conta.


Com a nossa recusa em assumir, visto que o combinado fora somente liberar o ingresso, o elemento lotou a sua "comanda", deliberadamente para tentar prejudicar-nos. Evidentemente, para rechear a comanda com marcações, ficou muito embriagado, e assim proporcionou um vexame na hora da saída, por recusar-se a pagar, e claro que o gerente da casa não quis nem saber do imbróglio. Lógico que teve de pagar, e saiu de lá a amaldiçoar-nos... resumo da história : o combinado não é caro, mas descumprir o acordo, fica muito oneroso.

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terça-feira, 27 de agosto de 2013

Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 37 - Por Luiz Domingues

 
Tocamos no dia 16 de janeiro de 1981, e repetimos a dose, no dia 17 de janeiro de 1981. Em ambas as apresentações, levamos cinquenta pessoas à casa, respectivamente. Nosso som encaixou-se bem ao tipo de público que ali comparecia, e o palco era bem mais espaçoso do que o do Barbarô, onde tocáramos com essa nova formação, durante o mês de dezembro de 1980. Voltamos ao "790", nos dias 17 (cinquenta pessoas presentes); 23 (setenta pessoas); 24 (cinquenta pessoas); 30 (sessenta pessoas) e 6 de fevereiro (quarenta pessoas). 
O clima na banda foi de animação, e o baterista, Edson "Kiko", apesar de não ser um Rocker inveterado como os demais, esforçava-se para ouvir as músicas e executá-las com a melhor desenvoltura possível. Ele era solícito e trabalhador, embora não tivesse uma grande técnica ao instrumento. Estávamos com uma sonoridade melhor ao vivo, também, graças ao equipamento recém adquirido. Mas ganhamos uma dor de cabeça extra. Com mini P.A., mesa de mixagem e seis caixas Palmer (ao estilo Marshall), tornou-se impossível transportarmos todo esse equipamento, em carros particulares. 

E em tese, nem poderíamos fazer isso, pois naquela época, só o Paulo Eugênio possuía um carro, a sua famosa Brasília preta. Eu nem sabia dirigir, e nem sonhava em ter um carro. Wilson, idem. O Aru Jr. também estava sem carro no momento, e às vezes aparecia com o carro de seu cunhado, emprestado, e o baterista, Edson "Kiko",circulava pela cidade, mediante uma moto. Sendo assim, passamos a ter uma despesa extra, ao sermos obrigados a alugar uma Kombi, toda vez em que fôssemos tocar.
Seria uma temeridade, pois na maioria esmagadora das vezes, arriscávamos tocar pela bilheteria da noite e dessa forma, corríamos o risco de em uma noite de movimento fraco, termos que pagar para tocar, literalmente. Mas esse fora o ônus do progresso, afinal de contas. 

Lembro-me de um fato curioso ocorrido nesse mês de janeiro, entre essas apresentações todas que citei. Conhecemos um sujeito que era irmão de um amigo do Paulo Eugênio, que muitas vezes alugara equipamento para tocarmos. O tal sujeito dizia-se técnico de equipamentos, e que realizava manutenção...
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Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 36 - Por Luiz Domingues

