sexta-feira, 18 de julho de 2014

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 141 - Por Luiz Domingues

Antes do próximo compromisso, tivemos uma missão a envolver produção. O Chico Dias alegou que precisava voltar à sua cidade, Rio Grande / RS, para buscar mais alguns objetos pessoais seus, e perguntou ao Rubens, se ele aceitaria ir junto, pois poder-se-ia tentar arrumar uma alguma coisa produtiva para a banda, em Porto Alegre, onde morava a sua namorada, e ela, de fato, possuía alguns contatos interessantes na capital gaúcha. Ao aproveitar a deixa, eu mesmo resolvi ir ao Rio de Janeiro, onde eu também tinha alguns contatos e assim, em setembro, fomos fazer produção em duas frentes fora de São Paulo. 

Em Porto Alegre, Rubens e Chico visitaram a Rádio Ipanema FM e concederam uma entrevista. Essa emissora, assim como a Rádio Fluminense FM do Rio, mantinha uma programação 100% Rocker, e já estava a tocar o compacto d'A Chave do Sol. Portanto, o contato da "guria" dele, abriu uma porta, mas a banda já tinha uma excelente receptividade na emissora gaúcha e assim, a entrevista foi feita de uma forma instantânea, sem reservas. De minha parte, no Rio de Janeiro, visitei a redação da Revista Roll, e entreguei Bottons; camisetas e mais discos aos membros da sua equipe ali presentes. Contudo, a missão mais certeira mesmo, foi ter levado material da banda no Circo Voador, e entregue nas mãos da Maria Juçá, a produtora que cuidava do espaço, junto com o ator, Perfeito Fortuna.
                          Maria Juçá em foto bem mais atual

Ela foi muito receptiva e falou-me que o Circo iria organizar um festival de grande porte, e que já garantira um patrocínio forte etc. Seria com o apoio da Petrobras, estatal peso pesado, e que dispensa apresentações. E também já tinham contratado diversos artistas do BR-Rock' 80's, muitos deles, estrelas do mainstream. Ela analisaria o nosso material com carinho e senti que daria certo, pois ela alegou saber que tocávamos na programação da rádio Fluminense FM, além de também saber que o nosso disco era do selo Baratos Afins, pois isso pesou, visto conhecia o Luiz Calanca, e mais um fator positivo : o contato dela havia sido passado pela Cida Ayres, produtora do Língua de Trapo, e por conhecer a Cida, isso também reforçara a sua boa vontade para conosco. Então, essas duas viagens culminaram em ser benéficas para a banda, sem dúvida alguma. 

O próximo compromisso seria em São Paulo, onde finalmente o Chico Dias faria a sua estreia na capital paulista, berço natal de nossa banda, e diante do público em expansão que alcançávamos. Tocaríamos em um salão de nome estranho, mas que mantinha uma tradição na cidade e segundo constava, existia desde 1971, chamado : "Fofinho Rock Clube". A sua localização desde a fundação, era na Av. Celso Garcia, bem em frente a uma guarnição do Corpo de Bombeiros, no Belenzinho, bairro da zona leste de São Paulo. 

Tratava-se de um salão com médio porte, que possuía dois ambientes distintos, um parecido com um lounge e bar; e outro, a conter uma pista de dança com bastante iluminação e um P.A. que continha muita potência, o suficiente para sonorizar um show em ambiente de teatro. Apesar de ter ares de uma discothèque e privilegiar o som mecânico quase o tempo todo, a proposta sonora, desde o início de suas atividades, sempre foi tocar Rock e também a MPB setentista. O seu público habitue, era formado por Hippies; Freaks & Rockers nos anos setenta, contudo, com o avançar da década de oitenta, também tornou-se um espaço para adeptos do Heavy-Metal, os tais "headbangers", típicos daquela década. 

Mas por ter essas raízes Rockers setentistas, ainda mantinha um público composto por Hippies anacrônicos, pejorativamente chamados como : "Bichos Grilo". Recebemos o convite para uma apresentação em 1984, pois a casa estava finalmente a abrir espaço para shows ao vivo, ainda que ao mesclar a sua tradição de trabalhar com som mecânico, prerrogativa que perdura inclusive até os dias atuais (2014), inclusive. Nessa fase oitentista, eles costumavam dividir o seu público. O domingo geralmente era reservado aos apreciadores de som das décadas de 1960 / 1970 e aos sábados, apresentava programação Heavy-Metal, com esse tipo de público a comparecer em massa. Fomos tocar então, no dia 6 de outubro de 1984. Dividiríamos a noite com a banda : "Performance's", oriunda do ABC paulista, cujo vocalista, Robson Goulart, tornou-se nosso amigo, doravante. A casa estava estava com um bom público em suas dependências, mas o som não estava bom. Se tivessem feito o show no andar superior, onde funcionava a pista de dança, teria sido muito mais adequado. Mas resolveram improvisar um palco no andar inferior, e pior ainda, com uma estrutura de som e luz muito aquém do que possuíam no outro patamar. 

Mesmo assim, a nossa apresentação foi energética, com o Chico Dias a sentir-se mais seguro e até permitir-se alguma margem de improvisação, quando imprimiu um ritmo de mise-en-scené forte, que deu-nos muitas esperanças de que ele melhoraria a cada show, ao estar pronto para apresentações com maior porte, muito rapidamente. Cerca de trezentas pessoas assistiu-nos nessa noite de um sábado, e no dia seguinte, teríamos outro compromisso, em um outro canto da cidade, o Centro Cultural do Jabaquara, um arrumado e novo espaço da Prefeitura, instalado recentemente naquele tradicional bairro da zona sul de São Paulo.


Continua... 

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