domingo, 3 de novembro de 2013

Autobiografia na Música - Língua de Trapo - Capítulo 119 - Por Luiz Domingues

A próxima temporada no Rio de Janeiro, seria mais curta do que a que realizáramos em abril, e também ficaríamos hospedados em outro lugar. Desta feita, fomos cumprir shows em um espaço diferente. Tratou-se de um Circo, charmoso e muito bem localizado, no bairro da Gávea, na zona sul do Rio.

Seus organizadores certamente queriam fazer dele, um espaço concorrente do famoso, Circo Voador (tarefa difícil, convenhamos, pois o Circo Voador era um sucesso absoluto e estava sedimentado no espectro cultural do Rio de Janeiro). E nesse aspecto, os esforços que faziam para tornar tal espaço bem sucedido, foram notáveis. A estrutura apresentada, mostrou-se com qualidade, a apresentar som e luz de primeira. A localização, excelente, sem dúvida. E a infraestrutura, tanto para o artista, quanto para o público, muito boa. A nossa viagem para o Rio, também foi digna de nota. O Jerome inovou e ao invés de irmos mediante ônibus de linha, como da vez anterior, ele comprou passagens ferroviárias. 
A histórica linha noturna entre São Paulo e Rio, estava ainda em atividades. Mesmo em vias de finalizar as suas atividades (infelizmente !), a chamada : "Linha de Prata", ainda tentava manter o charme do passado, ao contar com o famoso, "Carro Pullman", uma espécie de "lounge" sobre trilhos; confortável e com muitas mordomias. E tirante o Carro Restaurante, com a sua comida a observar a qualidade gastronômica como uma tradição e garçons experientes, que pareciam malabaristas por carregar bandejas cheias, naquele sacolejar típico do trem.
Ficamos divididos em duplas nas cabines, bastante confortáveis e quando reagrupamo-nos para jantar em movimento, encontramo-nos com os membros do Barão Vermelho, que voltavam ao Rio, após uma semana de shows em São Paulo, e a estabelecer o movimento inverso ao nosso. Menos o Cazuza, que segundo ouvimos, havia voltado antes ao Rio, por avião. Chamou a atenção a companhia feminina voluptuosa, que acompanhava o baterista do Barão Vermelho.

Ao circular pelos compartimentos com uma mulher espetacular, não houve quem não reparasse na sorte do rapaz. Minha autobiografia é leve. Evito revelar episódios constrangedores que possam expor pessoas, mesmo em situações engraçadas. Mas mesmo assim, não resisto em contar que o meu amigo, Paulo Elias, foi um dos mais animados nessa viagem. 

Pois ele empolgou-se com as possibilidades etílicas, oferecidas nos carros restaurante e Pullman, e ficou bem alegre. Quando chegou à cabine que dividia comigo, foi arrumar o seu leito e do jeito que começou a arrumar a coberta, capotou, como se tivesse sido desligado da tomada... 

Quando eu acordei, horas depois, abri a janela da cabine e verifiquei que já era dia amanhecido e estávamos por atravessar a baixada fluminense, quase a chegar ao Rio de Janeiro. Levantei-me e quando olhei no leito que ele ocupava, eis que verifico que ele permanecera exatamente na mesma posição em que apagara, horas antes, ou seja, além da ressaca, temi que tivesse problemas musculares ao longo do dia, após um castigo desses na sua coluna cervical. Desembarcamos na Estação Central do Brasil, por volta das 8:00 horas da manhã, em meio à ebulição rotineira que ocorre em um horário desses, naquela enorme estação da capital fluminense. Atordoados com a multidão, apanhamos táxis e fomos direto para o apartamento que o Jerome alugara para nós, desta feita, no bairro de Ipanema, na zona sul do Rio de Janeiro.

Continua...

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