Mostrando postagens com marcador Tadeu Dias. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Tadeu Dias. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 17 de junho de 2014

Autobiografia na Música - Pedra - Capítulo 11 - Por Luiz Domingues

Como costumamos dizer, se a banda toca sem muito empenho, o baterista prejudica-se, pois grava com uma interpretação frouxa, sem vida, e aí, sob um efeito dominó, todos os outros instrumentos baseiam-se nessa pegada sem alma, e a gravação coloca-se como irremediavelmente arruinada. Não querer participar da gravação guia de sua banda é algo muito estranho, e que despertou a nossa atenção, ao acender uma luz amarela em nossa percepção. O Tadeu deu mostras de não estar mais entusiasmado em fazer parte dessa banda, mas seguimos em frente, sem deixarmo-nos abalar por isso. Gravada a bateria, chegou a minha vez. Senti um imenso prazer em gravar aquelas músicas, pois estava encaixado no espírito da sonoridade do Pedra. 

O contato com várias vertentes do Rock era costumeiro na minha rotina de tantos trabalhos anteriores, mas foi no Pedra onde mais pude aproximar-me da Black Music, que é uma escola que adoro, mas nunca havia tido a oportunidade para tocar, propriamente a falar. Músicas como "Vai Escutando; "Me Chama na Hora"; "Sou Mais Feliz", e "O Dito Popular", transitavam entre o Soul, R'n'B e Funk, portanto, o meu lado Motown / Stax, regozijou-se.

Foto de Grace Lagôa a registrar o momento em que gravei minha participação no disco 

Usei bastante os meus baixos Fender, tanto o Jazz Bass, quanto o Precision, e em ambos, creio ter atingido os melhores timbres da minha carreira, graças ao trabalho do Renato Carneiro como técnico, e produtor de estúdio, além do apoio do Xando. De fato, esses trabalhos, no quesito baixo, foram muito elogiados posteriormente, e muito orgulha-me em saber disso. 






Continua... 

Autobiografia na Música - Pedra - Capítulo 10 - Por Luiz Domingues

Por não percebermos tais "sinais", seguimos a ensaiar e a relevar as faltas do guitarrista, Tadeu Dias. Nesta altura, o som estava bem encorpado, com a entrada do Rodrigo Hid, como tecladista, e dessa forma, pensávamos em alguns ajustes onde duas guitarras e teclados poderiam "embolar" o som. E por levar-se em conta que eu era / sou um baixista que gostava / gosto de criar e frasear, esse cuidado tinha que ser ainda mais observado.


Ao conhecer o Renato Carneiro, percebi que entender-nos-íamos bem, pois tratava-se de um rapaz extremamente humilde e acessível. Falava a nossa linguagem, como técnico de futebol que já foi jogador, e fala a língua dos "boleiros".

Pausa para a água, durante a sessão de gravação do meu baixo, em 2005. Da esquerda para a direita : eu, Luiz Domingues; Renato Carneiro, e Xando Zupo. Foto de Grace Lagôa

Ao notar essa possibilidade, animei-me ainda mais, pois antevi uma gravação tranquila, com diálogo franco, e abertura para opinar.
Mais ou menos na época do carnaval de 2005, o Xando reservou o seu estúdio para o Pedra começar a tão esperada gravação de seu primeiro trabalho.

Ao usarmos o método tradicional do "um-por-um", ao começar pela bateria, marcamos o início para gravar com o Alex Soares e para tanto, a preparar a equalização de seu instrumento, e guia da banda para poder gravá-lo. Para que o baterista possa gravar na sua plenitude, técnica e criativamente, é imprescindível que tenha uma guia bem feita pela banda.

Foto de Grace Lagôa, na sessão de gravação da bateria, com Alex Soares

Continua...

Autobiografia na Música - Pedra - Capítulo 9 - Por Luiz Domingues

No início de 2005, o Xando já movimentava-se para colocar a banda no rumo da gravação do primeiro CD. E o primeiro passo foi apresentar-nos ao Renato Carneiro, um excepcional técnico de som, e que gravara o Big Balls nos anos noventa, no estúdio Mosh. O Renato trabalhava há muitos anos a operar o som de duplas sertanejas famosas, ao vivo. Havia trabalhado com Christian & Ralf, e naquele momento, estava há quase cinco anos com Zezé Di Camargo e Luciano.

