domingo, 2 de dezembro de 2012

Autobiografia na Música - Trabalhos Avulsos (Cínthia) - Capítulo 16 - Por Luiz Domingues


O dono do salão, desesperado por ver o clima tenso com a saída repentina da cantora, e o publico enlouquecido, pediu-nos para tocar qualquer coisa, na esperança do ânimo acalmar-se. O Gereba, mesmo bêbado, foi esperto e iniciou o riff da música, "I'm Goin' Home", do Ten Years After, que ele tocava à perfeição. Ele começou o solo, e eu e o Luis Bola fomos juntos, sem pestanejar. 

Temíamos que um Rock naquele lugar, e com aquele público, pudesse até piorar as coisas, mas os rapazes enlouqueceram completamente !
E aí fomos a emendar Beatles; Led Zeppelin; Grand Funk, enfim, tudo o que eu e o Gereba tocávamos normalmente no Terra no Asfalto, incluso Novos Baianos, especialidade dele, Gereba, e salvamos a noite. Ao final, o empresário veio pagar-nos, e nessa altura, já havia esquecido todo o mal-estar, e nesses termos, disse-nos que a cantora era temperamental, mas que chamar-nos-ia outras vezes etc e tal.
E para ficar mais engraçado ainda : o dono do salão estava eufórico, ao dizer-nos que contratar-nos-ia para uma apresentação solo, pois fomos considerados a "melhor banda que já tocara ali"...
Bem, ao considerar-se o nível de músicos que ali tocavam regularmente, acho que ele teve razão em sua afirmativa. E para agradar-nos, ofereceu-nos comida e mais bebidas. Nesse instante, o Gereba enlouqueceu de vez, e algo mais bizarro aconteceria !

Em sinal de "gratidão", o efusivo proprietário do salão, afirmou-nos ter providenciado "lindas garotas" para alegrar o nosso final de madrugada. Quando fomos ao camarim, com todo o respeito que todo o Ser Humano merece, realmente o conceito do rapaz sobre beleza feminina, provou ser muito diferente do nosso. Eu e o Luis Bola agradecemos, e ao alegar termos que voltar imediatamente para São Paulo, corremos para o interior da Kombi !
Mas o Gereba, bêbado como encontrava-se, resolveu aceitar a "gentil oferta", e ficou com as três moças, com padrão de beleza aprovadas pelo dono do salão, digamos assim...
Dessa forma transcorreu meu segundo trabalho paralelo, realizado no dia 22 de abril de 1980, em um salão cujo nome não recordo-me e infelizmente não anotei, perante um público com aproximadamente quinhentas pessoas presentes. Nunca mais acompanhamos a Cínthia, depois dessa noite. Essa história foi mesmo sui generis.
Ela mataria o Gereba, a esganá-lo, se pudesse. Não sei o que foi pior : se o fato dele ter ficado bêbado e assim errar demais a harmonia das músicas e derrubá-la no seu show, perante o seu público; ou se pela paquera de baixo nível que perpetrou para cima da cantora...

E sem dúvida, uma coisa que abomino como músico : tocar com bêbados ou Junkies. Essa história do Gereba não foi a primeira em que passei vergonha por conta de irresponsáveis que não controlam seus instintos antes dos shows e sobem ao palco, fora de si. Em relação à pressão do público, é verdade... os soldados só queriam divertir-se. E quanto às promessas do dono do salão, nunca retornamos, ali, de fato. Não teria o menor cabimento agendar show em uma espelunca obscura daquelas, com aquela ambientação brega de baixo nível. Por fim, recusar as "beldades" ali presentes foi uma questão de sobrevivência...


Tocamos por uns 45 minutos, talvez um pouco mais, depois que o show da Cínthia, encerrou-se, prematuramente. Voltamos rapidamente para São Paulo com os instrumentos e equipamentos, eu, Luis Bola e o motorista da Kombi. O Gereba permaneceu no salão periférico, por sua conta. Acreditávamos que quando ele acordasse, submetido a uma ressaca, e com aquelas mulheres ao seu redor, teria um sentimento forte de arrependimento pelas más escolhas feitas sem conscîencia alguma na noite anterior. E como agravante, ainda estar em algum lugar de Carapicuíba, longe, mas muito longe de sua casa. Deveria usar dois ou três ônibus para voltar para a sua casa. Mas a história ficou ainda mais hilária se eu contar para você, leitor, que ele apareceu no dia seguinte, e feliz da vida. Ele apreciou a noitada e não demonstrou arrepender-se, de forma alguma.


Não houve nenhuma brincadeira entre nós, pois o Gereba era um sujeito muito simples. Ele certamente não entenderia o teor de nossas brincadeiras, e poderia até ofender-se com as nossas observações, enfim... e diante desse desfecho, convenci-me de que tem gosto para tudo neste mundo...

Para ilustrar essa história, achei um blog que tem uma matéria com a Cínthia. Ela tornou-se radialista, há muitos anos.

http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:fXWbPC8XOhMJ:arquivostiosam.blogspot.com/2008/10/cynthia-compactos.html+Cintia+cantora+Deno+e+Dino&cd=4&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br


Encerrada essa etapa, no próximo capítulo de meus relatos sobre os "Trabalhos Avulsos", que realizei, vou narrar uma passagem ainda mais hilária do que essa aventura brega, vivida em um salão de periferia.

Continua...

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