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quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 60 - Por Luiz Domingues


Uma outra história ocorreu no final de 1980, um pouco antes da reformulação da banda com a entrada do Aru Junior. Foi em um Sarau improvisado que o Paulo Eugênio inseriu não o Terra no Asfalto, que estava parado oficialmente naquela fase da pré entrada do Aru Junior, mas de maneira informal, fomos a um sítio nas proximidades de Cotia, na Grande São Paulo, onde o objetivo foi apenas passarmos um final de semana recreativo. O local era de propriedade de amigos dele e assim, passamos um final de semana a jogar futebol em um campo oficial bem estruturado, e na noite do sábado, tocamos para entreter os convidados. Isso não fora uma novidade, pois nessa entressafra da banda na segunda metade de 1980, o Paulo já havia levado-nos para tocar informalmente de forma acústica, em festas particulares, promovidas por amigos dele.

Nessa ocasião do sítio, estávamos eu; Luiz Domingues; Geraldo "Gereba"; Wilson Canalonga Junior, e o Paulo Eugênio fez percussão e voz. A nota triste desse passeio foi que eu tive a infeliz ideia em jogar como goleiro durante o futebol vespertino, e ao fazer uma defesa, ao espalmar a bola (e imprudentemente sem usar luvas), machuquei meus dedos. anular e mindinho da mão esquerda.

Na hora, cheguei a pensar em tê-los fraturado, mas foi só o susto mesmo. Inchados e a doer bastante, prejudicou bastante a minha performance na Jam Session do sábado à noite. Não anotei isso como atividade oficial do Terra no Asfalto, pois foi muito informal mesmo. Apesar de haver ali cerca de trinta pessoas pelo menos a assistir e cantar etc e tal, aquilo fora só uma jam informal, portanto, não computei como uma apresentação oficial.
Isso deve ter acontecido por volta de outubro, pois o comentário da semana fora o show do Peter Frampton, no Ginásio do Ibirapuera, que estava para acontecer, ou já tinha ocorrido, não recordo-me direito. E um fato curioso, o Wilson  Canalonga Junior estava obcecado em aprender a executar o solo da música : "My Love", do Paul McCartney. Ficou a madrugada inteira a repetir incansavelmente aquele solo, ao ponto de sua namorada, Consuelo, brigar com ele, irritada com a repetição enjoativa. Se lembrar de mais histórias, mesmo com o capítulo encerrado, não hesitarei em reabri-lo para adendos. Feito isso, estou a chegar ao final da minha história com o Terra no Asfalto.
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sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 48 - Por Luiz Domingues


O próximo passo para o Terra no Asfalto, foi tocar novamente no Casablanca. Desta feita, foi uma festa organizada, para visar angariar fundos para uma campanha de solidariedade, denominada : "S.O.S. Mulher". Por conta disso, seiscentas e três pessoas, espremeram-se nas dependências da casa, e dançaram a noite inteira. Isso ocorreu em 8 de maio de 1981. Foi uma das nossas melhores apresentações, e inaugurou uma fase com participações em festas fechadas, bom sinal de que a nossa banda deixava boa impressão por onde tocava. No dia seguinte, e no posterior, voltamos ao Roda D'Água, com cento e cinquenta pagantes no dia 9, e apenas doze, para o dia 10 de maio de 1981, um domingo. 

Nessa fase, estávamos muito seguros, com bastante desenvoltura e praticamente a tocarmos automaticamente, com segurança. Não fazíamos música autoral, mas chegamos a ter reações parecidas com artistas autorais que saem em turnês, pois sabíamos sob antemão, as reações do público, aonde quer que tocássemos. Portanto, havia os momentos de pico de euforia; momentos mais calmos onde os namorados agarravam-se mais; hora para envolver-se com a música e bater palmas ao nosso ritmo... enfim, ocorreu como se fôssemos uma banda autoral, nesse aspecto.

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domingo, 1 de setembro de 2013

Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 40 - Por Luiz Domingues

E assim, o Cido Trindade apareceu, montou sua bateria e sem passar o som, tocamos todo o nosso repertório, sem problemas. Com pequenos erros, quase irrelevantes, fez uma ótima participação.
 

Ao ir além, ficou nítido para todos que ele havia proporcionado a banda, um enorme crescimento. Todos entreolhavam-se e riam, ao constatar o quanto o som da banda havia crescido com a sua presença. Foi por outro lado, uma infâmia, pois o Cido estava ali a atuar emergencialmente apenas, como substituto sob uma circunstância terrível, já que o baterista titular, Edson "Kiko" estava a convalescer de um acidente sofrido. E fora absolutamente recente, com o Kiko ainda a sentir as dores decorrentes do acidente de moto. 

