sábado, 29 de novembro de 2014

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 205 - Por Luiz Domingues



Acontece, que apesar de eu ter sido jovem na ocasião (estava às vésperas para completar vinte e cinco anos de idade), o fato que eu já mantinha uma razoável experiência acumulada, e pressentia o lado negativo, inevitável desse tipo de exposição midiática coletiva. Dessa forma, quando os repórteres fotográficos convocaram os componentes das bandas para o registro da coletiva, eu tive um sentimento bem forte em não querer participar da foto. 

Sei que sob uma primeira instância, a minha atitude foi errada, pois se estávamos ali, não participar ou sentir vergonha em fazer parte daquela egrégora, não foi a melhor atitude a ser tomada, por inúmeros motivos. Preciso enumerá-las ? Bem, acho que sim, para não dar margem de dúvida ao leitor. Então, vamos lá :

1) Se a minha banda estava no evento, eu teria mais é que estar na foto;

2) Em respeito ao produtor do evento; produtores associados e ao Sesc, sem dúvida.

3) Não era hora para demonstrar arrependimento por decisões estratégicas equivocadas. Esse tipo de insatisfação deveria ser tratada de uma forma discreta, dentro do âmbito interno da banda, onde seria o lugar correto, não é mesmo ?

4) Arrependido por estar associado àquela cena infantojuvenil ? Ora, que outras opções melhores avistaram-se na década de oitenta, fora dessa dicotomia entre o Pós-Punk e o Hard / Heavy 80's ? 


Seria aquilo, ou procurar um salão de barbearia e providenciar um corte de cabelo curto e bem esquisito, e o pior de tudo, "desaprender" de tocar... 

Claro que exagerei bastante nas ponderações descritas acima, mas todas, tem o seu fundo de verdade, e não necessariamente estão obscurecidas nas entrelinhas. E para amenizar a minha predisposição para não participar da foto coletiva, houve o fato concreto de que muitos outros componentes de outras bandas também não participaram, pois era muita gente para ser enquadrada no click, e no cômputo geral, a falta de alguns rostos não faria diferença para a exposição das bandas. Por exemplo, ainda a falar sobre A Chave do Sol, o próprio Zé Luiz também não foi e ambos, eu e ele, assistimos de longe, ao concordarmos que a nossa participação provara-se desnecessária, visto que Rubens e Fran estavam a representar a nossa banda no registro fotográfico. E de fato, foi constrangedor o momento. E eu tenho total liberdade para descrever essa cena, sem medo de ofender ninguém, mesmo por que, sou amigo de muitos desses músicos presentes na ocasião, até hoje, e o que vou dizer é uma constatação concreta e entre a maioria que participou, realmente dou o desconto generoso de que eram muito jovens naquele momento, portanto... 

Enfim, aquela cena do Heavy-Metal oitentista era formada em sua imensa maioria, por músicos muito jovens, portanto, o grau de imaturidade era enorme. Isso refletia-se nas próprias bandas, mas exacerbava-se acintosamente, nas letras que escreviam; temáticas e com o reflexo direto no seu comportamento pessoal. Sendo assim, ao aglomerarem-se para fotos coletivas, era normal que portassem-se como garotos (que eram), eufóricos no pátio da escola, durante o horário do recreio. Instigados pelos repórteres fotográficos, sempre na sanha por poses ridículas que fossem mais chamativas, é claro que gritaram, a soltar os seus urros de "yeah", "Metal" e outras imaturidades análogas. Pior que tudo isso, quando as matérias foram publicadas, o teor mostrava-se sempre em tom pejorativo, jocoso e explicitamente na intenção em ridicularizar as bandas, ao reduzi-las à condição infantojuvenil. 

Quando corremos para a banca, para ver o material publicado, ficamos contentes pela exposição maciça e providencial para o evento, mas o lado negativo, aborreceu-nos, é claro. Enfim, eu precisava expor esse tipo de sentimento que sempre envolvia uma certa angústia e arrependimento, para ficar muito claro na minha autobiografia, que tal escolha, não foi a melhor, mas A Chave do Sol estava alojada em uma situação dramática em termos estéticos, para tentar adequar-se ao ambiente oitentista. Foi uma situação delicada, literalmente, onde tivemos que optar entre em estarmos com uma turma ou outra e na prática, não identificávamo-nos com nenhuma delas.

Continua...

Nenhum comentário:

Postar um comentário