Outra possibilidade muito boa, seria poder contar com o Renato Carneiro eventualmente, também, como técnico de som de nossos shows ao vivo. Começamos a sonhar com essa possibilidade e havia outra possibilidade ainda mais animadora que seria a de contar também com um outro técnico de alto nível, também chamado Renato, Renato Sprada para ser preciso. 

Igualmente veterano, e com enorme experiência no campo da sonorização ao vivo, foi técnico de som d'O Terço nos anos setenta (na fase dos LP's "Criaturas da Noite" e "Casa Encantada"); excursionou com Gonzaguinha no auge da carreira dele, incluso a turnê onde o grande, Luiz Gonzaga, pai de Gonzaguinha, excursionou junto. Naquele momento de 2005, estava fixo com o cantor / ator, Fábio Jr.

Os dois Renatos, ambos magos dos botões... grandes técnicos de áudio ! De camiseta esverdeada, Renato Carneiro, e de preto, Renato Sprada. Início de 2005, em foto de Grace Lagôa

Com a volta dos ensaios, e o surgimento de mais músicas, estávamos a fechar arranjos, e a prepararmo-nos para a gravação.
Com o Rodrigo a criar ótimas intervenções aos teclados, e Xando e Tadeu Dias, a entender-se bem nas guitarras.

Notávamos, no entanto, que o baterista, Alex Soares, parecia economizar um pouco nos seus arranjos pessoais. Falávamos para ele ousar um pouco mais, mas ele alegava estar a tentar padronizar a sua bateria em um patamar mais Pop, propositalmente.

Foto de Grace Lagôa, da sessão de gravação do primeiro álbum do Pedra, início de 2005

Claro que o Pedra nasceu com a mentalidade em estar aberto ao Pop, mas o Alex demonstrava ter outros parâmetros sobre o que deveria ser considerado como algo comercial. E outro ponto que hoje é fácil para ser visualizado, mas era obscuro na época : o distanciamento que o guitarrista, Tadeu Dias, estava a demonstrar. Faltava aos ensaios com frequência nesse período (início de 2005), ao alegar ter dificuldades com os seus compromissos assumidos com o cantor, Simoninha. De fato, havia viajado para a França com ele nessa época, mas logo voltara para o Brasil.



Essa súbita mudança de comportamento fora incompreensível, contudo, pois nos primeiros ensaios, entre outubro e dezembro de 2004, ele comparecia com assiduidade e pontualidade. Mostrava-se animado nos ensaios, a contribuir com ideias, e a esforçar-se para dar o melhor de si à banda.

Na sala de estar da residência do Xando Zupo em 2005, ao olharmos fotos históricas da carreira de Grace Lagôa, e ainda com Tadeu Dias sorridente, e a fazer parte de nossa banda...

Ele era muito brincalhão, e fazia-nos rir de suas piadas e imitações etc. Portanto, não havia indícios de que estivesse insatisfeito, tampouco distante.


Mas logo no início de 2005, mudou o seu comportamento, bruscamente. No início, claro que não percebíamos isso. Uma primeira ausência deu-se por conta de sua viagem para Paris; outra vez, por uma gravação de um especial do Simoninha para a MTV; seguido de constantes problemas alegados com o automóvel. Enfim, começaram a suceder-se as faltas, mas atribuíamos isso aos compromissos dele com Simoninha, e a fatalidade em ter problemas com seu carro, fatalidade que pode ocorrer para qualquer pessoa.

Continua...

terça-feira, 4 de março de 2014

Autobiografia na Música - Pedra - Capítulo 8 - Por Luiz Domingues

Sim, com certeza, que essa informação vazou de forma involuntária. A ideia foi manter sigilo do projeto, até que tivéssemos ao menos um nome definitivo para a banda, mas como todos nós (Alex Soares e Tadeu Dias, bem menos), tínhamos carreiras longas, e com passagens por trabalhos anteriores e significativos, foi natural que houvesse especulações. E de fato, essa nota na revista "Batera e Percussão" foi a primeira na imprensa escrita tradicional, mas já estavam a ser publicadas na internet, várias notas; boatos; rumores.


No caso do site Wiplash, o infeliz título publicado : "Ex-Patrulheiros montam nova banda", causou um mal-estar, pois o Rolando Castello Júnior, da Patrulha do Espaço, chegou a pensar que estávamos a alardear isso de forma proposital, para aproveitarmo-nos do nome da nossa ex-banda, quando isso não foi verdade, absolutamente.