Durante o intervalo, o guitarrista, Aru Júnior observou-me que a despeito da situação do Edson Kiko, não poderíamos ignorar o fato de que o Cido Trindade mostrava-se muito mais técnico e encaixara-se perfeitamente à banda, mesmo sem ensaios. -"imagine se ensaiasse", dizia-me entusiasmado, o Aru Júnior.  Ele foi o único entre nós, que não conhecia o potencial do Cido. Os demais, Paulo Eugênio e Wilson e eu incluso, estavam acostumados, após tantas apresentações do Cido conosco, em formações anteriores do Terra no Asfalto. Criou-se assim uma pressão terrível a partir desse mesmo dia, para efetivar o Cido na banda e isso denotava ser uma atitude muito desagradável em todos os sentidos, pelos aspectos éticos e morais. 

Tecnicamente, era óbvio que o Cido tinha mais condições, fora a bagagem pessoal no tocante à sua formação Rocker, coisa que o Edson não tinha. E o mais óbvio aspecto : era nosso amigo, desde longa data. Durante algumas apresentações, esse impasse colocou-se a crescer, enquanto o Kiko recuperava-se e naturalmente aspirava voltar o quanto antes a ocupar seu posto. Íamos visitá-lo, e esse clima desagradável entre nós, só crescia. Todos estavam fechados na ideia em efetivar o Cido, mas eu sentia-me muito mal com essa situação, principalmente pelo fato de eu ter sido responsável pela sua indicação à banda (ao referir-me ao Kiko), fora a questão dele ter ausentado-se graças a um acidente. Não que os outros não fossem sensíveis a tal situação, no entanto...
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Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 39 - Por Luiz Domingues



Tudo corria bem na banda, com apresentações seguras, datas novas a ser fechadas, e o clima bom na parte interna, entre os componentes. Com a aquisição recente de mais equipamentos, o nosso áudio também melhorou muito, e claro, isso animou-nos. 
Mas uma fatalidade imprevista acarretou um enorme susto, e posteriormente uma situação delicada, cujo desfecho foi desagradável, e embora injustamente imputado somente à minha pessoa, pois fora uma culpa coletiva, a verdade foi que eu saí chamuscado dessa história. Foi o seguinte : na apresentação do dia 13 de fevereiro de 1981, quando estávamos a prepararmo-nos para carregar a Kombi que alugávamos normalmente para transportar nosso equipamento, soubemos que o nosso baterista, Edson "Kiko", sofrera um acidente com a sua motocicleta. 
Por sorte, apesar da violência da colisão, ele sofreu escoriações e apenas uma luxação no pé, como consequência direta, pois poderia ter sido muito pior, e a moto também não estragou muito. Contudo, ficava obviamente impedido para tocar naquela noite, e talvez por mais algumas apresentações. Ficamos no impulso óbvio em cancelar prontamente a apresentação, mas ele mesmo insistiu para que procurássemos um substituto, e se alguém aceitasse, que fôssemos tocar, pois poderíamos perder a vaga no Bar 790. Então, o Paulo Eugênio pensou em três nomes imediatos : Edmundo, Luis Bola e Cido Trindade.
O Edmundo era velho amigo dele, e acompanhara o nascimento da nossa banda, Terra no Asfalto, pois sua casa foi o próprio berço desse nascimento, mas pesava-lhe contra, o fato por estar enferrujado, sem tocar há muito tempo. O Luis Bola nem foi mais citado, pois quando o Cido Trindade havia externado seu desinteresse, quando a banda voltou no final de 1980, este também declinara do convite. O Cido Trindade deveria ter sido o baterista oficial desde o início dessa volta das atividades da banda em dezembro de 1980, por ser da formação original, reconhecidamente preparado para assumir as baquetas do Terra no Asfalto, mas pesava contra, o fato de haver deixado-nos desamparados, recentemente, quando da reformulação da banda. Por que aceitaria agora ? Mas o Paulo Eugênio ligou, ele aceitou, e foi com sua bateria imediatamente. encontrar-nos no bar 790. Mesmo sem ensaiar, ele conhecia 99% do repertório e mesmo sujeito a erros pontuais, não haveria em proporcionar um vexame, de jeito nenhum.
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Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 38 - Por Luiz Domingues




