Algumas bandas tocaram e de fato, como o Mister Sam dissera-nos, (com exceção do Anthro e do Lixo de Luxo que eram bandas formadas por bons músicos, e eram até anacrônicos nos anos oitenta, pois traziam nítidas influências setentistas em seus respectivos trabalhos), o restante dos participantes eram bandas de formadas por garotos muito inexperientes, completamente desconhecidas, e em sua maioria, orientadas pelo Heavy-Metal, barulhentas e infantiloides, como seria por esperar-se. Havia também o "Nota Fiscal", como uma banda que buscava a sorte no nicho New Wave, ao tentar assegurar o vácuo do humor de bandas como Magazine; Ultraje a Rigor etc. Tocamos como trio, com a garra habitual, e sem nenhuma falsa modéstia, tampouco soberba, por favor não interprete-me mal o leitor, é claro que destacamo-nos em meio àqueles garotinhos em plena adolescência (referiro-me aos desconhecidos, que fique bem claro).
Essa matéria saiu na edição de outubro de 1984, na revista Rock Stars, nº 11
"Classificamo-nos" para uma nova etapa, porém, esta nunca foi marcada para uma outra oportunidade, e pior ainda, jamais ocorreu o tal show com cachet que fora-nos prometido. Paciência. Na saída, peguei carona com um amigo. Já passava das 2:00 h. da manhã, e eu não tinha alternativa para sair dali, a não ser com essa carona caridosa. Mas, infelizmente, eu não poderia imaginar o risco que estava a correr, ao aceitar tal oferecimento...
Essa matéria acima saiu na Folha de São Paulo, e fala sobre a cena do Heavy Metal em 1984, ao usar o gancho de um show ao ar livre que estava a ser anunciado para ocorrer na Praça da Sé, no centro de São Paulo. E ainda como mote jornalístico, o fato de que o Teatro Lira Paulistana tornara-se um ponto de encontro para shows do gênero. A Chave do Sol é citada en passant como membro desse rol. Duas curiosidades na foto : a banda a apresentar-se é o "Santuário", que era da cidade de Santos, e na plateia, a segunda pessoa da esquerda para a direita, no primeiro degrau da arquibancada, é o hoje saudoso, Hélcio Aguirra, na ocasião, guitarrista do Harppia, e posteriormente, do Golpe do Estado. Esse recorte de jornal pertence ao acervo do poeta, Julio Revoredo, que gentilmente emprestou-me para ilustrar este capítulo.
O rapaz em questão, estava acompanhado de sua namorada, e o clima entre eles parecia não estar muito bom. Bem, claro que eu não tinha nada com isso, e também não poderia supor que correria risco de vida em poucos minutos, por conta desse clima gerado entre o casal. Sentei-me no banco de trás, naturalmente, e mantive-me calado, ao reservar-me em um momento de tensão alheia. Então, quando o carro pôs-se em movimento, percebi que eles resmungavam com animosidade entre si.
À medida que o carro avançara em direção à Avenida Santo Amaro, os resmungos aumentaram, e o clima pôs-se a azedar. Quando já estávamos na avenida, percebi que o rapaz pisara mais firme no acelerador, conforme a discussão acalorou-se. Na rampa de acesso em direção à Avenida Brigadeiro Luiz Antonio, a discussão explodiu. Já não resmungavam mais, pois entraram nos gritos mediante a verbalização de ofensas e a estabelecer o choro compulsivo, de ambos. E o pé no acelerador, respondeu ao impulso da cólera, para ir até o fundo...
Tudo bem que passava das 2:00 h. da manhã, mas o rapaz perdeu a noção completamente, e ultrapassou todos os semáforos vermelhos, em uma velocidade absurda, ao deixar-me apavorado no banco traseiro. Só restou-me torcer para não haver uma colisão, o que teria sido gravíssima naquelas circunstâncias.
Passar a voar pelo semáforo vermelho da Avenida Brasil, entre outros cruzamentos perigosos da Avenida Brigadeiro Luiz Antonio, foi de uma imprudência ímpar. Quando o carro perdeu velocidade, enfim, quase na altura da Rua Tutóia, o motorista resolveu parar, e sob uma rápida conversa com a moça, pareceu-me que chegaram a um acordo, para selar a paz. Um pedido de desculpas lacônico foi feito direcionado à minha pessoa, com o rapaz a olhar-me pelo retrovisor, e claro, o que importou-me naquele instante, fora o fato de nada ter acontecido, e estarmos vivos, sãos e salvos.
O bizarro dessa história, foi que eu não senti em nenhum momento, no momento durante e no posterior, que o casal mensurou o perigo que corremos. Fiquei com a nítida impressão de que relevaram o perigo real que corremos, em detrimento de sua estúpida briga de casal, que deve ter sido motivada por ciúmes, dentro daquela danceteria. Bem, o meu anjo da guarda é forte, ou foram os Deuses do Rock, pois sobrevivi, passei por uma série de acontecimentos, e estou aqui a escrever essa história, quase vinte anos anos depois (refiro-me à data quando escrevi o original deste trecho da autobiografia no Orkut, em 2013). Mas o final de semana seria bem cheio. Tínhamos importantes compromissos, e uma surpresa desagradabilíssima a ocorrer nos próximos três dias...
Continua...
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