Foto de Grace Lagôa em um momento de ensaio do Pedra, em 2005

Pelo contrário, de certa forma, queríamos deixar claro que o Pedra tinha uma outra proposta artística, muito mais ampla e desvinculada do nicho do Rock pesado. Mas foi natural que houvesse mesmo boatos. Após tantos anos de luta, com tantas bandas, revelara-se um consolo constatar que meu nome provocasse especulações na imprensa especializada, pelo menos isso, se eu nunca conseguira militar no mainstream da música...


 Continua...

Autobiografia na Música - Pedra - Capítulo 7 - Por Luiz Domingues

Então, no virar de 2004 para 2005, o clima na banda mostrava-se sob muita euforia em torno dessa nova formação. Logo fomos a tratar de retomar os ensaios, após o enfadonho período de festas. Mediante sugestões de todos, escolhemos o nome : "Pedra", para a banda. Em uma lista não tão comprida assim (como é a praxe desse tipo de ocorrência no começo de uma banda), afinal, "Pedra" e "Carranca", mostravam-se os mais cotados.

Mas eu, de longe achava o nome : "Pedra", mais apropriado. Isso porque a sugestão de "Carranca" que viera do baterista , Alex Soares, era regional demais na minha opinião. Esse foi o meu argumento para convencer os demais, visto que o Rodrigo que adora motes regionalistas de raiz, estava propenso a votar nele. O Xando gostava dos dois, e o Tadeu Dias, também demonstrava isso.

Da esquerda para a direita : Luiz Domingues; Rodrigo Hid e Tadeu Dias, nos primeiros ensaios de 2005, com a nova formação da banda. Foto de Grace Lagôa

No fim, eu consegui convencer os indecisos, com o argumento de que "Carranca", realmente remetia a um tipo de espectro regionalista, que definitivamente o nosso som não possuía. Depois do lançamento do CD Pedra II, o Rodrigo imprimiu um pouco dessa vertente, sem dúvida, na sonoridade da banda, mas a grosso modo, sempre fomos muito urbanos para estigmatizar o nome com algo tão rural.

E de fato, "Carranca", caberia melhor para uma banda pernambucana indie, do dito movimento, Mangue Beat. Definido o nome, já imaginamos a questão do press-release, e as inevitáveis perguntas dos jornalistas : por quê "Pedra" ? Porque seria uma palavra de fácil assimilação; pronúncia; memorização; e transmitia a ideia de solidez; coesão; matéria bruta primordial, com a qual faz-se tudo ou quase tudo na civilização, etc. Claro, poderiam perguntar se havia conotação com as drogas. Pedra de ácido; pedra de crack, pedra de cocaína ?

Nesse caso, a resposta seria a negativa, naturalmente, ou deixar dúbio, a convidar o ouvinte a pensar o que desejasse. Eu fiquei satisfeito, pois aprendi com a experiência adquirida ao longo de uma carreira extensa, que deveria evitar nomes compostos, com preposição e / ou artigo. E passou-me a ideia de um nome forte, sucinto e sonoro. Logo a seguir, saiu uma nota na revista : "Batera e Percussão", para citar a formação da nova banda, e para o nosso espanto, pois estávamos a manter toda a nossa movimentação inicial sob sigilo, até então.

Todos tínhamos história na música, essa era a verdade, e diante dessa fato inexorável, estávamos sujeitos aos fuxicos da mídia, mesmo que fôssemos artistas que a vida toda orbitaram o underground da música , fora do mainstream...



Notas em sites como Wiplash e Rock Brigade, começaram a especular e reitero, guardávamos sigilo absoluto sobre a formação da banda e tais manifestações, foram fruto de vazamento involuntário de informação, portanto.

Continua...

Autobiografia na Música - Pedra - Capítulo 6 - Por Luiz Domingues

Essa situação em contar eventualmente com três guitarristas seria apenas uma hipótese (pois afinal de contas, apesar de ser multi instrumentista, a guitarra sempre fora o instrumento principal do Rodrigo, portanto a sua especialidade), mas não queríamos cometer excessos. Outro ponto importante foi que esse tipo de formação com três guitarras, funcionaria bem se a banda fosse fechada no estilo do "Southern Rock". Em qualquer outra escola de Rock, ou de outros gêneros, é normalmente difícil concatenar três instrumentos de forma criativa, e a observar o cuidado para que um  guitarrista não atrapalhe o outro, e a banda soe confusa, por conseguinte.

