quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Autobiografia na Música - Boca do Céu / Bourréebach - Capítulo 49 - Por Luiz Domingues


Os responsáveis pelo equipamento, chegaram sem nenhuma pressa, a descarregar o caminhão, e montá-lo no palco, como se fossem oito horas da manhã, em uma demonstração de descaso, abominável. Claro, um funcionário do colégio veio advertir-nos que estava "cancelado" o soundcheck, e que deveríamos tocar sem preparar o som, assim que recebêssemos a ordem. Nesta altura, os participantes do bingo já lotavam o pátio e o som dos alto-falantes do colégio, tocava de Roberto Carlos a Sidney Magal, a todo o vapor.

Quando os responsáveis pelo equipamento locado, sinalizaram que estava tudo ligado, recebemos a ordem para começar, e aí o óbvio consumou-se : uma maçaroca sonora horrível, com um show de microfonias e embolações provocadas por uma frequência grave e tenebrosa. Claro que estava tudo horrível, e que a monitoração estava ridícula. Lamentamos muito o ocorrido, pois estávamos preparados para fazer uma boa apresentação, mas saímos do palco com uma sensação de frustração total. O Cido havia levado dois amigos de última hora para tocar percussão, conosco. Era na verdade uma forçação da parte dele, desnecessária, e que em nada acrescentaria ao som da banda, mas... estávamos ainda nos anos setenta, e loucuras assim eram consideradas normais, e de certa forma, tinham um certo élan...
Antes do bingo começar, tocou-se o Hino Nacional, mas era previsível, pois estávamos em plena ditadura, e ali era um colégio católico. Os amigos freaks do Cido eram : Marcão e "Cabelo". Tocaram caxixis; cowbell, e uma pandeirola. Realmente não acrescentaram nada com sua percussão inútil, jogada a esmo.

           O saudoso psiquiatra / pensador, José Angelo Gaiarsa 

Esse "Cabelo", era um freak que morava no bairro vizinho ao meu e de Cido, o Belém, na zona leste de São Paulo, e nessa mesma época envolvera-se com uma trupe de Teatro, e estes foram parar em um exótico programa da TV Bandeirantes, protagonizado pelo psiquiatra, José Angelo Gaiarsa. Segundo soube, essa turma “turbinava a cabeça” nos bastidores, pouco antes de entrar no estúdio, e aí a sessão psicanalítica conduzida pelo Doutor Gaiarsa, tornava-se uma verdadeira farsa, baseada em um festival de besteiras ditas por aqueles hippies cabeludos, e com os olhos vermelhos... quanto ao tal Marcão, eu não o conhecia, de fato, só de vista, mesmo. 


Continua...

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