quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Autobiografia na Música - Língua de Trapo - Capítulo 125 - Por Luiz Domingues


Passada essa aventura estranha ocorrida no "Clube das Bandeiras", o nosso próximo compromisso seria na cidade de Ribeirão Preto, no interior do estado de São Paulo. Eu tinha (tenho), laços afetivos com essa cidade, por ser a terra da minha mãe; meus avós maternos ter morado lá, e possuir tios e primos a viver lá, desde sempre. Fui passar férias e feriados nessa cidade, muitas vezes na infância, e cheguei a morar lá, por quase um ano, no início da adolescência, em uma aventura interiorana que durou pouco, pois a minha família voltou à São Paulo, definitivamente, logo a seguir. 

Sendo assim, eu tencionava convidar os meus primos e primas para o show, que seria realizado em um espaço de shows, bem charmoso da cidade, inclusive com tradição Rocker, por que, por exemplo, Os Mutantes ali apresentou-se em vários momentos da carreira, e curiosamente ali ocorrera o seu último show, em 1978, antes dessa "volta" esquisita dos anos 2000. 

Enfim, tratava-se do Teatro de Arena, da "Cava do Bosque", uma bela concha acústica ao ar livre, cercada por arquibancadas, bem ao estilo grego clássico. Localizada em um belo espaço da cidade, a Cava do Bosque, parte alta da localidade, e de fato, dentro de um bosque bem cuidado, equipamento gerido pela municipalidade, com outras atrações, além desse espaço para shows. Viajamos no dia, e a intenção seria empreender um "bate e volta", apesar dessa cidade estar distante, por trezentos e vinte Km de São Paulo, ou seja, não é perto. Fomos como de costume, no uso de ônibus comercial, sem problemas.

Estávamos acostumados em tal dinâmica para viajar sa carregar apenas os instrumentos, e cada um a responsabilizar-se pelo seu figurino de cena. E sempre tocávamos a utilizar os amplificadores e bateria, alugadas, fora os teclados, P.A. e luz. Chegamos à Ribeirão Preto, fomos direto para o Teatro de Arena, e a produção local estava bem azeitada. Tudo estava montado e à nossa disposição para o soundcheck. Foi bem apressado, por que o show ocorreria por volta das 18:00 horas, ou seja, sem luz, pelo menos no início do espetáculo, que ocorreria no crepúsculo. Foi um show ótimo, com seiscentas pessoas presentes, praticamente a lotar todos os espaços na arquibancada, e com uma plateia bem jovem, com estudantes universitários, em sua maioria. Como foi corrido, não tive tempo para avisar os meus parentes que ali moravam. Posteriormente, puxaram-me as orelhas por eu não haver avisado previamente, e como a divulgação na cidade fora restrita ao circuito universitário, passou despercebido para a maioria, a não ser o meu tio, que notou, ao ler uma nota, em um dos jornais locais. 

O show gerou uma euforia quase ao nível de um show de Rock. Ao final, como tratava-se de um espaço ao ar livre, o assédio da parte dos caçadores de autógrafos, foi grande, e lembro-me do vocalista, Pituco Freitas ter aproveitado-se dessa situação para fazer uma performance engraçadíssima. Fora uma "metapiada", mas nem todo mundo que esteve ali a solicitar-nos autógrafos, percebeu a sua intenção, e assim, instaurou-se um clima estranho para alguns. Foi hilário, e nós estávamos acostumados a esses improvisos pós-show da parte dele, mas geralmente as pessoas que não sabiam disso, e  abordavam-nos em bastidores, ficavam surpreendidas. Geralmente o Paulo Elias, ator, emendava alguma coisa nesse sentido também. Ele também era bom com improviso, e muito brincalhão nos bastidores da banda (sempre), e assim, criava algo inusitado, para arrancar-nos gargalhadas. Bem, foi o dia 27 de junho de 1984, e assim foi a nossa apresentação no Teatro de Arena de Ribeirão Preto, perante seiscentos jovens entusiasmados com o show, e sob o crepúsculo interiorano. Faltavam poucos passos para a minha despedida na banda e o coração apertou...
Continua...

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