Alguns dias depois, voltaríamos a fazer o show nos moldes em que
estávamos mais habituados. Fomos à cidade de Campinas / SP, e apresentamo-nos no Centro de Convivência, daquela gigantesca cidade
interiorana. Tratava-se de um belo e amplo centro cultural, muito
bem localizado, no bonito bairro do Cambuí, centro de Campinas / SP. O palco
era muito grande e as condições cenotécnicas, excelentes, portanto,
ideais para o show completo, com todos os recursos teatrais disponíveis
para nós.
Lembro-me que os shows foram ótimos, com grande
presença de público e sobretudo, com sucesso, pois fomos muito
aplaudidos, após duas horas marcadas pelas risadas frenéticas, da parte das pessoas.
Nesse
teatro, costumava apresentar-se e ensaiar, a orquestra sinfônica da
cidade, e alguns camarins ficavam trancados, com os instrumentos dos
músicos, ali guardados. O primeiro show ocorreu no dia 23 de maio de
1984, com a presença de seiscentas pessoas, aproximadamente. E no segundo dia
(24 de maio de 1984), cerca de oitocentas pessoas passaram pela bilheteria.
Após
o término desse segundo show, eu deveria ter voltado com a banda para
São Paulo, mas empolguei-me em ficar por conta de uma companhia feminina que surgiu. Combinamos
em sair, e ela sugeriu que fôssemos à casa de um casal, amigo dela, e
eles mostraram-se simpáticos e dispostos a proporcionar-nos uma noite com
música, a ouvirmos vinis, prosear e oferecer um espaço privativo, a
posteriori. Mas o clima não aconteceu e após várias negativas
da parte da menina, convenci-me que ficaríamos só no convívio social
amigável, e nada mais.
Até aí, tudo bem, pois o ambiente da casa
mostrara-se agradável na sala de estar, com a sessão de vinis a rodar na vitrola, constituir-se de fundo
sonoro. Mas em um dado momento, o namorado da outra moça, e dono da casa,
engatou uma conversa sobre o Rock e já alterado pela ingestão de vinho e
cerveja, passou a insistir na tese que o Rock norteamericano era um tipo gênero menor etc e
tal. Tentei contra-argumentar ao citar alguns artistas munidos por qualidade que negariam tal visão radical da parte dele, mas foi nítido
que estava alterado, e procurava pelo embate, quando pensei : -"estou na casa de
um estranho; cercado de outras estranhas, e num bairro longe do centro de
Campinas. Era duas ou três horas da manhã, e eu estava a pé, e não saberia dirigir-me à rodoviária da cidade"... em nenhum momento a conversa
descambou para isso (o embate), mesmo por que, o casal foi extremamente simpático e
hospitaleiro, mas não arrisquei cravar opinião contrária naquela
circunstância...
Mas o mais maçante mesmo, foi quando o rapaz, na
sua empolgação em querer provar a sua tese, quis mostrar-me um exemplo de
um artista que despontava naquele momento.Até então, estávamos
a ouvir bons discos de MPB setentista e portanto, estava muito agradável, mas
quando ele cismou com essa história, foi buscar o LP do cantor : "Byafra".
Aquela
canção que tocava muito nas rádios da época, e que tratava-se de uma
balada açucarada e com letra piegas, aborreceu-me com bastante vigor,
naquela madrugada. Bem, passado esse martírio, deu para cochilar
um pouco, até que por volta das 5:00 horas da manhã, tomamos um café, e os
três levaram-me à rodoviária. Noite estranha, no sentido em que
não corri riscos, não fui hostilizado, e pelo contrário, fui bem tratado
por essas pessoas, contudo, por outro lado, primeiro frustrei-me com a
garota que desistiu no momento decisivo, e depois tive que aguentar o "Byafra". Foi assim a passagem do Língua de Trapo por Campinas / SP, em maio de 1984.
Continua...
Neste meu segundo Blog, convido amigos para escrever; publico material alternativo de minha autoria, e não publicado em meu Blog 1, além de estar a publicar sob um formato em micro capítulos, o texto de minha autobiografia na música, inclusive com atualizações que não constam no livro oficial. E também anuncio as minhas atividades musicais mais recentes.
sábado, 2 de novembro de 2013
Autobiografia na Música - Língua de Trapo - Capítulo 117 - Por Luiz Domingues
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