quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 41 - Por Luiz Domingues



Claro, não estou afirmar isso, mas, digamos que eles pensaram mais friamente no melhor para a banda, sem deixar-se levar pelo sentimentalismo daquela situação. Não lembro-me ao certo a data onde tivemos que conversar com o Edson Kiko, mas esse dia chegou, e na reunião fatídica, realizada em sua residência, a incumbência maldita estourou em minhas mãos, lamentavelmente. 

Sob um clima constrangedor, fui eu o designado a falar, e assim, senti-me terrivelmente mal por encará-lo e dizer-lhe que chegáramos à conclusão de que o melhor para a banda seria manter o substituto, Cido Trindade, no posto, a despeito dele, Kiko, ter recuperado-se. Aquele silêncio constrangedor enquanto eu falava a gaguejar, foi horrível. O Kiko ficou bravo. Teve toda a razão por sentir-se traído; humilhado; desprestigiado, etc. Além do fato de que mesmo não por não ser um simpatizante dos nossos ideais na música, teve toda a força de vontade para adequar-se à banda e ao repertório, emprestara a sua casa para ensaios, ajudou-nos financeiramente na aquisição de equipamento, em uma compra recente, e acidentara-se, lamentavelmente. Alguns minutos depois, menos exaltado, ele disse-nos que tudo bem, sobreviveria e desejava-nos boa sorte, ao ponderar que realmente não era um Rocker, e que pretendia tocar outro material que gostava, na MPB e música instrumental, música étnica etc. 
E o pior, foi quando ao dirigir-se especificamente à minha pessoa, afirmou estar muito desapontado comigo. Aquilo cortou-me o coração, pois justamente eu, fui o que mais relutei com essa atitude, justamente por ter considerado essa situação como uma questão antiética e abominável. Mas aos olhos dele, fui diretamente culpado pois ele deve ter considerado que pelo fato de eu ter tomado a palavra, fora o mentor da ideia. Conclusão : assumo a minha parcela de culpa nessa história, pela falta de empenho em ter brigado mais pela causa do Kiko, quando surgiu esse movimento interno na banda. 

Essa foi uma mácula que criei na minha carreira, e humano que sou, estou sujeito a erros, como todo mundo. Pedi desculpas a ele naquele momento, mas foi algo praticamente imperdoável, convenhamos. Três ou quatro anos depois, eu estava já com A Chave do Sol a conquistar uma certa proeminência na mídia, e soube de uma notícia dele. Edson "Kiko" estava a tocar em um projeto ligado à música étnica, algo relacionado com música africana. Acho que foi mesmo a sua predileção, por apreciar a dita, World Music. Espero que esteja bem, e se souber deste relato meu, aproveito e registro mais uma vez, o meu sincero pedido de desculpa.



Continua... 

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