Logo que entrou o ano de 1981, a agenda do Terra no Asfalto mostrou-se lotada, ainda que o público nas apresentações, fosse diminuto. Tocamos novamente no Barbarô, nos dias 2 e 3 de janeiro de1981. No dia 2, contamos com apenas dez pessoas in loco, reflexo da ressaca do Reveillon, certamente. E no dia 3, foi pior ainda, com apenas duas pessoas presentes. Nessa apresentação do dia 3, tivemos um convidado especial : Gereba, ex-guitarrista do próprio Terra no Asfalto, que tocou um pouco conosco. 
O Sérgio Henriques estava novamente a desfalcar-nos. A gozar das férias da turnê da Elis Regina, recebera o convite, e fora tocar com Rita Lee & Roberto de Carvalho, na turnê do álbum, "Lança Perfume". Mas ele voltaria várias vezes a tocar conosco, nos intervalos da turnê, e antes de voltar a tocar com, Elis Regina, na turnê seguinte dela, que chamar-se-ia : "Trem Azul". Ainda em janeiro, surgiu uma oportunidade para reforçarmos o nosso equipamento. Uma banda de bailes, recém dissolvida, estava a liquidar todo o equipamento, e nós fomos dar verificar o que eles tinham a oferecer. 
Tratava-se de uma banda de Jundiaí, no interior de São Paulo, porém, uma cidade bem próxima da capital, com cerca de 50 Km de São Paulo. Lembro-me em irmos mediante o uso de trem, em uma terça-feira de janeiro, e uma vez no local de ensaio de tal banda, verificarmos que já haviam vendido quase tudo. No entanto, fechamos o negócio com o que ainda estava disponível, e assim compramos uma mesa com 12 canais; três amplificadores Palmer com duas caixas cada; uma potência; duas caixas de P.A. de frequências graves, e uma câmara de eco, da marca : Binson. 
Com esse equipamento e somado aos equipamentos próprios de cada um, melhoramos bastante as condições técnicas da banda. Ainda em janeiro, tocamos pela primeira vez em uma casa chamada : 790 (pronunciávamos : "sete, nove, zero"). Era uma casa que ficava localizada no bairro do Itaim-Bibi, zona sul de São Paulo, e com frequência predominante de casais jovens e bem abonados. Eu já havia tocado nessa casa com o Língua de Trapo, por ocasião do lançamento da Demo-Tape (fita K7 demo), primeiro registro gravado por essa banda. Tocaria bastante com o Terra no Asfalto, e faria um show de choque, com, A Chave do Sol, logo no início das atividades dessa banda, um ano depois, em 1982. E nossa estreia nessa casa, deu-se em 16 de janeiro de 1981, com cinquenta pessoas.
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Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 35 - Por Luiz Domingues

 

Como agradamos as donas do Bar, Barbarô, ficou acertado então que faríamos todas as sextas e sábados de dezembro nessa casa. Dessa forma, tocamos também nos dias 19 (cento e cinquenta pessoas presentes), 20 (cem), 26 (sessenta), e 27 (cinquenta). A cada apresentação, a banda azeitava mais a sua performance, para alcançar a sua segurança, com swing e dinâmica etc. Apesar de estarmos animados com a banda a atingir uma regularidade, o baque da semana fora forte antes da estreia, com a perda do John Lennon.
Foi na manhã de terça-feira, dia 9 de dezembro de 1980, que a notícia explodiu na imprensa : John Lennon estava morto, assassinado por um psicopata em Nova York. Naquela manhã, acordei cedo para ir ao dentista, e enquanto me arrumava no meu quarto, ouvi "Stand by Me", na versão do Lennon, ecoando na TV da sala. Achei estranho estar a tocar essa canção em um programa feminino e vespertino, como fora a "TV Mulher" da Rede Globo, e já intuí que alguma coisa ruim tivesse acontecido... 
O Paulo Eugênio contou-me que ouvira no rádio, também ao preparar-se para sair, e assim fora imediatamente à porta da pensão onde moravam Wilson e Gereba e os acordou com a buzina do carro. 
Todos sentimos, menos o baterista, Edson "Kiko", que realmente não era um Rocker como nós. Perder o Lennon desse jeito violento, logo ele que revelara-se um ativista pacifista, foi algo inacreditável, e deu mais força ainda aos ventos de baixo astral que traziam os anos oitenta, com todo aquele conceito estúpido em torno da destruição niilista, com a ideia do repúdio ao passado etc. A frase : "O Sonho Acabou", foi repetida na mídia à exaustão naqueles dias, e trouxe-nos uma melancolia enorme, uma verdadeira desesperança em termos de futuro.
Nós já tocávamos várias músicas da carreira solo dele, John Lennon, inclusive do último álbum lançado na época, "Double Fantasy", que mal acabara de chegar às lojas. Mas a vida prosseguiu, infelizmente, e sem nosso Working Class Hero...

