quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Autobiografia na Música - Pitbulls on Crack - Capítulo 53 - Por Luiz Domingues

Nessa época, recebemos um telefonema que veio da gravadora Roadrunner. Esse selo europeu (proveniente da Holanda), e que detinha o "Sepultura" em seu elenco, havia recentemente aberto uma representação no Brasil, e por uma feliz coincidência, a diretora artística da seção brasileira havia indicado-nos ao diretor geral, e este, ao ver-me na foto da banda, reconheceu-me de pronto...

       Jerome Vonk, diretor geral da Roadrunner Brasil, em 1994

Tratava-se de Jerome Vonk, o empresário com quem trabalhei na minha segunda passagem pelo Língua de Trapo, entre 1983 e 1984. Em princípio, foram marcadas reuniões prévias com a Alê, diretora artística e baixista / vocalista do "Pin Ups", uma banda Indie famosa na cena paulista, desde o final dos anos oitenta. 

Alê, baixista / vocalista da banda indie, "Pin Ups", e diretora artística da Roadrunner Brasil, naquele momento de 1994

A ideia inicial seria lançar um CD, com gravações produzidas no bom estúdio "Be Bop", onde havíamos gravado a coletânea da gravadora Eldorado, em 1993. As primeiras conversas giravam em torno dessa ideia. Segundo disse-nos, a gravadora estava disposta a contratar cinco bandas da cena indie daquela atualidade, e com uma verba fixa para cada grupo, a ideia seria cada artista cuidar de sua produção, com a obrigação de gravar no Be Bop (naturalmente haveria um desconto por ser um pacote "1x5"), e entregar o tape mixado no prazo estabelecido. Mostrara-se um esquema bastante confortável, no sentido de que a gravadora cuidaria de toda a produção, nos moldes das gravadoras grandes, com o advento de não haver ingerências desagradáveis em nosso conteúdo artístico, embora com a responsabilidade de sermos muito rápidos no estúdio, e com a advertência de precisarmos de cobrir do próprio bolso, qualquer despesa contraída além da verba destinada pela gravadora. Nos contatos iniciais, tivemos a informação que já haviam contratado outras bandas. Lembro-me do Viper, nessa altura uma banda sedimentada e veterana no cenário do Heavy-Metal, entre elas. O "Garage Fuzz", de Santos / SP era outra e as outras seriam : "Zero Vision"; "Lethal Charge"e "Killing Chainsaw". O tempo pôs-se a passar, e começamos a notar que o combinado inicial mudara. Agora pediam-nos sempre mais tempo, e o contrato nunca era assinado, efetivamente. Cansados, pedimos uma definição, e só aí a Alê disse-nos que o grupo orientado pelo Heavy-Metal, Viper estourara a verba no estúdio, e dessa forma, inviabilizou-se a nossa contratação. Mas... e aquela conversa de verba fixa, e equânime entre os artistas ? 

Bem, o Viper era mais famoso, e tornou-se uma prioridade para a gravadora, segundo ela. Em conversa reservada com o Jerome, com quem eu tinha liberdade, infelizmente a justificativa também foi evasiva, pois este alegou cuidar de questões gerais da gravadora, e na parte artística, não envolvia-se, ao ter dado carta branca à Alê. Então, tá...

Foi assim o efêmero contato com a gravadora Roadrunner, a resumir-se a uma série de reuniões que revelaram-se infrutíferas, na medida em que nunca chegamos a uma definição satisfatória. Como fato curioso, apenas relato que o Jerome disse-me uma coisa inusitada em uma dessas ocasiões em que encontramo-nos no pequeno escritório situado na Vila Madalena, zona oeste de São Paulo : -"vocês representam a única banda que entrou neste escritório, cujos membros não tem sequer uma tatuagem ou piercing..." 

Respondi também na base do humor, mas com uma verdade implícita : -"é por que somos Rockers, e não somos marinheiros, tampouco presidiários"... Na piada, foi embutido um conceito perdido no Rock, e que representa bem o que foram os anos noventa, enquanto cenário antagônico aos verdadeiros ideais Rockers...


Continua...

2 comentários:

  1. As bandas contratadas foram...

    Zero Vision
    Lethal Charge
    Killing Chainsaw

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  2. Grande Jason, sempre trazendo o adendo com as devidas correções, sempre bem vindas !!

    Abração !

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