Então, esse sujeito que chamava-se, Plínio, propôs-se a desmontar todo o nosso equipamento recém adquirido, e assim estabelecer um grande check up, para trocar possíveis peças estragadas, ao promover uma limpeza, enfim. Dissemos-lhe que não tínhamos condições para pagar-lhe por esse serviço, e que aguardasse então uma oportunidade melhor advinda dos nossos bolsos, mas ele insistiu muito nessa determinação em ajudar-nos, e que faria tudo gratuitamente, pelo prazer em ajudar, e se liberássemos sua entrada em uma apresentação nossa, nos bares em que tocávamos, como uma mera cortesia. 
O sujeito insistiu tanto, que realmente acreditamos no seu espírito altruísta e finalmente concordamos em deixar que ele ajudasse-nos com tal manutenção.
E de fato, tal como um carro usado que compramos e rapidamente encostamos em nosso mecânico de confiança para promover um check-up, realmente foi uma ajuda providencial. Sendo assim, o rapaz colocou a mão na massa. Em dois dias, desmontou tudo, checou todos os componentes eletrônicos, válvulas dos amplificadores, limpou e lubrificou tudo etc. Mas, por esquecer-se do que havia dito-nos anteriormente, quando apertou o último parafuso, para montar a última peça, apresentou uma conta, que tinha um valor absurdo ! E aí, rapidamente o clima amistoso transformou-se em uma discussão acirrada, com o tom a esquentar bastante, e mediante troca de insultos, até chegar-se sob um limite bem desagradável. Como resolução, o rapaz compareceu a uma dessas apresentações subsequentes, e teve sua entrada liberada conforme o combinado, contudo, na hora da sua saída do estabelecimento, quis debitar a enorme conta de consumação que fizera, em nossa conta.


Com a nossa recusa em assumir, visto que o combinado fora somente liberar o ingresso, o elemento lotou a sua "comanda", deliberadamente para tentar prejudicar-nos. Evidentemente, para rechear a comanda com marcações, ficou muito embriagado, e assim proporcionou um vexame na hora da saída, por recusar-se a pagar, e claro que o gerente da casa não quis nem saber do imbróglio. Lógico que teve de pagar, e saiu de lá a amaldiçoar-nos... resumo da história : o combinado não é caro, mas descumprir o acordo, fica muito oneroso.

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terça-feira, 27 de agosto de 2013

Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 37 - Por Luiz Domingues

 
Tocamos no dia 16 de janeiro de 1981, e repetimos a dose, no dia 17 de janeiro de 1981. Em ambas as apresentações, levamos cinquenta pessoas à casa, respectivamente. Nosso som encaixou-se bem ao tipo de público que ali comparecia, e o palco era bem mais espaçoso do que o do Barbarô, onde tocáramos com essa nova formação, durante o mês de dezembro de 1980. Voltamos ao "790", nos dias 17 (cinquenta pessoas presentes); 23 (setenta pessoas); 24 (cinquenta pessoas); 30 (sessenta pessoas) e 6 de fevereiro (quarenta pessoas). 
O clima na banda foi de animação, e o baterista, Edson "Kiko", apesar de não ser um Rocker inveterado como os demais, esforçava-se para ouvir as músicas e executá-las com a melhor desenvoltura possível. Ele era solícito e trabalhador, embora não tivesse uma grande técnica ao instrumento. Estávamos com uma sonoridade melhor ao vivo, também, graças ao equipamento recém adquirido. Mas ganhamos uma dor de cabeça extra. Com mini P.A., mesa de mixagem e seis caixas Palmer (ao estilo Marshall), tornou-se impossível transportarmos todo esse equipamento, em carros particulares. 

E em tese, nem poderíamos fazer isso, pois naquela época, só o Paulo Eugênio possuía um carro, a sua famosa Brasília preta. Eu nem sabia dirigir, e nem sonhava em ter um carro. Wilson, idem. O Aru Jr. também estava sem carro no momento, e às vezes aparecia com o carro de seu cunhado, emprestado, e o baterista, Edson "Kiko",circulava pela cidade, mediante uma moto. Sendo assim, passamos a ter uma despesa extra, ao sermos obrigados a alugar uma Kombi, toda vez em que fôssemos tocar.
Seria uma temeridade, pois na maioria esmagadora das vezes, arriscávamos tocar pela bilheteria da noite e dessa forma, corríamos o risco de em uma noite de movimento fraco, termos que pagar para tocar, literalmente. Mas esse fora o ônus do progresso, afinal de contas. 

