segunda-feira, 22 de julho de 2013

Autobiografia na Música - Trabalhos Avulsos (Viúva Negra) - Capítulo 54 - Por Luiz Domingues


Assim que saí definitivamente d'A Chave (sem sol...), cheguei a conversar com o Hélcio Aguirra, sobre estar disponível, e a desejar iniciar um novo projeto, ou mesmo a entrar em algum trabalho já iniciado. Mas a rigor, foi a minha única ação no sentido de procurar algo, deliberadamente, pois não passou muito tempo, e começou a aparecer convites, de uma forma espontânea.
Nesse período, entre março / abril de 1990, até o final do ano de 1991, surgiu vários, que descreverei, a seguir. Muitos, não saíram de uns poucos ensaios, mas renderam histórias. Nesse contexto, a primeira história é sobre um quarteto Hard / Heavy que convidou-me para conhecer o seu som, e que chamava-se : "Viúva Negra".  
O convite partiu de um ótimo guitarrista, que eu já conhecia há tempos, chamado, "Lippo" (Filippo Baldassarini). 
Ele havia tido uma passagem relativamente longa pelo Made in Brazil, além de outros trabalhos. Era (é) mais velho do que eu, e tinha uma bagagem muito boa contraídas pela sua vivência nos anos setenta, que eu admirava muito.
Entre outras histórias, contou-me que fora Hippie, em 1970, e que saíra de casa para viver esse sonho de ser músico etc e tal, ao cair na estrada com uma guitarra, e a mochila nas costas, a buscar carona nas estradas por aí, na mesma vibração do filme : "Easy Rider". No entanto, ao falar dessa banda que estava a montar em 1990, infelizmente, a proposta não seria fazer um som retrô, como eu gostaria. Essa banda que estava a montar, Viúva Negra, mostrava-se orientada pelo som pesado, ao estilo Hard- Rock / Heavy-Metal 80's, e o som não agradou-me. No dia em que fui visitá-lo em sua casa, o vocalista estava presente. 
Não lembro-me de seu nome, mas recordo que usou diversos argumentos para convencer-me a entrar na banda, ao enaltecer a poética das letras, seus estudos no campo do canto lírico etc. Ele chegou a cantar, acompanhado do Lippo à guitarra (com o instrumento desligado) e ao empolgar-se, estabeleceu um gestual como se estivesse em um palco etc. Os rapazes foram gentis e gostei de ver o entusiasmo que tinham pelo trabalho, mas fui sincero, e disse-lhes que não gostava de Hard-Rock e Heavy-Metal dos anos 1980, e que havia saído da "Chave", justamente por esse caminho ter sido adotado.
 
Minha intenção seria fazer um trabalho baseado nas estéticas dos  anos 1960 / 1970, minha paixão, e ao receber o convite do Lippo, achei que talvez houvesse essa possibilidade, pelo fato dele ter essa origem pessoal em torno da contracultura sessenta / setentista, também. Mas diante dos fatos, fui obrigado a declinar do convite.
Uma grande pena, pois o Lippo era (é) um guitarrista muito bom, e em condições de criar coisas bem significativas, além de ser muito agradável para conviver e trabalhar, e estar com vontade em empreender um novo trabalho. Muitos anos passaram-se e com o advento das redes sociais, reencontramo-nos no Facebook, em 2012.
Conversamos diversas vezes e ele contou-me que voltara para a Itália (o Lippo é italiano legítimo, embora tenha vindo pequeno para o Brasil e crescido no interior de São Paulo, portanto, fala português sem sotaque algum), onde fez muitos trabalhos, tanto autorais, quanto tributos e bandas cover, além de atuar como side man de artistas da música italiana popular. Fiquei contente em saber disso, e a amizade prossegue.
Continua... 

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