segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Autobiografia na Música - Pedra - Capítulo 17 - Por Luiz Domingues

Realmente essa é a minha metodologia na hora de gravar um disco.
Eu tenho as minhas influências na cabeça, e conforme identifico em uma música nova, características que remetem-me à qualquer influência dessas, vou deixar fluir naturalmente essa sincronicidade. Por exemplo, se identifico algo que lembre os anos sessenta em um a determinada canção, trato por afunilar tal percepção, até chegar ao ponto de semelhança, onde uma ou mais bandas dessa época, especificamente vem-me à minha lembrança.

Feito isso, identificada a influência, o meu arquivo interior começa  a formular lembranças de como esse ou aquele baixista da banda, ou das bandas em questão, tocaria; que formulações de frases usaria; qual instrumento usaria, e finalmente o timbre empregado. Aí imprimo esse estilo, claro, com a minha personalidade e o meu jeito pessoal para tocar.

Se a música pede um estilo, tenho tantas influências, que culmino em ter um manancial de ideias na imaginação, e raramente erro, pois toda essa resolução foi decorrente de uma observação da música em si, que praticamente pediu-me esse caminho. Esse é o meu método de criação. Deixo que ela peça-me a influência que quer que eu imprima, e o seu respectivo baixo adequado pelo timbre.

Por exemplo : se eu notar que ela tem um aspecto progressivo setentista, vou a acionar as minhas influências. Se sob uma segunda prospecção, noto que parece mais cerebral do que "silvestre" com raízes folk, descarto o Rickenbacker, tanto pelo timbre do "Yes", quanto "Renaissance", duas de tantas possibilidades em torno desse instrumento.

Praticamente centro os esforços no Precision, e vou especificar mais. Se tiver densidade, penso mais no som do John Wetton na época do LP "Lark's Tongues in Aspic" (King Crimson). Se for mais com brilho de médio / agudo, vou imaginar o som do Greg Lake no ELP, ou do Bert Ruiter do Focus... e estou a citar apenas alguns, entre centenas de nomes ! Muitas vezes, um mesmo baixista ou banda tem diversas nuances. Por exemplo : posso sentir uma influência Beatle, mas de que fase ?

Se tiver característica da época do LP "Revolver" é uma coisa; "Sgt° Peppers" é outra etc. Se lembrar-me o trabalho do "Wings", é um outro Paul McCartney que vou buscar, com o Rickenbacker usado com a chave de captador na posição do meio, a obter um lindo médio / grave anasalado. E assim por diante, sinto que as minhas influências representam o maior tesouro que tenho dentro da minha memória, exatamente por ter inúmeras referências. E tem o coração, também. Não é só o racional que trabalha, pois se não provocar emoção, nada funciona...
As minhas fotos a tocar ao vivo com o Pedra, deste capítulo, são todas de autoria da fotógrafa, Grace Lagôa

Continua...

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