segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Autobiografia na Música - Língua de Trapo - Capítulo 9 - Por Luiz Domingues



Infelizmente não tenho e desconheço quem tenha uma cópia dessa aparição no programa, Dárcio Campos. Isso porque ninguém tinha videocassete nessa época, praticamente. Inclusive, não havia disponível no mercado brasileiro na época (só começou a ser fabricado em 1982, aqui no Brasil). Talvez os mais abonados possuíssem-no, mediante aparelhos importados, mas isso era raríssimo.
A não ser que algum abnegado tenha gravado na época, realmente não existe esse registro. Mas essa hipótese é remota, mesmo por que, os poucos que tinham esse aparelho em casa, dificilmente assistiriam o programa Dárcio Campos em um sábado a tarde, e pior ainda, interessar-se-iam em gravar a participação de uma obscura banda como era o Língua de Trapo, naquela ocasião, a não ser que fosse um vidente...
E tenho dúvida se a TV Bandeirantes tenha esse material arquivado. Naquela época, as fitas de VT eram importadas e muito caras. As emissoras de TV costumavam regravar por cima, para otimizar o uso das fitas. É sabido por exemplo, que centenas de jogos de futebol foram apagados para que a extinta TV Tupi pudesse gravar novelas, por exemplo. Por isso que o acervo de gols do Pelé é tão pequeno, infelizmente. Fora dessa improvável hipótese, só na memória, mesmo. Bem, na minha com certeza, muito provavelmente na do Laert que tem excelente memória, e sempre foi minucioso com a preservação de tudo a respeito de sua carreira, mas quanto aos demais... não posso garantir nada.
E mesmo a estar sob um ridículo programa de calouros brega, no meu caso teve um sentido especial tocar naquele palco (para o Laert, também), pois ali aconteceu shows históricos do Rock e da MPB nos anos setenta. Tive esse momento de reflexão interna, enquanto tocava. Após essa primeira aparição em um programa de TV (com a devida ressalva que havíamos tido uma reportagem de um show ao vivo na estação São Bento do Metrô e já relatada anteriormente), a preocupação agora seria lançar a fita demo com um show a altura. Mas antes disso, começamos a vender a fita com aquele acabamento caseiro, que expliquei em capítulo anterior.
E foi um estouro de vendas...
Praticamente a nossa Faculdade inteira comprou, e muita gente de outras faculdades; amigos; parentes e conhecidos. Lembro-me que chegou-se em um ponto onde o Carlos não suportou a demanda para reproduzir em seu equipamento caseiro, e aí tivemos que encomendar cópias em estúdio, a encarecer um pouco a produção, mas a valer a pena, pela quantidade. Lançamos no início de dezembro de 1980. Eu saí da banda ao final de janeiro de 1981, e até quando permaneci, havíamos vendido mais de 1300 fitas. Um estouro total se levarmos em conta que fora uma produção amadora, sem divulgação, e sem respaldo algum. De forma artesanal e vendida no tète-a-tète, esse número pode ser considerado, fabuloso.
E quanto a produção no estúdio, não foi em um estúdio profissional de gravação, mas sim o estúdio de ensaio de uma banda cover que atuava na noite paulistana, chamada "Cia. Itda". E a quantidade de músicas foi enorme. Gravamos 18 músicas, o que tornou a missão cansativa. O resultado final, ao considerar-se que foi uma gravação ao vivo, com ambiente sem separações (a não ser alguns biombos, e portanto não evitou-se os vazamentos), ficou razoável. Em 4 canais, na mixagem foi inevitável o processo de redução. E no processo final, o estéreo armazenado sob uma arcaica fita K7, com seu indefectível chiado. Apesar disso tudo, a qualidade agradou-nos, e o sucesso de vendas comprovou a aprovação do trabalho. A base do repertório foi usada posteriormente na gravação do primeiro LP oficial do Língua. Isso ocorreu em 1982, mas eu não estaria mais na banda. Só voltei em 1983. Mas essa etapa, eu conto depois, na cronologia adequada...
O estúdio ficava localizado bem em frente a este observatório astronômico, da Av. Indianápolis, no bairro do Planalto Paulista, zona sul de São Paulo




Continua...

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