Então, nesse ínterim do Chico Dias ter voltado à sua cidade natal para
preparar a sua mudança para São Paulo, passamos um bom tempo a procurar
uma moradia para ele. Naturalmente, não tínhamos condições de
abrigá-lo em nossas respectivas residências e dessa forma, a nossa ideia
original foi buscar uma acomodação em uma pensão, onde ele pudesse ter um
quarto privativo, ao menos.
Com a verba curta e na impossibilidade dele
bancar-se sozinho por muito tempo, foi a mais razoável alternativa,
visto que não dava para pensar em alugar uma casa ou apartamento para
ele viver com maior comodidade. Tínhamos a esperança, todavia, de que
essa acomodação em um pensionato simples, seria momentânea e com a banda
a alçar voos maiores, ele poderia enfim acomodar-se com maior conforto. E
a busca começou pela maneira mais usual que dispúnhamos nos anos 1980,
em uma fase pré-internet popularizada : através de um jornal de
classificados chamado... "Primeiramão".
Havia uma infinidade de
anúncios de pensionatos a oferecer quartos e dessa forma, selecionamos
os mais próximos da residência do Rubens, ao pensarmos na facilidade do Chico Dias
poder locomover-se, e principalmente ao levarmos em consideração o fato dele não
conhecer absolutamente nada em São Paulo. Claro, o fator financeiro também pesou e não podia ser muito caro. A nossa
busca foi intensa e também bizarra em alguns momentos. Lembro-me em ter
visitado pelo menos entre oito a dez pensionatos e em alguns casos, termos observado
reações estranhas por parte de seus donos. Por exemplo, em um
deles, quando viram-nos, resolveram simplesmente mentir, ao alegar que a
vaga estava preenchida.
Hilário ... sentimo-nos como naqueles filmes
norteamericanos a focar em preconceito contra negros; índios ou mesmo
hippies...
Em outro, foram simpáticas senhoras idosas a receber-nos e que ao contrário do anterior, adoraram-nos , pois éramos cabeludos, mas bonzinhos, educados... e dessa
forma, ofereceram-nos chá, biscoitos etc. Nesse pensionato, pareceu-nos ser um ambiente familiar
decente, e ficou entre as casas favoritas para fecharmos negócio. E em um
outro, foi demais o que observamos ! Tratou-se de uma casa sinistra, com retratos estranhíssimos pelas
paredes, a parecer um mausoléu. Com decoração lúgubre, assemelhou-se à mansão da
Família Adams...
A senhora que nos atendeu, pareceu uma personagem dos filmes
do Zé do Caixão e por mais engraçado que parecesse, não achamos
adequado colocá-lo ali, pois em dois ou três dias ele entraria em
depressão, certamente. Todavia, mesmo nas casas onde achamos condições boas
para o Chico viver, o fator aluguel preocupava-nos. A banda crescia e
tinha uma agenda em expansão, contudo ainda não tínhamos uma
estabilidade que permitisse a plena segurança financeira. Seria um risco grande que correríamos e para ele também, é claro.
Ao enxergar
com o prisma da minha atual idade, sem dúvida que foi uma loucura
bancar a vinda dele sob uma circunstância assim. Da parte dele, mais ainda,
ao considerar-se que era um garoto, com apenas dezoito anos de idade naquela
ocasião. Todavia, admiro o arrojo e sobretudo a confiança que
tínhamos no trabalho. A confiança que mantínhamos no sucesso da banda, era
muito grande, e isso é algo a ser considerado. Estávamos quase
a fechar com uma pensão, apesar do aluguel estar acima do razoável para
as nossas posses, quando uma solução doméstica e providencial surgiu,
através de um grande amigo e colaborador da banda...
Continua...
Neste meu segundo Blog, convido amigos para escrever; publico material alternativo de minha autoria, e não publicado em meu Blog 1, além de estar a publicar sob um formato em micro capítulos, o texto de minha autobiografia na música, inclusive com atualizações que não constam no livro oficial. E também anuncio as minhas atividades musicais mais recentes.
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