O Boca do Céu teve um significado enorme em minha trajetória musical. Mas mesmo assim, o fim da banda não causou-me
melancolia ou insegurança alguma à época. Ao analisar hoje em dia, sinto até uma ponta de
orgulho por ter sido maduro o suficiente, apesar de meus dezenove anos
incompletos na ocasião, para superar essa perda, e ter tido assim, a coragem para seguir em
frente. E por outro lado, ao relembrar isso, tenho um carinho muito grande pelo
Boca do Céu ("Bourréebach", na sua fase final). Foi com essa banda formada por iniciantes na música que transmutei um
sonho impossível em realidade, ao proporcionar-me a transição do onírico à matéria. Responsável
pelo impulso inicial, que tirou-me do sonho à realidade, teve papel fundamental
nessa transição. Tenho muita saudade desse tempo, principalmente os primeiros instantes,
entre 1976 e 1977, onde a força de vontade foi o motor que manteve-me nessa
senda. O Boca do Céu tem um significado muito especial na minha trajetória,
conforme já disse anteriormente. Apesar de ter sido, tecnicamente, uma banda com parcos
recursos, pelo fato de seus membros ter sido iniciantes na música, naquela ocasião
(principalmente, eu mesmo). E certamente por isso, é que tem esse valor
sentimental enorme na minha carreira.Tenho muito carinho por esse tempo
primordial, por tudo o que vivi e não foram poucas as impressões e vivências. Foi o meio / final dos anos setenta e ainda tive o privilégio de vivenciar o
final de uma Era.
Sou muito grato ao destino, que sob uma
improvável ação perpetrada por um anúncio classificado, publicado em uma revista, colocou o Laert "Sarrumor", em
nosso caminho. Com sua inteligência e talento nato, impulsionou a nossa banda. Sem ele, não teríamos evoluído tão
depressa. Claro que o grosso do material mostrou-se aquém do que faríamos no futuro em outros trabalhos,
tanto eu quanto o Laert, mas chegamos a ter músicas interessantes, apesar de
sermos tão fracos tecnicamente. Músicas como "Revirada", "No
Mundo de Hoje", "Centro de Loucos", "Serena",
"Diva"; "Na Minha Boca" e “Instante de Ser”, tinham
qualidade, ao considerar-se as nossas condições humildes nessa época. Anos depois, "Na Minha
Boca" e “Instante de Ser” entraram para o repertório do Língua de Trapo, e
fizeram sucesso nos shows, por exemplo.
Tenho saudade desse tempo pelos shows que
assisti. Pelas andanças por teatros; salas de cinema; exposições; museus;
palestras...
Foi uma época em que fui um consumidor
voraz de cultura em geral, mas a amálgama fora o Rock, e os ideais hippies,
contraculturais etc. Tenho saudade da alegria que sentia quando acordava na
manhã de um sábado, e sabia que ensaiaria naquele dia. Cada ensaio representava
mais um passo em direção ao sonho. O cabelo pela cintura; as batas indianas, e
a calça boca de sino, com remendos coloridos... meus pais achavam que era roupa
de festa junina, mas eu achava o máximo andar vestido parecido com ícones meus
que assim trajavam-se, como Roger Daltrey ou Neil Young...
Nenhum comentário:
Postar um comentário