segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Autobiografia na Música - Língua de Trapo - Capítulo 122 - Por Luiz Domingues


Não deu outra, no show subsequente, tivemos ainda mais público. Foi mais um show com a energia habitual do Língua de Trapo, mediante muitas risadas e com o público a sair satisfeito, ao seu término. Nessa noite, após o show, estavam todos cansados, e assim, voltamos ao apartamento de Ipanema.
Infelizmente, foi a noite em que eu escolhi para comunicar à banda, a minha decisão de deixá-la, visto que estava insustentável permanecer em duas bandas autorais, simultaneamente. Já estava a ensaiar para falar com todos, e foi muito difícil, mesmo que, subliminarmente, eles soubessem tratar-se de uma decisão que mais cedo ou mais tarde, ocorreria. Desde o início, quando fui convidado a voltar, deixei claro que não deixaria  a minha outra banda, "A Chave do Sol", pois o meu lado Rocker era (é) muito forte, e tal banda fora um trabalho que ajudei a fundar, além do que, após um longo período sob dura labuta, começara a frutificar. O chato, foi que eu também era um membro fundador do Língua de Trapo, gostava do trabalho, e já tinha um histórico de saída, quando de minha primeira passagem. 
Portanto, o sentimento em relação ao Língua de Trapo, revelava-se igualmente forte, por eu possuir raízes nessa banda. Mais que isso, houve a agravante de que eu tinha uma ligação fraternal e de fé, com o Laert Sarrumor pelo fato de nós termos começado nossa carreira juntos, em nossa primeira banda de garagem, o Boca do Céu. Sendo assim, tornara-se muito difícil ter que comunicar a minha decisão, principalmente ao Laert, que eu sabia que ficaria chateado. Tomei coragem e falei após o show dessa noite, no apartamento que ocupávamos em Ipanema. O clima ficou desolador, pois mesmo ao saber dessa possibilidade desde o início de minha volta, muitos da banda acharam que com o tempo e a agenda forte; exposição na mídia e prestígio muito maior do Língua de Trapo na cena, naturalmente, eu mudaria de ideia e continuaria na banda, muito provavelmente ao estabelecer o caminho inverso, ao deixar "A Chave do Sol", banda que era apenas uma promessa, aos olhos deles. Bem, desde que voltei ao Língua de Trapo, foi uma época marcada pelos melindres das duas partes e eu fiquei sob uma situação delicada, literalmente, ao ficar em duas bandas, e agora precisava optar, pois ambas pressionavam-me em favor da exclusividade, e na verdade, tratou-se de uma aspiração legítima da parte de ambas. 
Infelizmente, o clima que ficou pesado com o meu comunicado, piorou, mas por outro evento que não teve nenhuma relação com esse comunicado de minha parte. Uma desavença entre dois componentes do Língua de Trapo (não revelarei nomes, para não expor ninguém, e também por ser irrelevante contar o motivo fútil desse evento, para essa narrativa, e ao ir além, algumas horas depois, eles já haviam feito as pazes...), tornou-se uma discussão mais acalorada e quase avançou às vias de fato, em seu auge. Essa desavença desviou, certamente, o impacto criado pelo meu comunicado, mas essa questão ficaria na berlinda doravante, nos meu últimos dias como membro do Língua de Trapo, infelizmente. Quanto ao show do dia, no Circo Planetário, foi bom, com trezentas pessoas computadas na plateia, e ocorreu no dia 9 de junho de 1984.

Continua... 

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