sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 195 - Por Luiz Domingues

A testar um amplificador no Vice-Versa, com o apoio do técnico, Zé Luiz; Fran Alves (de costas); e com Rubens a observar.

Enfim marcamos a primeira sessão, e o planejamento foi composto em gravarmos todas as bases, ao vivo, certamente sob um esforço econômico, e assim a minimizar o uso das horas. Dessa forma, preparamo-nos nos ensaios e assim procedeu-se, com a banda super azeitada para encarar tal tarefa inicial. No caso d'A Chave do Sol, e das músicas desse novo disco, a complexidade dos arranjos mostrou-se enorme. A despeito do peso que o trabalho ganhou com essa tentativa de aproximação que buscamos com o nicho do Hard / Heavy, o apuro pelas linhas complexas de baixo e bateria, aliadas à grande profusão de convenções intrincadas, foi substancial, e dessa forma, gravar ao vivo, ao fazer valer três instrumentos simultaneamente, revelou-se como uma temeridade, pelo aspecto psicológico. Todavia, foi o que melhor poderíamos ter feito, e assim procedeu-se. 

O Fran Alves (sob um esforço admirável de sua parte, registre-se aqui), semanas antes de nós entrarmos em estúdio, tomou a dianteira em arrumar-me um amplificador com maior qualidade para a gravação. Claro que eu aceitei, e a banda inteira apreciou tal atitude. Então, com o apoio do Rubens e da sua decisiva carona, visto que nessa época, eu nem sabia dirigir, tampouco cogitava obter um carro próprio, fomos buscar esse amplificador emprestado. Tratou-se de um combo da marca "SWR", um aparelho que havia sido lançado no mercado ao final dos anos setenta, e que fazia sucesso entre músicos oitentistas. Contudo, para ser muito sincero, eu usei o aparelho em ensaios e não apreciei o seu som. O Fran Alves ficou um pouco desapontado, pois no seu conceito, tratava-se de um amplificador inquestionável, no entanto, eu não considerei haver nenhuma possibilidade que trouxesse um timbre razoável que fosse para o meu baixo Fender Jazz Bass. O meu sonho de consumo nessa época, era ter um "Acoustic", um amplificador norteamericano dos anos setenta, que aí sim, tinha possibilidades de timbragem, espetaculares, absolutamente idênticas às de baixistas que eu admirava, como John Paul Jones; Gary Thain, e outros tantos que destacaram-se na década de setenta. Bem, descartei o amplificador SWR, ainda no estúdio, e este aparelho pertencia a um amigo do Fran Alves, que chamava-se Pablito. Portanto, preferi usar o amplificador que havia disponível no Vice-Versa, um velho "Duovox", modelo 150 B, dos anos setenta. Por incrível que pareça, apesar de todo o preconceito que havia em torno de um aparelho nacional (o Duovox era uma linha de luxo da Gianinni), esse aparelho era muito bem feito, com parâmetros eletrônicos similares aos dos melhores amplificadores internacionais. 
Bem contente com o Duovox envolto nos biombos, lá estou, pronto para começar a gravar... 


Eu mesmo, estava acostumado a usar um Duovox, e arrisco dizer que foi o amplificador que mais usei nos anos oitenta, ao prolongar esse costume até o início dos anos noventa, quando fiz muitos shows do Pitbulls on Crack, com esse aparelho. E o que usei no estúdio, estava impecável, com a a caixa original, e segundo o Nico contou-me, fora usado em muitos discos importantes da MPB. Além do amplificador, contamos com a linha direta na mesa, para a soma, posterior, na etapa da mixagem. Infelizmente, no aspecto negativo em gravar-se ao vivo, tal metodologia obrigou-me a gravar na mesma sala de bateria. Mesmo separado com pesados biombos de madeira, acolchoados, foi óbvio que os vazamentos revelaram-se inevitáveis. 

E para corroborar a ideia de gravarmos na mesma sala, houve a necessidade do contato visual entre eu e Zé Luiz, tamanha a quantidade de convenções muito precisas que necessitávamos executar. No caso da bateria, o Zé Luiz optou por montar o seu instrumento no espaço amplo da sala, para buscar a reverberação natural. Havia de fato, naquele canto onde montou a bateria, um pé direito bem alto, na verdade, um mezanino, onde foi possível assistir a gravação por cima, e de lá, muitas fotos foram clicadas, aliás as fotos que aqui estou a publicar, são de autoria do Carlos Muniz Ventura, é bom registrar.

E o Rubens não teve outra escolha, a não ser ocultar o seu amplificador no espaço reservado, onde deveria ter sido montada a bateria. Foi a melhor solução para isolar a emissão livre do amplificador, e evitar assim, mais vazamentos na sala principal, onde o baixo e a bateria ficara livres. 


Porém, como também era imprescindível o contato visual com o Rubens, ele tocou conosco na grande sala, e sendo assim, com todos a olhar-se, ficou muito mais confortável e seguro para os três. Somente o Fran Alves fez a sua guia vocal dentro da técnica, sem maiores prejuízos para essa tomada inicial.

Lembro-me que as músicas como "Ufos" e "Segredos", deram um pouco mais de trabalho, com algumas tomadas repetidas, mas a representar nada demais que preocupasse-nos. Gravamos todas as bases nessa primeira sessão, que terminou na madrugada. Estávamos contentes com o resultado da captura inicial, e agora viriam as sessões de overdubs de guitarra; solos; contra-solos e complementos...


Continua... 

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