segunda-feira, 22 de julho de 2013

Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 30 - Por Luiz Domingues

 

E tais ensaios acústicos foram no apartamento do Aru Junior, na Vila Mariana, zona sul de São Paulo, e curiosamente, muito perto de onde eu moro hoje em dia (escrito em 2011, mas permaneço no mesmo endereço, em 2013...). Tenho logo de início, uma história curiosa sobre esses ensaios. Certo dia, eu estava a dirigir-me do bairro das Perdizes, onde a maioria dos componentes do Terra no Asfalto moravam, para a Vila Mariana, mediante o uso de um ônibus, acompanhado do Wilson.

Na metade da Av. Paulista, a conversa engrenou sobre a derrocada do Rock Brasileiro, visível em 1980, com a extinção da maioria das bandas setentistas. Falávamos em tom de lamento, e na altura da estação Paraíso do Metrô, percebemos que um rapaz negro, que estava sentado no banco da frente, estava a prestar atenção na nossa conversa. Ele não conteve-se e virou-se para interagir em nossa conversa. Não o reconheci em princípio, mas assim que identificou-se... 
Tratou-se do Pedrinho "Batera", baterista do Som Nosso de Cada Dia... mundo muito pequeno, e ele a ouvir uma conversa que dizia-lhe respeito, diretamente ! Falamos-lhe então, que éramos músicos e estávamos a dirigirmo-nos para o ensaio, mas não tratava-se de uma banda autoral, infelizmente. 

Ele também não estava em uma situação confortável, pois estava a sobreviver a executar covers pela noite, também. Mas a conversa não teve maior prosseguimento, pois quando ele abordara-nos incisivamente, nós já estávamos na altura da estação Paraíso do Metrô. Nós descemos no ponto da Galeria San Remo, ou seja, apenas três pontos adiante. Infelizmente foi só isso mesmo. Despedimo-nos, desejamos-lhe boa sorte, e fomos embora para a residência do Aru Junior. Só fui ter notícias do Pedrinho novamente, em 1983. Ele estava a tocar com um Power Trio bem "Hendrixiano", chamado "Trip". Não lembro-me quem eram os outros músicos, mas lembro de tê-los visto em uma edição do programa de TV, "A Fábrica do Som". Algum tempo depois, vi anúncio de shows em danceterias (em 1984), e nada mais. Mas a banda não prosperou, pois mostrava-se como um trabalho anacrônico. Fazer Acid Rock sessentista em 1983, foi um caminho aberto para receber uma saraivada de balas da "intelligentzia" reinante à época, com a maldita mentalidade niilista de repúdio ao passado... 
Muitos anos depois, fui ver um show "reunion" do Som Nosso de Cada Dia, no Centro Cultural São Paulo (em 1994). Algum tempo depois (1995), ele faleceu.
Continua...

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