sábado, 22 de novembro de 2014

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 197 - Por Luiz Domingues


No dia seguinte a esse compromisso no Teatro Lira Paulistana, tínhamos um show de choque para cumprir em um evento organizado pelo Luiz Calanca, da gravadora Baratos Afins. O mote desse show, seria o lançamento de dois discos da Baratos Afins : o primeiro disco do Harppia ("A Ferro e Fogo"), e a coletânea "SP Metal ", com a presença de quatro bandas orientadas pelo Heavy-Metal. A Chave do Sol foi convidada a participar, mesmo não tendo nada a ver com os discos citados, mas como éramos do mesmo selo, e estávamos a gravar o nosso disco, não poderíamos recusar o convite, de forma alguma. 

O nosso temor inicial, foi que esse show pudesse desviar a atenção do público, ao inibir a sua presença no dia anterior, no Teatro Lira Paulistana. Por tratar-se de um show dotado de um maior porte, a ser realizado em um clube e com a presença de várias bandas, além de ostentar o mote de dois discos a ser lançados, temíamos por um certo prejuízo nesse aspecto. E de fato, ainda havia o empenho do Luiz Calanca em divulgar o evento, o que conflitava um pouco com o nosso esforço pelo show da noite anterior, ao levar-se em conta que no Teatro Lira Paulistana, ganharíamos com a participação da bilheteria, mas no show promovido pela Baratos Afins, seria uma participação sem cachet, apenas amparada pelo esforço colaborativo com o selo e em torno da sua divulgação análoga. 

Bem, situações assim são comuns na vida de qualquer artista, e não foi diferente conosco. Claro que aceitamos tocar e com boa vontade, mas independente desses temores, certamente que o Luiz Calanca sempre foi muito generoso para conosco, e mereceu o nosso apoio. Além do fato de sermos amigos dos membros das bandas que estavam envolvidas com tais lançamentos, e a óbvia oportunidade de mais uma aparição, a movimentar mais exposição na mídia em nosso favor. E lá fomos nós participar... 

Aconteceu no dia 23 de junho de 1985, e o local foi o salão de festas do Clube das Bandeiras, um clube particular e localizado em em um exótico recanto do bairro de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo. O exotismo em questão, ocorreu pelo fato do clube estar localizado em um ponto muito alto, onde o acesso principal para quem vinha pela Rua Cardeal Arcoverde, só seria possível a pé, e mediante a escalada de uma escadaria muito íngreme mediante  muitos degraus. O micro festival foi sido dividido em dois dias. No sábado, 22, o Harppia foi o Headliner, ao lançar o seu primeiro disco, e as bandas, "Santuário" e "Abutre", lançaram o álbum coletânea, "SP Metal", do qual participaram. Nesse dia, estávamos no Teatro Lira Paulistana, conforme já revelei no capítulo anterior. 
Luiz Domingues em ação com A Chave do Sol. Foto do show no Clube das Bandeiras - Acervo Baratos Afins

E no domingo, dia 23, nós fomos o headliner, apesar de sermos convidados, para complementar a noite com as bandas "Performance's" e "Korzus", também do a representar o álbum, "SP Metal". Claro, a ambientação foi toda de um show de Heavy-Metal, e o público esperado foi composto por aficionados desse estilo, os ditos "headbangers". O equipamento disponibilizado foi adequado ao tamanho do local, mas mediante um padrão de qualidade  razoável, apenas, sem muitos recursos. Tocamos um set list curto, com o caráter de um show de choque, com seis músicas somente, e claro, a priorizar as mais pesadas, condizentes com aquela circunstâncias do evento. Cerca de trezentas pessoas estavam presentes no salão, pela minha lembrança, mas sem uma confirmação oficial de borderô oficial, apenas a basear-me na minha impressão visual de momento. Sobre o show, foi bastante energético, mas não impressionou o público, que era bem radical e ansiava pelo Metal extremo do Korzus, principalmente. Lógico, não fomos hostilizados, mas foi possível sentir que o nosso som, que julgávamos estar muito pesado, além da conta do que  gostávamos pessoalmente, era uma "pena flutuante" para os padrões daqueles garotos radicais... 

