sábado, 2 de novembro de 2013

Autobiografia na Música - Língua de Trapo - Capítulo 117 - Por Luiz Domingues

Alguns dias depois, voltaríamos a fazer o show nos moldes em que estávamos mais habituados. Fomos à cidade de Campinas / SP, e apresentamo-nos no Centro de Convivência, daquela gigantesca cidade interiorana. Tratava-se de um belo e amplo centro cultural, muito bem localizado, no bonito bairro do Cambuí, centro de Campinas / SP. O palco era muito grande e as condições cenotécnicas, excelentes, portanto, ideais para o show completo, com todos os recursos teatrais disponíveis para nós. 
Lembro-me que os shows foram ótimos, com grande presença de público e sobretudo, com sucesso, pois fomos muito aplaudidos, após duas horas marcadas pelas risadas frenéticas, da parte das pessoas. 
Nesse teatro, costumava apresentar-se e ensaiar, a orquestra sinfônica da cidade, e alguns camarins ficavam trancados, com os instrumentos dos músicos, ali guardados. O primeiro show ocorreu no dia 23 de maio de 1984, com a presença de seiscentas pessoas, aproximadamente. E no segundo dia (24 de maio de 1984), cerca de oitocentas pessoas passaram pela bilheteria. 
Após o término desse segundo show, eu deveria ter voltado com a banda para São Paulo, mas empolguei-me em ficar por conta de uma companhia feminina que surgiu. Combinamos em sair, e ela sugeriu que fôssemos à casa de um casal, amigo dela, e eles mostraram-se simpáticos e dispostos a proporcionar-nos uma noite com música, a ouvirmos vinis, prosear e oferecer um espaço privativo, a posteriori. Mas o clima não aconteceu e após várias negativas da parte da menina, convenci-me que ficaríamos só no convívio social amigável, e nada mais. 
Até aí, tudo bem, pois o ambiente da casa mostrara-se agradável na sala de estar, com a sessão de vinis a rodar na vitrola, constituir-se de fundo sonoro. Mas em um dado momento, o namorado da outra moça, e dono da casa, engatou uma conversa sobre o Rock e já alterado pela ingestão de vinho e cerveja, passou a insistir na tese que o Rock norteamericano era um tipo gênero menor etc e tal. Tentei contra-argumentar ao citar alguns artistas munidos por qualidade que negariam tal visão radical da parte dele, mas foi nítido que estava alterado, e procurava pelo embate, quando pensei : -"estou na casa de um estranho; cercado de outras estranhas, e num bairro longe do centro de Campinas. Era duas ou três horas da manhã, e eu estava a pé, e não saberia dirigir-me à rodoviária da cidade"... em nenhum momento a conversa descambou para isso (o embate), mesmo por que, o casal foi extremamente simpático e hospitaleiro, mas não arrisquei cravar opinião contrária naquela circunstância... 
Mas o mais maçante mesmo, foi quando o rapaz, na sua empolgação em querer provar a sua tese, quis mostrar-me um exemplo de um artista que despontava naquele momento.Até então, estávamos a ouvir bons discos de MPB setentista e portanto, estava muito agradável, mas quando ele cismou com essa história, foi buscar o LP do cantor : "Byafra". 
Aquela canção que tocava muito nas rádios da época, e que tratava-se de uma balada açucarada e com letra piegas, aborreceu-me com bastante vigor, naquela madrugada. Bem, passado esse martírio, deu para cochilar um pouco, até que por volta das 5:00 horas da manhã, tomamos um café, e os três levaram-me à rodoviária. Noite estranha, no sentido em que não corri riscos, não fui hostilizado, e pelo contrário, fui bem tratado por essas pessoas, contudo, por outro lado, primeiro frustrei-me com a garota que desistiu no momento decisivo, e depois tive que aguentar o "Byafra". Foi assim a passagem do Língua de Trapo por Campinas / SP, em maio de 1984.


Continua...  

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