E logo mais, questão de apenas dois meses, o Rodrigo estaria a assumir o seu posto de forma natural, com a saída do guitarrista, Tadeu Dias, mas já chego lá. E só para constar, o Southern Rock também é influência forte.

A ensaiar com Rodrigo Hid, já a fazer parte da banda, e nos primeiros ensaios, mais a adaptar-se à vocalização das canções que tínhamos, até então. Foto de Grace Lagôa

A música "Estrada", por exemplo, tem muito desse estilo em vários momentos, principalmente nos desenhos das guitarras, e da linha do baixo. Então, o Rodrigo veio conhecer o trabalho. Aprendeu as primeiras músicas que tínhamos, e já trouxe ideias, como por exemplo o riff de "Estrada", que logo no início de 2005, seria concretizada, por exemplo.



Nos primeiros ensaios, o Rodrigo exibia o semblante cansado, exatamente como eu estava no início, quando comecei a ensaiar em outubro. O que ele estranhara no início, foi apenas tocar teclados, e em determinadas músicas, só com a presença das guitarras tocadas por Xando e Tadeu, e ter que atuar apenas como vocalista, sem um instrumento à mão. Definitivamente, ele sentira essa falta, pois apesar de ser um excelente cantor, não estava acostumado a atuar com as "mãos vazias". Dava para sentir esse desconforto nos primeiros ensaios, mas essa situação seria consertada em apenas dois meses, sem que precisássemos fazer nada, pois o guitarrista, Tadeu Dias, deixaria a banda, infelizmente.

Interrompemos os ensaios por ocasião das festas de final de ano e entramos em 2005, com tudo, animados com a entrada do Rodrigo, e por notarmos novas músicas a surgir e aumentar por conseguinte, o repertório. De pronto, vimos que a voz e jeito de interpretar do Rodrigo foi o que encaixara-se perfeitamente no som do Pedra. O segundo ponto foi que seus dotes como tecladista agregaram muita qualidade ao trabalho. O Xando conhecia e o admirava à distância, mas eu conhecia muito bem o potencial do Rodrigo como tecladista.

Ele pilotava órgão Hammond; Mini Moog; Fender Rhodes e piano acústico, com desenvoltura, à moda dos tecladistas dos anos sessenta / setenta, ou seja, a agregar valor, e por não cumprir as burocráticas e sofríveis caminhas harmônicas, que tecladistas medíocres faziam.

A formação do Pedra, no início de 2005, em foto de Grace Lagôa nas dependências do estúdio Overdrive. Da esquerda para a direita : Xando Zupo; Alex Soares; Luiz Domingues; Tadeu Dias, e Rodrigo Hid

Mas mesmo assim, sabíamos que seria um desperdício ele não tocar guitarra e violão acústico, outras de suas potencialidades múltiplas.
Nessa altura, músicas como : "Vai Escutando", e "Me Chama na Hora", ficaram muito sofisticadas com o acréscimo dos teclados do Rodrigo. Tem momentos brilhantes de Soul Music, nelas, graças aos seus arranjos, nos teclados.

Rodrigo Hid no início de 2005, em seu início na banda. Foto de Grace Lagôa

Continua...
 

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Autobiografia na Música - Pedra - Capítulo 5 - Por Luiz Domingues

A questão que envolveu o Marcelo Mancha, não foi técnica. Ele é um excelente vocalista; com afinação; alcance de oitavas; emissão; boa dicção; bom intérprete; tem ritmo; bom ouvido; divisão rítmica bem desenvolvida, e excelente presença de palco. Tampouco foi de ordem pessoal, pois ele era (é) um rapaz bacana, honesto e trabalhador. O problema detectado pelo Xando, revelou-se no tocante à criação dele na interpretação, pois em todas as canções, apresentara dificuldade em criar a sua própria interpretação.