Nos shows do dia 19 de dezembro, em diante, o tecladista, Sérgio Henriques, tocou conosco. Mesmo ao utilizar apenas um piano elétrico, e sem órgão ou sintetizador para reforçar, sua contribuição enriquecia demais o som do Terra no Asfalto.
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domingo, 4 de agosto de 2013

Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 33 - Por Luiz Domingues

E fomos então à apresentação dessa nova formação e fase do Terra no Asfalto. O bar, "Barbarô", havia passado por uma boa reforma e mudado de nome (era Le Café, anteriormente, como já mencionei). No dia da apresentação, a casa lotou. Claro, havia diversos convidados, amigos e parentes dos membros da banda, mas também um público convidado pelas donas do estabelecimento. Era na verdade um casal de lésbicas, coisa muito comum hoje em dia, mas em 1980, ainda causava estranheza e certos desconfortos para pessoas preconceituosas. Tanto foi assim, que nossos convidados, principalmente as meninas, contaram-nos que passaram por assédio no toillete do bar, ao ser assediadas por lésbicas, visto que o bar estava com um contingente grande de mulheres nessas características, provavelmente as amigas das donas do bar. Fora esse ligeiro desconforto, fomos bem tratados pela dona majoritária, chamada, "Paulette", e sua namorada. E a banda agradou em cheio. Como já havia comentado, nessa nova fase, perdemos um pouco a fúria Rocker dos tempos do Fernando "Mu", mas ganhamos em segurança, agora com o Aru Júnior, como lead guitar.
A primeira entrada iniciava-se com Soft Rock. A primeira música foi e continuou sempre a ser nas futuras apresentações : "Love Comes to Everyone", do então último LP de George Harrison. Uma balada leve e que fazia a banda flutuar, sob um início bem "soft" e sem agredir o público dos bares, geralmente formado por casais de namorados (nesse caso do Barbarô, namoradas...). A entrada seguia com mais Harrison, Paul e Lennon em baladas de suas carreiras solo, a acrescentar-se várias do James Taylor e Cat Stevens.

Só na parte final começava a esquentar com uma boa sessão de canções dos Beatles. Os vocais harmônicos e afinados do Paulo Eugênio, Wilson e Aru Jr., caiam muito bem em todas as canções. Em "Nowhere Man", dos Beatles, arrancavam suspiros das mesas, geralmente. Na segunda entrada, uma sessão com MPB, sob forte poder dançante, a cair sempre bem. E na parte final, Rocks mais vigorosos. Hora para tocarmos o material do Cream; Led Zeppelin, Grand Funk etc. E ao final, a depender do clima, mais peso ou não.
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Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 32 - Por Luiz Domingues


Com essa formação, o Terra no Asfalto alcançaria não só uma estabilidade, mas também uma linearidade musical. Se por um lado perdíamos a explosão Rocker do Fernando "Mu", e a espontaneidade do Geraldo "Gereba", com o Aru Junior, aparamos arestas e tornamo-nos uma banda toda correta, quase como se fosse uma orquestra, a seguir partituras e com um maestro no comando.

O lado bom disso, foi a tranquilidade. Tocávamos seguros, sem espaço para sustos. E como já disse anteriormente, com essa formação, privilegiou-se a atenção aos vocais.


Paulo Eugênio Lima, Wilson Canalonga Junior e Aru Junior, esmeraram-se nos ensaios vocais e belas harmonias foram firmadas. No repertório centrado no Soft-Rock, isso fazia a diferença, pois com os três a cantar bem afinados, e a estabelecer uma tríade harmônica, deram um verniz à banda. Outra característica dessa nova formação, foi a inclusão de temas progressivos. Com a entrada do Aru Junior, incluímos o som de bandas oriundas da escola do Rock Progressivo britânico, tais como : Yes, Genesis; Supertramp e Gentle Giant no repertório, por incrível que pareça.