Lembro-me de um fato curioso ocorrido nesse mês de janeiro, entre essas apresentações todas que citei. Conhecemos um sujeito que era irmão de um amigo do Paulo Eugênio, que muitas vezes alugara equipamento para tocarmos. O tal sujeito dizia-se técnico de equipamentos, e que realizava manutenção...
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Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 36 - Por Luiz Domingues

Logo que entrou o ano de 1981, a agenda do Terra no Asfalto mostrou-se lotada, ainda que o público nas apresentações, fosse diminuto. Tocamos novamente no Barbarô, nos dias 2 e 3 de janeiro de1981. No dia 2, contamos com apenas dez pessoas in loco, reflexo da ressaca do Reveillon, certamente. E no dia 3, foi pior ainda, com apenas duas pessoas presentes. Nessa apresentação do dia 3, tivemos um convidado especial : Gereba, ex-guitarrista do próprio Terra no Asfalto, que tocou um pouco conosco. 
O Sérgio Henriques estava novamente a desfalcar-nos. A gozar das férias da turnê da Elis Regina, recebera o convite, e fora tocar com Rita Lee & Roberto de Carvalho, na turnê do álbum, "Lança Perfume". Mas ele voltaria várias vezes a tocar conosco, nos intervalos da turnê, e antes de voltar a tocar com, Elis Regina, na turnê seguinte dela, que chamar-se-ia : "Trem Azul". Ainda em janeiro, surgiu uma oportunidade para reforçarmos o nosso equipamento. Uma banda de bailes, recém dissolvida, estava a liquidar todo o equipamento, e nós fomos dar verificar o que eles tinham a oferecer. 
Tratava-se de uma banda de Jundiaí, no interior de São Paulo, porém, uma cidade bem próxima da capital, com cerca de 50 Km de São Paulo. Lembro-me em irmos mediante o uso de trem, em uma terça-feira de janeiro, e uma vez no local de ensaio de tal banda, verificarmos que já haviam vendido quase tudo. No entanto, fechamos o negócio com o que ainda estava disponível, e assim compramos uma mesa com 12 canais; três amplificadores Palmer com duas caixas cada; uma potência; duas caixas de P.A. de frequências graves, e uma câmara de eco, da marca : Binson. 
Com esse equipamento e somado aos equipamentos próprios de cada um, melhoramos bastante as condições técnicas da banda. Ainda em janeiro, tocamos pela primeira vez em uma casa chamada : 790 (pronunciávamos : "sete, nove, zero"). Era uma casa que ficava localizada no bairro do Itaim-Bibi, zona sul de São Paulo, e com frequência predominante de casais jovens e bem abonados. Eu já havia tocado nessa casa com o Língua de Trapo, por ocasião do lançamento da Demo-Tape (fita K7 demo), primeiro registro gravado por essa banda. Tocaria bastante com o Terra no Asfalto, e faria um show de choque, com, A Chave do Sol, logo no início das atividades dessa banda, um ano depois, em 1982. E nossa estreia nessa casa, deu-se em 16 de janeiro de 1981, com cinquenta pessoas.
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Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 35 - Por Luiz Domingues

 

Como agradamos as donas do Bar, Barbarô, ficou acertado então que faríamos todas as sextas e sábados de dezembro nessa casa. Dessa forma, tocamos também nos dias 19 (cento e cinquenta pessoas presentes), 20 (cem), 26 (sessenta), e 27 (cinquenta). A cada apresentação, a banda azeitava mais a sua performance, para alcançar a sua segurança, com swing e dinâmica etc. Apesar de estarmos animados com a banda a atingir uma regularidade, o baque da semana fora forte antes da estreia, com a perda do John Lennon.
Foi na manhã de terça-feira, dia 9 de dezembro de 1980, que a notícia explodiu na imprensa : John Lennon estava morto, assassinado por um psicopata em Nova York. Naquela manhã, acordei cedo para ir ao dentista, e enquanto me arrumava no meu quarto, ouvi "Stand by Me", na versão do Lennon, ecoando na TV da sala. Achei estranho estar a tocar essa canção em um programa feminino e vespertino, como fora a "TV Mulher" da Rede Globo, e já intuí que alguma coisa ruim tivesse acontecido... 
O Paulo Eugênio contou-me que ouvira no rádio, também ao preparar-se para sair, e assim fora imediatamente à porta da pensão onde moravam Wilson e Gereba e os acordou com a buzina do carro. 
Todos sentimos, menos o baterista, Edson "Kiko", que realmente não era um Rocker como nós. Perder o Lennon desse jeito violento, logo ele que revelara-se um ativista pacifista, foi algo inacreditável, e deu mais força ainda aos ventos de baixo astral que traziam os anos oitenta, com todo aquele conceito estúpido em torno da destruição niilista, com a ideia do repúdio ao passado etc. A frase : "O Sonho Acabou", foi repetida na mídia à exaustão naqueles dias, e trouxe-nos uma melancolia enorme, uma verdadeira desesperança em termos de futuro.
Nós já tocávamos várias músicas da carreira solo dele, John Lennon, inclusive do último álbum lançado na época, "Double Fantasy", que mal acabara de chegar às lojas. Mas a vida prosseguiu, infelizmente, e sem nosso Working Class Hero...