Isso ocorreu devido aos anos e anos em que atuara pela noite a cantar covers. Infelizmente, esse esquema tende a viciar o músico, que perde o traquejo da criação, ao limitar-se a repetir a criação alheia. Diante desse argumento, não havia como não pensar na banda, e sendo assim, eu dei o meu aval para o Xando conversar com o Marcelo e daí, desligá-lo da banda. O Xando ficou com a incumbência em falar com ele, por ser amigo e companheiro de bandas na noite, há anos. E o Marcelo aceitou sem ressentimento, pois não estava mesmo a encaixar-se no trabalho. Saiu da banda, sem problemas, e prosseguiu a sua carreira na noite, até hoje, com o seu brilhantismo habitual.

Então o Xando teve uma ideia, de certa forma ousada, mas que poderia dar certo. Que tal convidar, Rodrigo Hid ? Ele poderia cantar; tocar teclados e eventualmente, teríamos três guitarras, a unir-se ao próprio, Xando e Tadeu Dias. E o que eu poderia achar dessa ideia ?  Ora, conhecia o Rodrigo desde 1992, convidei-o para fundar o Sidharta comigo, e isso desembocara na Patrulha do Espaço. Quem mais poderia conhecer tanto o talento dele, após tantos anos ?

Rodrigo Hid, na época mais ou menos em que veio conhecer a proposta do Xando, sobre a banda. Foto de Grace Lagôa

O Rodrigo estava desanimado em fazer parte de uma banda, desde que deixara a Patrulha do Espaço junto comigo, e Marcello. E desde então, dedicava-se a ensaiar um material para um disco solo que pretendia lançar. Estava a ensaiar com dois músicos jovens, ex-membros do excelente, "Quarto Elétrico" : Thiago Fratuce, no baixo (ex-aluno meu), e Ivan Scartezini na bateria (esta, depois tornar-se-ia baterista do Pedra). Ele aceitou conversar, mas em princípio relutou com a proposta. Após um pouco de insistência da parte do Xando e minha, ele decidiu participar sob tal condição inicial, ou seja, como vocalista, com alguma intervenção nos teclados, e talvez, muito eventualmente, na guitarra (o que convenhamos, seria uma loucura, dada a circunstância dele ser um guitarrista excelente). E assim, nos últimos dias de dezembro de 2004, tornamo-nos um quinteto, com a entrada de Rodrigo Hid.

Aqui em um ensaio da banda já em 2005, ao assumir inicialmente a postura como vocalista e tecladista da banda. Foto de Grace Lagôa

Continua...

sábado, 28 de dezembro de 2013

Autobiografia na Música - Pedra - Capítulo 4 - Por Luiz Domingues

Eu diria que logo no primeiro instante, tratávamos essa diversidade como o nosso maior trunfo. O fato de ser uma banda aberta a várias sonoridades, deu-nos muita esperança em alcançar o mainstream, pois o nosso espectro artístico estava aberto a um público muito mais abrangente do que nossas bandas pregressas mais recentes (Patrulha do Espaço e Big Balls, só para citar duas), essas sim, fechadas em um nicho restrito do Rock underground. No início, almejávamos agregar os fãs menos radicais de nossas bandas de Rock mais recentes, mas poder atingir também fãs do Jota Quest; Skank; Nando Reis, e parcelas de público jovem adulto, seguidores de MPB então "moderna" (Lenine; Zeca Baleiro, Marisa Monte etc), e até o nicho da Black Music.

Com o passar do tempo, essa extrema abertura estrangulou-nos ironicamente sob um outro sentido, eu diria, não artístico, nem midiático, mas no setor empresarial, pois sem conseguir alavancar voos mais altos, os espaços no underground mostraram-se mínimos para a nossa sonoridade. Esse fator foi decisivo para sufocar a banda e matá-la por inanição em um momento futuro, mas uma volta seguir-se-ia mais para a frente (muito longe para falar disso ainda...). Todavia, acredito que no decorrer da narrativa, isso ficará ainda mais claro. Nesses primeiros ensaios o clima mostrava-se com muita camaradagem e descontração. Foi um bálsamo estar em um ambiente de trabalho leve.

Convencionou-se que os ensaios dessa nova banda seriam as segundas, por que três de seus cinco membros, atuavam em trabalhos musicais paralelos ou como side-man de artistas da MPB, caso do guitarrista Tadeu Dias, com Simoninha, ou bandas cover na noite, caso de Alex Soares e Marcelo "Mancha". Eu já era bem experiente na época, e sabia que isso era um problema e uma verdadeira bomba relógio ativada para explodir na frente, mas levantar essa questão ali seria causar um tumulto desnecessário, visto que todos os que tinham esses impedimentos sentir-se-iam incomodados, e negariam que essa vida dupla poderia refletir negativamente no destino da banda autoral que estávamos a criar.