Preparadas essas músicas todas, marcamos alguns ensaios com o novo baterista, Edson "Kiko", em sua residência, localizada no bairro do Pacaembu, zona oeste de São Paulo. Lembro-me que ele morava em um imponente casarão, na Rua Bahia, bem próximo do estádio do Pacaembu, região nobre da zona oeste. Ensaiávamos em um quarto isolado e bem amplo, em uma edícula da casa. Não havia nenhum tratamento acústico ali, mas a casa tinha um terreno tão grande, que o som que produzíamos não causava grandes transtornos à vizinhança. E além do mais, nossa rotina de ensaios estabeleceu-se no período da tarde, até o início da noite, no máximo. Portanto, nunca tivemos problemas com eventuais reclamações. Lembro-me de termos feito uma semana intensiva com ensaios, que realmente preparou a banda. 

O Paulo Eugênio, em meio aos seus contatos, fechou uma data em um bar que havíamos tocado anteriormente com o próprio, Terra no Asfalto, com uma formação bastante improvisada, em uma fase de entressafra da banda (já relatado na narrativa). Agora, havia passado por reforma e mudado de nome, de "Le Café", para "Barbarô". Marcada a data, sabíamos que seria no dia 12 de dezembro de 1980. 
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segunda-feira, 22 de julho de 2013

Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 31 - Por Luiz Domingues



Os primeiros ensaios dessa reestruturação do Terra no Asfalto foram preparatórios para aprender a harmonia das músicas escolhidas, checar algumas convenções entre os instrumentistas, além de decorar letras, e estabelecer os arranjos vocais entre os vocalistas. Com a entrada do Aru Junior, tudo direcionou-se ao seu gosto pessoal, basicamente, exatamente como houvera sido no tempo do Fernando "Mu". Passamos a tocar várias músicas do Led Zeppelin, mais dos Beatles e várias da carreira solo de cada ex-beatle. 
E também algumas pérolas do Rock Progressivo, e quando essas canções ficaram bem ensaiadas, chamariam muito a atenção, nas apresentações da banda. Tem até uma história engraçada sobre isso, que relatarei no momento oportuno da cronologia. O Aru Junior, por possuir uma formação erudita sólida, era minucioso, e tornou-se de forma natural, o maestro da banda, ao orientar-nos na parte teórica. O Wilson cresceu demais como guitarrista, quando essa fase com o Aru Junior iniciou-se, ao aprender a harmonizar cada vez melhor, e assim começar a soltar-se em solos, apesar do Aru ser o solista oficial da formação. 
E também investimos em um set list com peças da MPB, muito boas, com canções do Milton Nascimento; Gilberto Gil; Caetano Veloso, e Novos Baianos, principalmente, no repertório, além de algumas surpresas, tais como , "Malacaxeta", do Pepeu Gomes em sua carreira solo, e "Hino de Duran" do Chico Buarque. Eu gostava demais em tocar "Malacaxeta", por ser praticamente um Jazz Rock complexo, cheio de partes difíceis para tocar-se, mas extremamente prazerosa como música empolgante a ser tocada.

Na hora decisiva, o Cido Trindade anunciou que repensara, e preferia não participar dessa volta da banda. OK, vida que seguiu, precisávamos de um novo baterista, então. Ensaiamos bastante a parte de harmonia, e para a bateria, eu indiquei um rapaz que eu conhecera em uma recente ocasião e apenas superficialmente, mas havia achado-o um bom músico, e com uma personalidade boa. 
O rapaz chamava-se Edson, mas era apelidado, como : "Kiko". Eu o conhecera um pouco tempo antes, por fazer parte da banda de apoio do vocalista, Pituco Freitas, do Língua de Trapo, quando este fez um show solo no Teatro Objetivo, em 1980, e eu estive em sua  banda de apoio, juntamente. Apesar de mal conhecê-lo, ele aceitou o meu convite para entrar na banda, mesmo com a deixar clara a ressalva sincera de que o Rock e o Pop, não soava-lhe familiares, como o eram para nós. E eu nem sabia disso... mas com a ausência do Cido Trindade, que mais uma vez abandonara-nos, foi a melhor solução. 

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