domingo, 3 de novembro de 2013

Autobiografia na Música - Língua de Trapo - Capítulo 120 - Por Luiz Domingues


Ficamos instalados em um apartamento de aluguel, típico para turistas. Mas em um belo ponto de Ipanema, muito próximo da Praça General Osório, onde aos domingos ocorria a tradicional Feira Hippie, desde os anos sessenta. Equivalia à Feira da Praça da República, de São Paulo, onde os Hippies sobreviviam, a vender artesanato; roupas e quinquilharias em geral. Mas, assim como a feira paulistana, a carioca também estava decadente em em plena Era oitentista, embebecida pela oposição sistemática, era até incompreensível que ainda existisse, anacronicamente. 

O apartamento ficava na Rua Visconde do Pirajá, via famosa e estratégica do bairro, paralela à Av. do mar, a Av. Vieira Souto. Desta feita, o apartamento era bem maior e melhor do que o habitáramos no bairro de Copacabana, dois meses antes, e estrategicamente perto da Gávea, onde faríamos os nossos shows.

O nome do Circo armado, era : "Circo Planetário" e obviamente pelo fato em ficar ao lado do famoso planetário, naquele bairro. Ficava também perto do Campus da PUC carioca, e da famosa, "Pedra da Gávea", que encantou músicos britânicos do Rock setentista, tais como Rick Wakeman e Steve Hackett. No primeiro show, conseguimos ter a audiência de cem pessoas. Não foi nada espetacular, mas por tratar-se de um dia de semana, foi comemorado pelos contratantes, como um êxito. 

É bom destacar, que tratava-se do fim do outono no Rio de Janeiro, e para os padrões cariocas, as noites estavam "frias", e assim, desacostumadas com temperaturas amenas, as pessoas tendiam a ficar mais caseiras. O equipamento de som e luz teve qualidade, e o palco mais uma vez fora alugado da parte daquele freak cabeludo e loiro, que alugava para todo mundo no Rio de Janeiro. Portanto, mais uma vez a fazer uso de amplificadores e caixas Fender da velha guarda, a qualidade sonora do baixo, e das guitarras e teclados, foram ótimos. O Circo estava bem montado, com tudo de primeira qualidade e certamente o plano de seus donos fora atrair a juventude burguesa e bem nascida da zona sul, a fim de subtrair um pouco da clientela do Circo Voador, que era sedimentado e badalado na cidade, mas bem mais rústico, em todos os aspectos.

O primeiro show ocorreu no dia 6 de junho de 1984, mas na verdade, nós chegáramos ao Rio, na manhã da segunda-feira, dia 4 de junho. Portanto, na terça, dia 5, ficamos praticamente com um dia livre, ao menos para a maioria, pois lembro-me apenas do Laert, e mais um ou dois voluntários, ter visitado a Rádio Fluminense, em Niterói, para uma entrevista, com o intuito em divulgar o nosso show. 


Todos os demais dispersaram e eu resolvi explorar o bairro. Fui ao "Jardim de Allah"; caminhei pela Rua Barão da Torre e circulei na Praça General Osório, até que encontrei um pequeno e aconchegante mini Centro Cultural. Entrei para explorá-lo e descobri que no cineclube em anexo, haveria uma sessão do filme longa-metragem : "Bete Balanço", recém lançado, naquela ocasião. 

Aventurei-me a assistir, comprei ingresso e com não mais que vinte pessoas na pequena sala, assisti essa película, que retratava bem o ambiente carioca oitentista, e a euforia gerada pelo BR-Rock 80's. Não era e nunca será a minha predileção (aliás, muito pelo contrário, eu era e sempre serei antagônico para tal estética), mas assisti resignadamente, ao tolerar o fato de que estava ali no meio do turbilhão oitentista, e nada poderia aspirar, a não ser torcer para acabar logo o pesadelo pós-punk... pelo bem da verdade, nesse caso em específico, não fora nada insuportável, pois o Barão Vermelho mostrava-se muito mais perto do meu espectro, do que qualquer outro ícone oitentista. E a micro turnê, só começou mesmo no dia 6 de junho de 1984, conforme já citei...



Continua... 

Nenhum comentário:

Postar um comentário