Esse tipo de confronto com tal realidade, potencializava e muito o nosso questionamento interno sobre a escolha que fizéramos em direcionar o trabalho para esse nicho mais pesado. Será que estávamos no caminho correto ? É claro que não...

Fora tudo isso, aconteceu um fato improvável naquela noite, que é engraçado pelo aspecto da comédia a gerar uma lembrança engraçada, mas na verdade , foi dramático, e quase descarrilou para uma tragédia. Bem, ao final do show, em meio ao estrondo final e apoteótico que fizemos, o Zé Luiz empolgou-se e ao levantar-se na bateria, tomou uma atitude de baterista de banda mainstream, ao tocar em uma Arena gigantesca... 


A gesticular com todo aquele mise-en-scené típico de um Rock Star, fez uma onda cênica e enfim, atirou as suas baquetas para o público. Ainda no palco, pude ver alguns garotos a digladiar-se pelas baquetas, em meio a multidão, mas jamais poderia supor que algo muito diferente havia acabado de acontecer. No camarim, estávamos naquele momento pós-show, a atender pedidos de autógrafos; fotos; e os inevitáveis pedidos de palhetas; discos grátis e para algumas meninas mais abusadas, peças de nosso vestuário usado em cena. O clima era bom no camarim, quando de-repente aparece um garoto, acompanhado dos seus amigos, a abordar o Zé Luiz. Em princípio, claro que o Zé pensou tratar-se de mais um pedido de autógrafo, mas o garoto falou-lhe sobre as baquetas jogadas ao final do show. Lógico que o Zé Luiz pensou e falou para o rapaz : -"ah, então foi você que pegou a baqueta ? Quer um autógrafo" ?

O garoto respondeu que sim, mas na verdade, o seu objetivo foi duplo, pois o arremesso da baqueta trouxera-lhe um prejuízo pessoal... 


O ocorrido foi que segundo ele, a baqueta atingira o seu olho em cheio, e por conta desse impacto, a lente quebrara e ele precisava ser ressarcido para encomendar uma nova lente ! O Zé Luiz mudou o seu semblante na hora e assustado com a constatação de que causara um prejuízo e um grande risco de ferimento ao rapaz, perdeu-se o glamour do pós-show, completamente. Então, mediante a troca de contatos, Zé Luiz combinou com o rapaz para na segunda-feira posterior que encontrassem-se e daí seria tomada a providência sobre tal ressarcimento. Por essa situação, o Zé Luiz não esperava, tampouco ninguém da banda...

Antes de falar do próximo show, devo relatar mais uma aparição em programa de TV que fizemos, e no Realce, da TV Gazeta, onde já havíamos aparecido antes. Optamos pela não aparição do Fran Alves, mais uma vez, pois ainda não havia registro oficial de sua voz gravado e não faria sentido que fizesse parte de uma dublagem de uma música instrumental, como a que apresentaríamos, ou seja, "18 Horas". Mister Sam sempre improvisava em suas brincadeiras malucas e dessa vez o Zé Luiz antecipou-se e criou uma loucura cênica de última hora. Ao dispensar o uso de uma caixa e um prato, sempre usados nas rídículas mímicas das dublagens de TV, ele colocou um cesto de lixo que achara no estúdio e o colocou ali para simular uma bateria. Claro que o Mister Sam adorou a ideia e estimulou a conversa sobre uma bateria invisível, onde todos embarcarmos juntos com comentários estapafúrdios sobre isso. Na dublagem, Zé Luiz conhecia o seu solo registrado no compacto de 1984, tão bem, que o seu gestual foi quase perfeito, ao dar a impressão que tocava de verdade...

Veja o video abaixo, dessa aparição acima citada :
https://www.youtube.com/watch?v=OiDhGHdBR6M&spfreload=10
Continua...

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