terça-feira, 7 de outubro de 2014

Autobiografia na Música - Kim Kehl & Os Kurandeiros - Capítulo 4 - Por Luiz Domingues

Mesmo experiente, e no alto de meus cinquenta e um anos de idade completos, naquela ocasião, além de respaldado pelo fato de que estaria entre amigos, fui para o local da apresentação, com algumas ressalvas internas. Sabia que erraria, que seriam muitos os equívocos, naquela noite... 
O local em questão foi o Magnólia Villa Bar, uma casa que eu não conhecia pessoalmente, mas havia ouvido falar bastante, por conta dos comentários da parte de muitos amigos músicos que lá costumavam tocar e até por saber que os Kurandeiros ali apresentavam-se regularmente, pois eu notava manifestações de divulgação pelas redes sociais, e até a ocorrência de E-Mails que eu costumava receber do amigo, Carlinhos Machado. Cheguei com facilidade ao local, e tratava-se de uma quarta-feira fria em São Paulo, final de inverno de 2011. Assim que entrei no recinto, o Carlinhos veio cumprimentar-me efusivamente. 

O Kim avistou-me e também recebeu-me com muita festa. Conhecíamo-nos desde os anos oitenta, mas na verdade nunca havíamos conversado com maior profundidade. E nem mesmo quando o encontrei inúmeras vezes na loja de instrumentos & discos de nosso amigo em comum, o baixista, Sergio Takara, havíamos engatado uma conversa mais profunda. Contudo, somente pela recepção, notei que o Kim seria um daqueles amigos que parecia ser de infância, tamanha a sincronia que estabelecemos desde daí. 

Nesse dia, haveria também outras surpresas. Eu sabia que uma cantora estava que estava fixa no time dos Kurandeiros, e mesmo que eu não a conhecesse pessoalmente, tinha a noção de que ela era muito amiga de muitos amigos meus em comum, e o seu conceito entre eles, era o melhor possível, tanto como cantora, quanto pessoa. Tratava-se de Renata Martinelli, popularmente conhecida como "Tata". De fato, logo vi que ela era extremamente simpática e dessa forma, tornou-se uma amizade instantânea, também.

O tecladista da banda, Nelson Ferraresso, membro oficial dos Kurandeiros não estava presente por motivos particulares, mas nessa noite, um tecladista substituto estaria conosco, Tratou-se de um músico super experiente na noite paulistana, chamado : Dimas Ricchi. 

 

A sua esposa, Ivani Venâncio, também era (é) uma cantora excelente e experiente, estava presente, e no meio da apresentação subiu ao palco para cantar algumas músicas conosco. Soube no dia, ela era muito amiga da Renata, e ambas estavam acostumadas a cantar juntas em muitas circunstâncias, de bandas de Rock à orquestras; bandas de bailes; gravações etc.

Outro convidado da noite foi o saxofonista, André Knobl. Contato da Renata, estava ali presente também pela primeira vez. Rapaz novo, mas com forte bagagem técnica e teórica, revelou-se um músico excepcional, ao agregar muito com os seus solos e intervenções muito criativas. 

E finalmente, outra presença que eu não esperava encontrar naquela noite, mas apreciei bastante conhecer, foi o Ciro Pessoa. Prefiro esmiuçar a nossa conversa inicial em seu capítulo próprio (Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada), quando eu relato o início de meu trabalho como baixista de sua banda de apoio, mediante detalhes. Apenas para ilustrar aqui, em relação a isso, digo que uma frase que ele disse-me nessa noite, foi emblemática para que eu tranquilizásse-me em relação ao trabalho dele, e muito pelo contrário, serviu para que eu ficasse doravante, muito animado para tocar com ele : -"o Futuro é Pink Floyd"... bem, se eu nutria alguma reserva por ele ser egresso do universo do pós-punk oitentista, o muro de apreensão ruiu-se imediatamente depois dessa afirmação de sua parte... 


O Ciro também teve uma participação no meio da apresentação dos Kurandeiros. Tocamos : "Ruby Tuesday" dos Rolling Stones, por sugestão dele e "Ando Meio Desligado" dos Mutantes, também. Muito bem, senti-me muito confortável em relação às minhas expectativas sobre o seu trabalho, também depois dessa jam ali realizada. 

A produtora, Lara Pap, considerada uma componente dos Kurandeiros tamanha a sua importante atuação nos bastidores da banda

Lembro-me também em ter nutrido simpatia imediata pela Lara Pap, esposa do Kim. Figura sensacional como pessoa, e que acumula a função de produtora dos Kurandeiros. Hoje, dois anos depois (refiro-me a 2013, quando escrevi este trecho), digo que o Kim tem mais que uma esposa dedicada, mas sim um anjo da guarda. 

Enfim, com essa acolhida, senti-me muito acolhido entre os Kurandeiros, ao ponto de animar-me bastante em relação ao futuro. 

Quanto ao show em si, a dinâmica da banda girava em torno do Kim, obviamente, essa foi a minha primeira impressão. Contudo, ao contrário do que isso possa sugerir, de uma forma absolutamente leve, com muito bom humor, com um astral muito bom. Sim, tudo ocorria em torno dele, em meio às suas escolhas de repertório na hora, sem um set list pré-determinado, mas sem nenhum tipo de constrangimento, aborrecimento ou incômodo da parte de ninguém. Percebi que tratava-se de uma liderança natural, e sem nenhum resquício de nada que sugerisse algo pesado, negativo. Pelo contrário, adorei o astral da banda em todos os sentidos, até em relação a tal forma despojada para imprimir o tempo no palco, em meio à apresentação. 

Outra característica positiva, foi a performance pessoal do Kim. O Glauco Teixeira já havia alertado-me por E-Mail que o Kim era uma persona super divertida nos shows. De fato, apesar de ser um excelente guitarrista, e absolutamente versado no Blues; Rock tradicional; R'n'B; Soul; Country e derivados, a sua performance estava longe da figura sisuda de um virtuose. Pelo contrário, a sua comunicação com o público era muito boa, com brincadeiras espirituosas, muito improviso e interação, como revelarei posteriormente. O repertório foi baseado nos dois CD's oficiais da banda, mais diversas músicas lançadas na internet, e muitos clássicos do Rock e do Blues.

Cerca de cinquenta pessoas estiveram presentes nessa noite nas dependências do Magnólia Villa Bar, aliás, uma casa bastante agradável para apresentar-se. E registro ainda a visita ilustre nessa data do meu amigo, Glauco Teixeira, que mesmo tendo que sair cedo, foi assistir um pouco, e prestigiar a minha estreia, e justamente a substituí-lo na banda, visto que ele ocupara a vaga, imediatamente antes. E também registro as presenças da Reviane "Joplin", dona da loja Kozmic Blues, a loja mais Hippie Chic do Brasil, que vendia roupas incríveis para quem segue o visual rocker sessentista, e também o seu namorado, o famoso, Osvaldo Malagutti, ex-baixista dos Pholhas, e dono do estúdio Mosh, onde inclusive eu gravei o primeiro disco d'A Chave do Sol. 

Foi uma noitada prazerosa entre amigos, e o início de uma nova etapa na minha JÁ longa carreira musical, naquele ponto. Aconteceu em 24 de agosto de 2011, no Magnólia Villa Bar, no bairro da Lapa, zona oeste de São Paulo, sob o frio da noite paulistana de inverno, e perante cerca de cinquenta pessoas, aproximadamente... 


Continua... 

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