quinta-feira, 10 de julho de 2014

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 132 - Por Luiz Domingues

E como tínhamos compromissos marcados para um curto espaço de tempo, decidimos só promover a estreia do Chico Dias, em um outro momento adiante, com maior segurança. Por isso, fizemos os shows mais próximos ainda no formato de um "Power-Trio", ao adiar a estreia dele para setembro. 

Nesse ínterim, ficara dramática a sua adaptação, como eu já citei anteriormente. Apesar de ter aprendido a deslocar-se da casa do poeta, Julio Revoredo, para o ensaio, até a residência do Rubens (sendo inclusive ciceroneado pelo próprio Julio, nos primeiros dias), isso o assustava. 

Mas havia outros temores da parte dele, indisfarçáveis e que compreendíamos, pelas circunstâncias. Por exemplo, notamos que ele evitava sempre ocupar o banco do passageiro, no carro do Rubens, ou no do Zé Luiz. O motivo fora prosaico: ficava apavorado com o movimento, principalmente em relação ao enorme fluxo de ônibus nas grandes avenidas. 
E logo deu mostras de que estava com saudade de sua rotina caseira, ao lado da família, e na segurança de sua pequena cidade. Foi muito natural que sentisse tal nostalgia, entendíamos, mas ao mesmo tempo, preocupava-nos, pois mal estávamos a iniciar a convivência, e não havia acontecido ainda nenhum show sequer. Lembro-me dele a tecer comentários singelos do tipo: "três da tarde... nesta hora, a minha mãe estava a preparar-me um mingau"... com o seu forte sotaque gaúcho.
Se por um lado entendíamos a sua nostalgia, e relevávamos o fato de ser duro para ele estar em São Paulo, para arriscar uma carreira e a contar com o respaldo de estranhos, praticamente, por outro aspecto, ao enxergar pelo aspecto frio, foi preocupante também para nós, termos feito uma aposta em alguém tão novo e tão longe de sua casa. Se ao menos o rapaz fosse paulistano e tivesse a estrutura familiar presente, tudo seria mais fácil para ambos, é claro. Mesmo sendo bastante imaturo, daria para nós arriscarmos a aposta, baseado no potencial artístico dele. Porém, sem respaldo sócio familiar, tudo amplificou-se em termos de insegurança mútua. 

E ainda havia outros aspectos: além de prepará-lo para o palco, preocupava-nos a sua imaturidade para ser um "frontman", em um momento crucial no qual a banda estava a obter oportunidades na mídia. Como comportar-se-ia eventualmente em uma entrevista (e de fato, teríamos que submetê-lo a isso), e diante desse fato, preocupamo-nos pois logo surgiriam tais compromissos? Tanto no rádio, quanto na TV, seria inevitável que dessem-lhe a palavra, mesmo se nós três, mais tarimbados e acostumados, tomássemos a dianteira. Seria natural que o "vocalista" fosse procurado pelo entrevistador, até mais do que qualquer outro membro do grupo. 

E mais um fator: em um momento em que estávamos a aprimorar o nosso figurino, ele chegou em São Paulo, despreparado nesse quesito. Portanto, foi mais uma preocupação que tivemos...

Continua...

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