quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Autobiografia na Música - Terra no Asfalto - Capítulo 8 - Por Luiz Domingues

A maldade está solta por aí, infelizmente. Bem, histórias trágicas desse nível com o Terra no Asfalto, só lembro-me de uma, mas ocorreu bem depois, na segunda fase da banda, mais ou menos em fevereiro de 1981, e da qual, contarei na sua devida cronologia. E quanto ao Fernando "Mu", esse assalto e agressão foi um telegrama do que acontecer-lhe-ia alguns anos depois, tragicamente. Soube que mais ou menos em 1997, ele morrera assassinado, em uma mesa de bar. O motivo teria sido um acerto de contas por conta de dívida com traficantes.

Mas de volta à cronologia, preciso contar que o Mu tocava violino também. Ele fazia os solos do Jerry Goodman e do Jean Luc Ponty (nas respectivas épocas de ambos na Mahavishnu Orchestra), com perfeição, além de diversas demonstrações de virtuosismo dentro do estilo da Country Music norteamericana. Estava nos planos usar esse expediente, e de fato, assim que Gereba e Wilsinho incorporaram-se novamente à banda, chegamos a tocar a canção, "Hurricane", do Bob Dylan, com o Fernando Mu a pilotar o violino.
A próxima apresentação ocorreu no dia 20 de janeiro de 1980, no mesmo Bar Opção.


A Rua 13 de Maio no Bairro do Bixiga, no início dos anos oitenta, época em que era extremamente agitada, com muitas casas noturnas a apresentar bandas ao vivo, sob vários estilos, simultaneamente.

Desta vez, conseguimos arregimentar a presença de cinquenta pessoas, quase o dobro da primeira apresentação. Isso foi uma proeza, primeiro pelo fato da banda ainda nem ter um nome próprio definido, e segundo pela localização do bar, no boêmio bairro do Bexiga, mas longe do foco do seu grande movimento, que acontecia na Rua 13 de maio. Aí, o primeiro voo maior ocorreu, quando fomos tocar enfim em uma casa mais sofisticada. Ocorreu em um bar na Alameda Lorena, bairro Cerqueira César, na região da Av. Paulista, e chamado : Le Café.
A partir desse show no Bar Opção (ocorrido no dia 24 de janeiro de 1980, e com ´pessoas pessoas presentes), o Gereba havia voltado do Nordeste, e o Wilson reingressou na banda, agora a tocar violão, e contribuir com os backing vocals. Com os três a empreender côro sob harmonia vocal e três cordas a harmonizar, além do baixo, o som cresceu demais. Passamos a tocar mais Beatles, com vocalizações bonitas dos três (Paulo Eugênio; Fernando "Mu" & Wilson).
O Mu passou a dar muitas informações para o Wilson, que cresceu muito como músico, a melhorar bastante. Ele era extremamente dedicado e sonhava em tocar bem. Uma particularidade dele, dava-se pelo fato de que seu pai fora o alfaiate do Pelé, em Santos, nas décadas de 1960 e 1970. O Wilson, que era santista de nascimento, e torcedor do Santos F.C., passou a infância a estabelecer esse contato com o "Rei" do futebol, e vários outros jogadores do Santos FC. 

Esperávamos um clima hostil do Fernando "Mu" em relação ao Gereba, mas pelo contrário, eles entenderam-se tão bem, que isso surpreendeu-nos. Mas hoje eu enxergo tal fenômeno com precisão : O Mu, na verdade, respeitou o talento nato e bruto do Gereba. Ele, Gereba, não sabia nada sobre teoria musical, mas seu ouvido era extraordinário. E o Mu, ao contrário, que era um músico com sólida formação teórica, percebeu isso. Além do mais, o Mu ficou fascinado com a escola brasileira do Gereba, via Pepeu Gomes, principalmente e quis absorver tal técnica.
Continua...

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