terça-feira, 16 de julho de 2013

Meu Mundo e Nada Mais, Adeus Lady Distraída! - Por Marcelino Rodriguez


Lady Distraída diz que não tem ligação nenhuma comigo. 


Sou para ela, ago assim como um zero a esquerda, um rato 

de esgoto. 


Um ensaio de fracasso, um subtítulo de poesia panamenha.


Fico parado olhando a boca da noite que chega, e os 

automóveis passam como se me vaiassem. 


Ela não sente por mim, que lhe tenho afeto, nem 

compaixão. 


Seu espírito privilegiado nunca me encontrou em 

encarnação alguma, diz-me como se eu fosse um inseto de 

lixão. 


Senti-me desamparado da minha humanidade.


Deu vontade de dizer-lhe que o budismo tibetano diz que 

temos e tivemos tantas vidas, que todas as criaturas foram 

nossas mães. 


Mas isso ia demandar tempo, e Lady Distraída 

estava inflexível, sem querer facilitar nenhuma migalhinha de 

afeto. 


Esses espíritos evoluídos sempre me surpreendem.


Sempre que bebo essas desilusões humanas, tenho 

saudade do meu Labrador Buda, que deve estar 

percorrendo os imensos desertos do paraíso. 


Aliás, peguei uma neurose esquisita, mais uma, ao ficar 

imaginando se esta ou aquela pessoa iria para o paraíso. 


Meu Deus, dai-me no céu apenas uma chácara solitária. 


Fico apavorado, fora uma meia dúzia de gente que me ama,

de encontrar gente no paraíso.


Não consigo conceber os Anjos deixando passar noventa e 

cinco por cento das pessoas desse mundo.

Lady Distraída nem deixou eu argumentar que eu tenho um 

futuro brilhante na literatura e que a academia sueca me 

dará o Nobel, daqui a algumas dezenas de anos. 


Eu não brilho para ela.


Para Lady Distraída, eu sou uma mala, e para alguns outros,

mala e para milhões, talvez bilhões nada.

E dizem que Jesus morreu por mim. Misericórdia! 


Apavora-me pensar as multidões infinitas que habitarão o 

inferno!


Lady Distraída poderia ao menos dispensar-me com 

elegância, dizendo que sou um bom rapaz e depois 

mandava o pé na bunda, com classe. 


Eu ainda ficaria agradecido, como o Cornélio da TV do 

Ceará, que a mulher vende marmita para fora e ele elogia 

sua atenção aos fregueses, o cândido Córnélio. 

Sim, eu vejo nas Garras da Patrulha.

 
Lady Distraída jogou o meu resto de ego no esgoto. 


Literalmente, surfando na merda.

Só me resta ouvir Guilherme Arantes e tomar um cafezinho. 


Fracassar para mim não é novidade nenhuma. É quase um 

mantra. 


Uma religião.


Medito constantemente sobre o tema. E tenho um talento 

robusto que se dispensa provas.

A surpresa vai ser quando descobrirem por acaso, que sou 

apenas um gênio incompreendido. 


Quanto a Lady, Distraída, só me resta fazer dela, por 

enquanto, um personagem de comédia. 


E pedir a Deus que a livre das chamas eternas, por fazer 

um poeta passar essa cena de filme B, com a frase:

“Não tenho nenhuma ligação contigo”.




Marcelino Rodriguez é colunista esporádico do Blog Luiz Domingues 2.  Escritor de vasta e consagrada obra, aqui   nos apresenta a continuação de uma crônica muito divertida, sobre uma certa   dama, que insiste em manter-se alheia aos sinais que a vida lhe apresenta... 

Nenhum comentário:

Postar um comentário