quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 189 - Por Luiz Domingues


Outro dado interessante dessa época, a ser registrado : o volume de cartas que chegava à nossa caixa postal, cresceu de um forma acentuada. Tanto que começou a chegar-se em um ponto, onde não foi mais possível insistir com a maneira prosaica pela qual lidávamos com tal questão. No início, eu mesmo, pessoalmente, respondia todas as cartas. A não ser quando havia alguma solicitação de contato com o Rubens, ou Zé Luiz, eu encaminhava-lhes, mas em 99% das ocasiões, eu respondia a todas as cartas. Com o aumento do volume, que revelou-se na soma de todos os nossos esforços de divulgação, ficara nítida essa somatória, denunciada pelo próprio teor das missivas. Foram pessoas a abordar-nos por ter visto-nos em programas de TV; Rádio; ou por ter lido reportagens em revistas e jornais; além de também ter assistido shows ao vivo, e anotado o endereço por ouvir-nos a falar ao microfone; ou mesmo ao abordar um roadie da nossa equipe de apoio etc e tal. Então, ficou premente a necessidade para organizar melhor esse filão muito animador, onde poderíamos potencializar a divulgação da banda, e fazer dinheiro, se o fã clube viesse a tornar-se um catalisador de merchandising em nosso favor. Já tínhamos camisetas e bottoms, fora o disco inicial, como material a ser vendido nos shows ou pelo correio, mas começamos a pensar em uma ampliação dessas possibilidades. 

Mas para tanto, ficou fundamental a participação maior dos outros membros nessa empreitada, e claro, o Zé Luiz foi fundamental nesse processo de organização maior e melhor do fã clube, ao entrar com seu extraordinário poder de trabalho. Juntos, criamos uma estrutura que cresceu e foi a azeitar-se de uma forma acentuada, para atingir o seu ápice no ano de 1986, quando tornou-se uma autêntica fábrica rentável, e importante também na promoção da banda. 

Paralelamente, tivemos um revés mais ou menos em abril de 1985, mas que não desnorteou a banda, de forma muito acentuada. Como já comentei anteriormente, desde o início do ano, estávamos no elenco de uma produtora chamada, "Raio X", que trabalhava a carreira de artistas de peso, como : Arrigo Barnabé; Premeditando o Breque, e Sossega Leão, entre os mais proeminentes. O começo houvera sido promissor, com a dupla de empresários. Ricardo e Bia, a mostrar-se solícitos e animados com a inclusão d'A Chave do Sol, como a opção mais rocker ao seu cartel etc. 

Todavia,, com o passar dos meses, a nossa carreira não havia tido um sinal sequer de avanço por parte de algum esforço da parte deles. O que estávamos a conquistar, fora claramente fruto de nossos próprios esforços, amparados pelo bom embalo que tínhamos precipitado desde meados de 1983, somados aos recentes adendos de Mário Ronco e Antonio Celso Barbieri, e também, certamente, pelo Luiz Calanca, ao acenar com um novo álbum para breve. Enfim, da parte de quem mais contávamos, visto ser o nosso escritório empresarial oficial, nada acontecia. O único evento, paradoxalmente, fora proporcionado por nós mesmos, ao termos conseguido um anúncio na revista "Rock Show", ao promover o escritório "Raio X", através de uma carta que o vocalista Fran Alves, dispunha. Então, em uma reunião datada de abril de 1985, cobramos um empenho maior da parte deles e pelo menos conseguimos uma solução final, ainda que amarga, nessa infrutífera associação. Em uma conversa franca, Ricardo e Bia lamentaram, mas alegaram que estavam focados em duas frentes : A turnê de Arrigo Barnabé pela Europa, e a produção do novo LP do Premeditando o Breque, que assinara com a EMI-Odeon e que o casal iria passar uma temporada no Rio, a acompanhar a gravação, com a produção de Lulu Santos. 

Ora, claro que eram produções grandes e demandavam a atenção da dupla, mas foi o tal negócio : por quê não dimensionaram isso antes de contratar-nos ? Não sabiam que não reuniriam condições para trabalhar com tantos artistas simultaneamente ? Outra questão : um artista emergente, mas ainda não solidificado como A Chave do Sol esteve naquele instante, precisava de uma estratégia de ação mais incisiva, do que artistas consagrados como o Arrigo Barnabé, por exemplo, que não careciam de tanto esforço, ao caminhar sozinho, praticamente. Apreciamos a franqueza, e como fora um contrato verbal tão somente, não tivemos transtornos burocráticos com esse rompimento. Na parte estrutural, pouca coisa mudou em nossa vida. Na base do "trabalho de formiguinha", estávamos a crescer acima de nossas forças, pelo aspecto da proporcionalidade. Claro, se o casal tivesse empenhado-se condizentemente, poderia ter sido muito bom para ambas as partes, mas infelizmente não enxergaram o real potencial na banda, e preferiram centrar seus os esforços em artistas em que acreditavam muito mais. Quanto a isso, não tínhamos nada a reclamar, por tratar-se de escolha e estratégia. Contudo, ficou a dúvida : por quê não dimensionou-se isso, antes de contratar-nos ? Vida que seguiu... não foi a primeira, e tampouco a última vez em que tivemos frustração com empresários...

Continua... 

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