Não existe no país comunicação e amizade entre os artistas.
Só entre os “bem sucedidos da mídia”. Um verdadeiro pacto de Leões. Aqueles que estão em busca de apoio ou reconhecimento ficam a deriva e exposto ás feras. E os leões são amigos apenas por conveniência. Bem vindo, portanto, ao inferno da incomunicabilidade.
Ninguém no Brasil, sem o rótulo do sucesso, enxerga o valor do outro. Corremos o risco de ficar anônimos tomando aulas dos semi-analfabetos com hipossuficência cultural.
Vou dar dois exemplos de como funciona isso na prática e poderia dar centenas. Apenas dois bastam para entender o fenômeno.
Peço a uma autora que escreva uma apresentação para meu livro “O Tigre De Deus Em Seu Jardim”. Pergunto se posso enviar o manuscrito.
-- Qual a editora?
-- Digo a editora semi-independente.
-- Me diga o site?
-- A editora não tem site.
-- Manda para a caixa postal.
--- Mas o livro está esgotado. Não tenho mais exemplares.
--- Diga que é para mim, que eles arrumam.
Inútil dizer que não havia mais exemplares e que não tinha como enviar o livro impresso, só o arquivo, em PDF.
Não fizemos bom negócio. Os Leões querem livros grátis, sem pagar nem o correio.
Outra situação:
O cineasta famoso que me conhece, passa por mim, mesmo sabendo que sou escritor e me ignora, dando um sorriso falso para manter distancia.
Eu que tinha milhares de poemas e ideias para despejar na cabeça dele fico decepcionado, sentindo-me um rato de esgoto porque ele não me concede nem seu amor nem sua atenção; Ele não é um patriota, penso, enquanto vou fazendo um vodu no meu coração com a imagem dele.
Desconfio que nunca vou encontrá-lo no paraíso. Aliás, me ilumino quando penso que o paraíso deve ser bem pouco habitado e cheio de focas e cães. Poucos lugares na terra devem ser tão vazios quanto o paraíso. Imagino que lá de quilômetros em quilômetros encontramos Madre Terezas, Ghandis, Jorges Luis Borges e outros da mesma linhagem.
Existe uma temperatura de um a dez da mídia. Estou ,acredito, num incomodo 5,5 e com crise existencial pensando se não é melhor ficar sem mídia e virar monge, para não ter que relacionar-me com subletrados e idiotas da subjetividade.
Para mim e para o Dalai-Lama, todos os seres são iguais em essência, tanto o rei do mundo quanto o verme são mortais e miseráveis e merecem nossa compaixão.
O Brasil me transformou num grande estoico, termo que tenho certeza aqueles que me ignoram não sabem o que significa.
TRECHO DE "EDUCAÇÃO PARA BRASILEIROS", livro inédito e ainda não finalizado pelo autor.
Marcelino Rodriguez é colunista sazonal do Blog Luiz Domingues 2. Escritor de vasta e consagrada obra, aqui nos apresenta de forma inédita, um trecho de seu próximo livro, "Educação para Brasileiros", onde desmascara a hipocrisia no mundo editorial nacional, e também na relação entre artistas consagrados e os ditos "emergentes".
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