Os responsáveis pelo equipamento, chegaram
sem nenhuma pressa, a descarregar o caminhão, e montá-lo no palco, como se fossem oito
horas da manhã, em uma demonstração de descaso, abominável. Claro, um funcionário do colégio veio
advertir-nos que estava "cancelado" o soundcheck, e que deveríamos
tocar sem preparar o som, assim que recebêssemos a ordem. Nesta altura, os
participantes do bingo já lotavam o pátio e o som dos alto-falantes do colégio,
tocava de Roberto Carlos a Sidney Magal, a todo o vapor.
Quando os responsáveis pelo equipamento
locado, sinalizaram que estava tudo ligado, recebemos a ordem para começar, e aí
o óbvio consumou-se : uma maçaroca sonora horrível, com um show de microfonias
e embolações provocadas por uma frequência grave e tenebrosa. Claro que estava tudo
horrível, e que a monitoração estava ridícula. Lamentamos muito o ocorrido,
pois estávamos preparados para fazer uma boa apresentação, mas saímos do palco
com uma sensação de frustração total. O Cido havia levado dois amigos de última
hora para tocar percussão, conosco. Era na verdade uma forçação da parte dele,
desnecessária, e que em nada acrescentaria ao som da banda, mas... estávamos
ainda nos anos setenta, e loucuras assim eram consideradas normais, e de certa
forma, tinham um certo élan...
Antes do bingo começar, tocou-se o Hino Nacional,
mas era previsível, pois estávamos em plena ditadura, e ali era um colégio
católico. Os amigos freaks do Cido eram : Marcão e
"Cabelo". Tocaram caxixis; cowbell, e uma pandeirola. Realmente não
acrescentaram nada com sua percussão inútil, jogada a esmo.
O saudoso psiquiatra / pensador, José Angelo Gaiarsa
Esse "Cabelo", era um freak que morava no bairro vizinho ao meu e de Cido, o Belém, na zona leste de São Paulo, e nessa mesma época envolvera-se com uma trupe de Teatro, e estes foram parar em um exótico programa da TV Bandeirantes, protagonizado pelo psiquiatra, José Angelo Gaiarsa. Segundo soube, essa turma “turbinava a cabeça” nos bastidores, pouco antes de entrar no estúdio, e aí a sessão psicanalítica conduzida pelo Doutor Gaiarsa, tornava-se uma verdadeira farsa, baseada em um festival de besteiras ditas por aqueles hippies cabeludos, e com os olhos vermelhos... quanto ao tal Marcão, eu não o conhecia, de fato, só de vista, mesmo.
Continua...
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