Nos shows do dia 19 de dezembro, em diante, o tecladista, Sérgio Henriques, tocou conosco. Mesmo ao utilizar apenas um piano elétrico, e sem órgão ou sintetizador para reforçar, sua contribuição enriquecia demais o som do Terra no Asfalto.
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domingo, 4 de agosto de 2013

Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 33 - Por Luiz Domingues

E fomos então à apresentação dessa nova formação e fase do Terra no Asfalto. O bar, "Barbarô", havia passado por uma boa reforma e mudado de nome (era Le Café, anteriormente, como já mencionei). No dia da apresentação, a casa lotou. Claro, havia diversos convidados, amigos e parentes dos membros da banda, mas também um público convidado pelas donas do estabelecimento. Era na verdade um casal de lésbicas, coisa muito comum hoje em dia, mas em 1980, ainda causava estranheza e certos desconfortos para pessoas preconceituosas. Tanto foi assim, que nossos convidados, principalmente as meninas, contaram-nos que passaram por assédio no toillete do bar, ao ser assediadas por lésbicas, visto que o bar estava com um contingente grande de mulheres nessas características, provavelmente as amigas das donas do bar. Fora esse ligeiro desconforto, fomos bem tratados pela dona majoritária, chamada, "Paulette", e sua namorada. E a banda agradou em cheio. Como já havia comentado, nessa nova fase, perdemos um pouco a fúria Rocker dos tempos do Fernando "Mu", mas ganhamos em segurança, agora com o Aru Júnior, como lead guitar.
A primeira entrada iniciava-se com Soft Rock. A primeira música foi e continuou sempre a ser nas futuras apresentações : "Love Comes to Everyone", do então último LP de George Harrison. Uma balada leve e que fazia a banda flutuar, sob um início bem "soft" e sem agredir o público dos bares, geralmente formado por casais de namorados (nesse caso do Barbarô, namoradas...). A entrada seguia com mais Harrison, Paul e Lennon em baladas de suas carreiras solo, a acrescentar-se várias do James Taylor e Cat Stevens.

Só na parte final começava a esquentar com uma boa sessão de canções dos Beatles. Os vocais harmônicos e afinados do Paulo Eugênio, Wilson e Aru Jr., caiam muito bem em todas as canções. Em "Nowhere Man", dos Beatles, arrancavam suspiros das mesas, geralmente. Na segunda entrada, uma sessão com MPB, sob forte poder dançante, a cair sempre bem. E na parte final, Rocks mais vigorosos. Hora para tocarmos o material do Cream; Led Zeppelin, Grand Funk etc. E ao final, a depender do clima, mais peso ou não.
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Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 32 - Por Luiz Domingues


Com essa formação, o Terra no Asfalto alcançaria não só uma estabilidade, mas também uma linearidade musical. Se por um lado perdíamos a explosão Rocker do Fernando "Mu", e a espontaneidade do Geraldo "Gereba", com o Aru Junior, aparamos arestas e tornamo-nos uma banda toda correta, quase como se fosse uma orquestra, a seguir partituras e com um maestro no comando.

O lado bom disso, foi a tranquilidade. Tocávamos seguros, sem espaço para sustos. E como já disse anteriormente, com essa formação, privilegiou-se a atenção aos vocais.


