Na
primeira eleição de Dilma, eu estive no bar Joana Darc, em Ipanema,
onde encontro meus amigos que leram os oito volumes da história da
literatura universal, de Otto Maria Carpeaux.
Somos apenas seis
pessoas no Rio de Janeiro e no Brasil inteiro, não somos mais do que
cinco mil pessoas, entre duzentos milhões. Você que, provavelmente, lê
esta crônica, também não poderia fazer parte de nosso clube. Não é culpa
nossa se compomos uma elite. O certo seria as pessoas gostarem de
sofisticação.
Os iniciados no Tantra tem orgasmos que duram seis dias.
Se você lê pouco ou mal, o problema é seu, não nosso. E se seu orgasmo é
mixo, vá estudar o tantra.
Desses seis que somos, Xucrute, que é como chamamos o Messias, contador aposentado do bairro nobre, é o nosso iconoclasta. Dono de frases demolidoras. Divergimos com relação ao lado religioso das coisas. Ele é incrédulo de doer.
-- As igrejas tão cheias de diabos -- ele diz assim, e toma seu chopp.
--- Tá bom, vamos falar de Eliot.
---
Ah, meu caro, hoje esse seu amigo octagenário está existencialista. Eu
pensei que nosso fogo sexual passava na velhice, mas a cada dia que
passa eu fico mais safado.
--- Come com os olhos,
Xucrute, dá no mesmo. Não te falta o que olhar nos metros quadrados de
Ipanema. Mas o que você acha dessa Presidente?
--- O
Brasil tem um problema grave no jardim da infância, meu Lord. O
brasileiro não aprende a brincar direito coletivamente, dar biscoito ao
coleguinha, não vira escoteiro, nem lê os clássicos antes dos dez anos
de idade. Com a mídia lhe bombaerdeando futebol na cabeça, ele quer ser
boleiro, ai fica bobo e sem cultura. Como ela é mulher, espero que cuide
do jardim da infância. É de lá que pode vir a salvação, ou de lugar
nenhum. Tá tudo na educação de base.
As instituições só funcionam, se
existem pessoas de caráter nelas. Pelé é mais conhecido que Machado de
Assis. Atualmente em geral, onde o brasileiro entra, ele estraga com seu
individualismo e miopia cultural. Eu estava de olho na empregada da
vizinha, mas quando ela botou um sertanejo a minha já falida fantasia
nem chegou mais para o sábado de carnaval.
Eu olhava Xucrute admirado, um verdadeiro Messias pelo avesso. leu tanto que vai chegar ao céu via intelectualidade. O problema do governo e do desgoverno do país está no jardim da infância.
Quantos aprendem que viver é brincar? O certo não seria a gente ser chefe um do outro, mais tocar um violão.
Agora que a presidente foi reeleita, espero que ela olhe para o jardim da infância, se der tempo do mar não virar sertão.
Marcelino Rodrigues é esporádico do Blog Luiz Domingues 2. Escritor de vasta e consagrada obra, aqui nos traz uma crônica alfinetando a contumaz falta de familiaridade do brasileiro com o livro.
Maravilha de texto!!
ResponderExcluirCaramba, tocou fundo! Cuidar do jardim de infância, realmente é o X da questão. Mesmo que não tenhamos educação como deveríamos ter, também cabe aos pais oferecer educaçao e cultura a seus filhos, cuidar do jardim da infância dessa nova geração, plantar essa semente,dar o exemplo. Como podem querer que seus filhos apreciem leitura se não leem, entre outras atividades. Cultura existe e não está em dífícil acesso.
Marcelino sempre acertando a mão nas suas crônicas, e cutucando a ferida crônica do Brasil : a falta de interesse em fomentar cultura e educação.
ExcluirGrato pela leitura, rico comentário e apoio sempre importante !!