Além do mais, eu fui o último a chegar e para ir além, não tenho essa característica de fazer cobranças, quem conhece-me, sabe que sou flexível e paciente. As primeiras músicas que praticamente já estavam prontas, fecharam-se com a minha entrada, e a definição de linhas de baixo. Os arranjos foram definidos e logo a seguir, mostrei uma ideia de balada que eu tinha, e deveria ter sido aproveitada pela Patrulha do Espaço, mas não aconteceu naquele trabalho. O Xando desenvolveu-a, criou letra e nasceu assim: "Amanhã de Sonho".

O baterista, Alex Soares, em foto de Grace Lagôa, no final de 2004

Poxa... era uma balada Pop, com condições de tocar no rádio, ser trilha de novela, mas ao mesmo tempo de um nível acima de qualquer suspeita, para provar a nós mesmos, que poderíamos trilhar um caminho interessante, ao almejar voos maiores, sem ter que apelar. No entanto, o clima ameno dos primeiros ensaios ficou um pouco tenso quando o Xando ligou-me após um ensaio para expor uma situação que estava por incomodá-lo, em relação ao vocalista, Marcelo "Mancha". Essa situação não era pessoal, tampouco técnica, mas de ordem artística, no tocante à identidade dele para com o trabalho. Após expor os seus motivos, entendi e concordei com a argumentação.



Continua...

Autobiografia na Música - Pedra - Capítulo 3 - Por Luiz Domingues

E assim, foi essa dinâmica nos meses de outubro e novembro de 2004. Ensaiávamos as segundas no estúdio Overdrive, e nesses primeiros ensaios, como o Xando vinha a trabalhar com esse pessoal desde agosto / setembro, mais ou menos, já havia algumas músicas bem adiantadas. Foi o caso de : "O Dito Popular"; "Sou Mais Feliz"; "Vai Escutando"; "Se Agora eu Pulo Fora", e "Me Chama na Hora". Alex Soares era um baterista técnico, firme e bom de andamento.

Xando Zupo & Tadeu Dias em um ensaio, em janeiro de 2005. Foto de Grace Lagôa 

Tadeu Dias tinha grande conhecimento teórico e era um especialista em Black Music, justamente por estar acostumado a acompanhar artistas como Simoninha e Max de Castro. E o Marcelo "Mancha", tinha excelente impostação vocal. O Xando, apresentava um nível técnico excelente e logo notei que era minucioso na questão de timbres, por ter muito requinte na escolha de cada guitarra para ocasiões diferentes, angulações das caixas dos amplificadores, e no uso de seus pedais.

Pus-me a colocar o meu baixo, com total liberdade, e isso agradou-me, pois na verdade, é a única maneira com a qual eu sei interagir em uma banda, pois sinto-me inibido a criar, quando tolhido e limitado a seguir opiniões alheias. Minhas melhores linhas foram criadas dessa forma, sem interferência. Os ensaios transcorriam em clima de absoluta cordialidade, enquanto o Xando dizia-nos que teria um canal muito bom para viabilizar a produção de um vídeoclip, e assim que tivéssemos um quórum mínimo de músicas, poderíamos usar o estúdio para gravar o primeiro CD.

Mas a despeito dessas oportunidades, o que mais agradava-me nesses instantes iniciais, além do clima leve da banda, foi a característica que delineava-se no tocante ao estilo. Agradava-me a ideia em ser Pop o bastante para pleitear o mainstream, mas sem violentar-me com breguices ou apelações.

A formação nos primeiros ensaios do Pedra, ainda ao final de 2004, da esquerda para a direita : Alex Soares; Xando Zupo; Marcelo "Mancha"; Tadeu Dias, e eu, Luiz Domingues. Foto de Grace Lagôa

Estávamos a empreender ali, uma música sob alta qualidade, com variantes que passeavam pelo Rock; Soul, MPB etc. Ou seja, uma sonoridade aberta e pronta a angariar um público mais abrangente, fora do nicho do Rock underground, onde militei tanto, em bandas anteriores, pelas quais atuei.


Continua...