Paulo Eugênio Lima, Wilson Canalonga Junior e Aru Junior, esmeraram-se nos ensaios vocais e belas harmonias foram firmadas. No repertório centrado no Soft-Rock, isso fazia a diferença, pois com os três a cantar bem afinados, e a estabelecer uma tríade harmônica, deram um verniz à banda. Outra característica dessa nova formação, foi a inclusão de temas progressivos. Com a entrada do Aru Junior, incluímos o som de bandas oriundas da escola do Rock Progressivo britânico, tais como : Yes, Genesis; Supertramp e Gentle Giant no repertório, por incrível que pareça.

Preparadas essas músicas todas, marcamos alguns ensaios com o novo baterista, Edson "Kiko", em sua residência, localizada no bairro do Pacaembu, zona oeste de São Paulo. Lembro-me que ele morava em um imponente casarão, na Rua Bahia, bem próximo do estádio do Pacaembu, região nobre da zona oeste. Ensaiávamos em um quarto isolado e bem amplo, em uma edícula da casa. Não havia nenhum tratamento acústico ali, mas a casa tinha um terreno tão grande, que o som que produzíamos não causava grandes transtornos à vizinhança. E além do mais, nossa rotina de ensaios estabeleceu-se no período da tarde, até o início da noite, no máximo. Portanto, nunca tivemos problemas com eventuais reclamações. Lembro-me de termos feito uma semana intensiva com ensaios, que realmente preparou a banda. 

O Paulo Eugênio, em meio aos seus contatos, fechou uma data em um bar que havíamos tocado anteriormente com o próprio, Terra no Asfalto, com uma formação bastante improvisada, em uma fase de entressafra da banda (já relatado na narrativa). Agora, havia passado por reforma e mudado de nome, de "Le Café", para "Barbarô". Marcada a data, sabíamos que seria no dia 12 de dezembro de 1980. 
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segunda-feira, 22 de julho de 2013

Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 30 - Por Luiz Domingues

 

E tais ensaios acústicos foram no apartamento do Aru Junior, na Vila Mariana, zona sul de São Paulo, e curiosamente, muito perto de onde eu moro hoje em dia (escrito em 2011, mas permaneço no mesmo endereço, em 2013...). Tenho logo de início, uma história curiosa sobre esses ensaios. Certo dia, eu estava a dirigir-me do bairro das Perdizes, onde a maioria dos componentes do Terra no Asfalto moravam, para a Vila Mariana, mediante o uso de um ônibus, acompanhado do Wilson.

Na metade da Av. Paulista, a conversa engrenou sobre a derrocada do Rock Brasileiro, visível em 1980, com a extinção da maioria das bandas setentistas. Falávamos em tom de lamento, e na altura da estação Paraíso do Metrô, percebemos que um rapaz negro, que estava sentado no banco da frente, estava a prestar atenção na nossa conversa. Ele não conteve-se e virou-se para interagir em nossa conversa. Não o reconheci em princípio, mas assim que identificou-se... 
Tratou-se do Pedrinho "Batera", baterista do Som Nosso de Cada Dia... mundo muito pequeno, e ele a ouvir uma conversa que dizia-lhe respeito, diretamente ! Falamos-lhe então, que éramos músicos e estávamos a dirigirmo-nos para o ensaio, mas não tratava-se de uma banda autoral, infelizmente. 

Ele também não estava em uma situação confortável, pois estava a sobreviver a executar covers pela noite, também. Mas a conversa não teve maior prosseguimento, pois quando ele abordara-nos incisivamente, nós já estávamos na altura da estação Paraíso do Metrô. Nós descemos no ponto da Galeria San Remo, ou seja, apenas três pontos adiante. Infelizmente foi só isso mesmo. Despedimo-nos, desejamos-lhe boa sorte, e fomos embora para a residência do Aru Junior. Só fui ter notícias do Pedrinho novamente, em 1983. Ele estava a tocar com um Power Trio bem "Hendrixiano", chamado "Trip". Não lembro-me quem eram os outros músicos, mas lembro de tê-los visto em uma edição do programa de TV, "A Fábrica do Som". Algum tempo depois, vi anúncio de shows em danceterias (em 1984), e nada mais. Mas a banda não prosperou, pois mostrava-se como um trabalho anacrônico. Fazer Acid Rock sessentista em 1983, foi um caminho aberto para receber uma saraivada de balas da "intelligentzia" reinante à época, com a maldita mentalidade niilista de repúdio ao passado... 
Muitos anos depois, fui ver um show "reunion" do Som Nosso de Cada Dia, no Centro Cultural São Paulo (em 1994). Algum tempo depois (1995), ele faleceu.
Continua...