sábado, 2 de agosto de 2014

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 155 - Por Luiz Domingues


Passado o soundcheck, tivemos um bom período de espera pela frente. Demos uma volta pela Lapa, caminhamos um pouco pela Cinelândia, e voltamos ao Circo Voador. A primeira atração do dia, foi o "Vento Sul", que sinceramente não lembro-me exatamente de sua apresentação, pois nessa hora, estávamos no camarim. O "Gato de Louça", eu assisti uns trechos pela coxia, e pareceu-me uma boa banda, com músicos de bom nível e arrisco dizer que tinham alguma influência de Jazz-Rock setentista, e convenhamos, é preciso ter nível técnico para arriscar-se nessa complicada área musical. Os próximos seríamos nós... 

A Maria Juçá deu-nos o aviso e fomos ao palco, com bastante confiança, apesar do mau humor crônico do vocalista, Chico Dias. Infelizmente, demos muito azar, pois já antes da primeira atração subir ao palco, uma chuva torrencial caíra. E continuou, a prejudicar a presença de um público melhor. Enquanto tocávamos, a chuva apertou ainda mais. Durante o nosso show, deu para ouvir o barulho de relâmpagos, para demonstrar que a situação estava feia, na rua. 

Convenhamos, as atrações não foram chamativas o suficiente para atrair um grande público ao Circo Voador, apesar de ser um sábado.
O único nome mais significativo, seria o de Luciano Alves, mas mesmo assim, foi algo bem distante da ideia de que ele fora tecladista dos Mutantes em sua fase final etc. E naquele ambiente oitentista hostil, era até melhor omitir isso, falar em Rock Progressivo setentista etc. Os demais, incluso, A Chave do Sol, eram desconhecidos do público carioca e à margem do BR-Rock oitentista e midiático, em voga. 

Sendo assim, o público era muito diminuto, ao considerar-se o registrado na noite anterior, que superlotou o Circo Voador, graças a três nomes fortes do BR-Rock 80's, conforme já citei anteriormente. Em relação à nossa apresentação, apesar de ser um público pequeno, foi bastante caloroso e arrisco dizer que havia pessoas ali motivadas pelo fato da música "Luz", estar a tocar na programação da rádio Fluminense FM, há meses. 
A nossa performance foi muito boa. Não deixamo-nos abalar pelo pouco público, tampouco pela chuva diluviana que caía, com direito à raios & trovões ensurdecedores. Tocamos com muita energia. O vocalista, Chico Dias, fez até um solo vocal, a imitar bastante o Freddie Mercury, o que deixou-nos um pouco apreensivos, pois com pouca gente no ambiente, tendia a ser constrangedor, devido à insistência dele em cobrar interatividade das pessoas. 

Mas demos sorte, pois os poucos presentes, responderam o convite à participação e tudo encaixou-se a contento. Pelo contrário, talvez tenha passado uma imagem de segurança por parte dele e da banda, e de certa forma, "pegou bem". Desse show, tiramos muitas fotos, e a minha foto individual na contracapa do EP que lançaríamos no ano posterior, 1985, foi extraída daí. Eu estava todo de preto, com calça e camisa de cetim brilhante, em um visual ultra setentista. Pareço o Ritchie Blackmore em seus dias gloriosos no Deep Purple ou no Rainbow, nas fotos. Apesar do pouco público presente, creio que cumprimos a nossa missão, e saímos satisfeitos do palco. 

Assistimos um trecho do show de Luciano Alves, que parecia mesmo uma tentativa de fazer-se algo Pop, mas com elementos setentistas discretos na sua música. Enfim, nem era explicitamente oitentista, mas também não assumia-se como algo setentista, portanto, foi um híbrido indefinido, infelizmente.
No camarim do Circo Voador : Rubens; eu (Luiz Domingues), e Chico Dias. Clicks (todos desse show, inclusive) de Claudio "Capetóide" de Carvalho

Esse show ocorreu no dia 20 de outubro de 1984, um sábado, com cerca de quatrocentas pessoas na plateia. Hoje eu soltaria rojões em tocar para um público com quatrocentas pessoas, mas naquele momento, achávamos pouco, diante das quase duas mil que espremeram-se no Circo Voador, na noite anterior, que descrevi capítulos atrás. Fomos jantar nas imediações, e dormir em um hotel ali próximo, na Lapa. 

No dia seguinte, quando acordamos, decidimos esticar um pouco a nossa passagem pelo Rio, para tentar levantar o astral do Chico Dias. Guardamos os instrumentos e a bagagem no guarda volumes da rodoviária e fomos dar uma volta pela zona sul. Demos uma volta por Ipanema, e na rua Prudente de Moraes, encontramos por acaso o ex-apresentador do programa : "A Fábrica do Som", Tadeu Jungle. Ele ficou surpreso por ver-nos a circular por ali, mas também mostrou-se contente por constatar que estávamos a subir na carreira, pois tocáramos em um lugar badalado do Rio de Janeiro, onde certamente o fato de termos apresentado-nos tantas vezes naquele seu programa (que repercutia nacionalmente), havia  ofertado-nos boas possibilidades. 

Isso foi verdade, claro que sabíamos disso, e estávamos a tentar agarrar todas as oportunidades que estavam a surgir a nossa frente. Depois desse encontro inusitado, fomos a caminhar até Copacabana e alguém sugeriu que prolongássemos o passeio até a Urca, para um realizarmos uma ação típica para turistas...

Continua... 

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