domingo, 3 de novembro de 2013

Autobiografia na Música - Língua de Trapo - Capítulo 118 - Por Luiz Domingues


O próximo show foi uma data avulsa no Teatro Municipal de Santo André, no ABC paulista. Foi no dia 25 de maio de 1984, e seiscentas pessoas lotaram as dependências do bonito teatro daquela cidade da grande São Paulo. Nenhuma ocorrência excepcional que eu lembre-me, sobre esse show, que ocorreu dentro da normalidade. Talvez valha a pena contar apenas uma piada interna, ocorrida dentro da Kombi que levou-nos à Santo André. Omitirei nomes, mas deixo claro que o autor da piada, o fez mesmo com a intenção da pilhéria, portanto, eu até poderia revelar o seu nome e o do outro elemento, que foi satirizado por ele, mas melhor não fazê-lo...

A kombi estava lotada. Toda a comitiva do Língua de Trapo estava a bordo, mas faltava um elemento. Parada na porta de sua casa, aguardávamos a sua saída, quando no afã em dar-nos uma satisfação, seu o pai apareceu no portão e disse-nos : -"ele está quase pronto, só mais um minutinho, por favor"... o silêncio era total dentro do veículo, quando um dos membros do Língua de Trapo soltou uma frase desconcertante, e que despertou uma epidemia de gargalhadas. O que ele disse foi : -"Ah, então esse é o pai dele ?  Pois é o culpado de tudo... por quê não masturbou-se naquela maldita noite"...?

E quando o nosso companheiro apareceu, enfim, no portão de sua casa, a pedir-nos desculpas pelo atraso, despertou-nos ainda mais risadas, ao deixar-lhe atônito...   

Uma nova investida pelo interior de São Paulo, viria a seguir. O Língua de Trapo seria a atração principal de um Festival de MPB universitário, na cidade de Paraguaçu Paulista, no oeste do estado. Foi interessante pelo lado emocional, digamos, sermos a atração principal em um festival de MPB, pois o começo da banda foi marcado por várias participações em festivais, mas naquela ocasião, como concorrente, no início da carreira, no período entre 1979 e 1980, principalmente. Pelo lado prático, teria que ser um show de choque, pois não haveria estrutura para fazer o show inteiro e tradicional, já que na confusão típica de um festival, não haveria meios para tal. 

Seriam duas noites, e na outra, a atração seria a Cida Moreira, sensacional pianista / cantora / compositora e atriz, que eu particularmente admirava por fazer seus shows calcados em Blues; Jazz; MPB da Velha Guarda, e trilhas de cinema.
E naquela época, estava em pleno vapor, a filmar bastante, por atuar como atriz em filmes que hoje em dia eu possuo em minha coleção de DVD's, como "Onda Nova", por exemplo, um filme tão horrivelmente "anos 1980", que eu gosto, por absoluta birra. Lembro-me que tivemos um problema com a organização, que decepcionou-nos na hora do almoço, por conduzir-nos a um restaurante bem ruim, e isso enlouqueceu o nosso empresário, Jerome Vonk. O "holandês voador", como o apelidáramos, chamou a atenção dos produtores locais, com veemência, e a bronca surtiu efeito, pois fez com que nós fôssemos reconduzidos a um restaurante melhor.

Jamais esquecer-me-ei dele a berrar com os rapazes, ao dizer-lhes : -"meus músicos não vão comer qualquer coisa... eles precisam de arroz e feijão com qualidade" ! Valeu a bronca, pois a comida no segundo restaurante foi muito boa e farta. O show foi bom, para arrancar as risadas costumeiras e surpreendeu-me, pois eu tinha dúvidas de que funcionaria em um ambiente tumultuado de festival, com o público geralmente agressivo e por ter comportamento semelhante ao de torcidas uniformizadas, a brigar pelos seus concorrentes prediletos. Mesmo ao estarmos na posição confortável em sermos a atração maior e não concorrente, sempre poderia sobrar respingos em situações assim, devido à tensão desse tipo de evento, com os nervos à flor da pele, no ambiente. Mas meus temores não confirmaram-se, e tudo foi positivo nessa noite. Esse show ocorreu no dia 27 de maio de 1984, e a programação da banda seria pernoitar na cidade e voltar à São Paulo no dia seguinte, mas eu teria um show com A Chave do Sol, para o dia seguinte, e não podia arriscar chegar em cima da hora na capital e abrir possibilidade para atrasos, portanto, resolvi voltar sozinho. Todavia, alguém da produção do festival comunicou-nos que dois carros com estudantes, partiriam para São Paulo, imediatamente e assim surgiu a possibilidade de eu aproveitar tal carona. O Pituco Freitas também queria voltar antes para São Paulo e aceitou a carona, assim com a Cida Moreira. Portanto, encerrado o show, eu, Luiz Domingues; Pituco Freitas e Cida Moreira, voltamos juntos nessa carona oferecida por estranhos.



Continua...

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