segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 202 - Por Luiz Domingues


Bem, como acontece com qualquer artista, seja de que ramo de arte for, a carreira não depende só de talento. Ter a sorte em encontrar pessoas que somam no cômputo geral, é imprescindível para fazer uma carreira decolar. Seja um empresário dinâmico; seja um produtor; talvez ambos; se possível, melhor ainda. Alguma dúvida sobre o talento dos Beatles ? Mas será que teriam chegado ao estrelato se não tivessem encontrado-se com Brian Epstein ? O mesmo raciocínio vale para Elvis Presley e o "Colonel" Tom Parker; Led Zeppelin e Peter Grant, e tantos outros exemplos análogos. 
Show d'A Chave do Sol no Buso Palace de São Caetano do Sul, junho de 1985. Click : Rodolpho Tedeschi (Barba)

Então, sempre ficamos antenados em pessoas interessantes que agregavam-se à banda (aliás, em todas as bandas em que toquei, não apenas com A Chave do Sol), independente de ser um empresário ou produtor propriamente dito, ou seja, a ideia em contar com qualquer tipo de apoio, é sempre muito importante para qualquer artista. Posto isso, no caso d'A Chave do Sol, objeto desta parte da narrativa de minha autobiografia, não foi diferente, e muita gente aproximou-se de nós, ao sinalizar a vontade em colaborar de alguma forma. Nesses termos, mais ou menos em julho de 1985, ocorreu o caso de um rapaz que abordou-nos, ao afirmar ser nosso fã, e que gostaria em ajudar-nos, ainda que não houvesse nenhuma familiaridade com o mundo artístico. 

Tudo bem, claro que aceitamos qualquer ajuda de bom grado, e abrimos um canal de conversação para que ele expressasse as suas ideias. Tratava-se de um rapaz na faixa dos trinta e poucos anos, bem mais velho do que éramos naquela época, mas ainda jovem, logicamente. Ele era fã de Rock, mas não era músico, e nem acalentara o sonho em tornar-se um. Apenas gostava e acompanhava o Rock; colecionava discos; comparecia aos shows com regularidade, e mantinha um bom conhecimento nessa área, mas apenas como um apreciador, sem entender os meandros do show business. Segundo contou-nos, ele trabalhava em uma empresa familiar, criada e gerida pelo seu pai, e que constituia-se de uma empresa com médio porte, que apresentava um volume de trabalho e recursos muito alto, com diversos funcionários etc. Ele tinha muita vontade em ajudar-nos, mas apesar de ter posses, não prometera uma ajuda financeira direta, em nível de mecenato, e nesse caso, é claro que jamais sonharíamos com uma facilidade dessas, muitíssimo rara em acontecer fora das histórias da carochinha... 

Contudo, o rapaz pareceu-nos realmente imbuído em prestar-nos ajuda, e claro que a aceitamos. Em princípio, ele quis colocar o seu prestígio social em nosso favor. O seu plano inicial foi para apresentar a banda para pessoas de seu rol de amizades, com potencial investidor, e sob uma outra frente, buscar formadores de opinião para visar catapultar-nos a um outro patamar na carreira. Claro que aceitamos a ajuda e de fato, revelara-se desinteressada, pois não houve nenhuma possibilidade de nós imaginarmos alguma má fé da parte dele, e também não existiu nenhum indício de interesse escuso de sua parte em querer ludibriar-nos ou tirar algum proveito de nós, e antes que o leitor especule, não, o rapaz não era homossexual, portanto, o seu interesse foi mesmo no sentido em ajudar a nossa banda. Enfim, não tínhamos nada a perder, e dessa forma, cedemos-lhe um material básico de divulgação, na base de release; histórico, portfólio e fotos. Logicamente também os compactos que providenciamos para efeito de divulgação, mas que ele fez questão de pagar, e assim não causar-nos nenhum prejuízo, ainda que tais discos tiveram o propósito em auxiliar-nos em outros parâmetros. 

Não revelarei o seu nome, não que houvesse algum problema em revelá-lo, mas tal personagem entrou e saiu da vida da banda sob uma velocidade tão grande, que não sei se a menção ao seu nome valeria a pena, com tantos anos depois do ocorrido. Enfim, nesse plano de ajuda que ele estabeleceu, só uma ação de fato ocorreu, e não surtiu em absolutamente nada, ao fazer-me crer que talvez tenha sido por isso, que ele tenha desanimado e sumido de nossa vida. Foi o seguinte : ele animou-se com a perspectiva de que tocaríamos no Sesc Pompeia em breve, e disse-nos que levaria um amigo seu pessoal, que era ator de teatro / cinema e TV, que provavelmente interessar-se-ia pelo nosso som e possivelmente abriria muitas portas nesse meio, graças ao seu conhecimento nessa área. Se tudo desse certo, poderíamos ter mais oportunidades na TV; convites para criar trilhas de cinema; comerciais, e até espetáculos teatrais. 

Claro que animamo-nos e quisemos saber quem era esse ator famoso, mas ele quis fazer surpresa e somente no dia do show, o vimos no camarim do Sesc Pompeia. Tratou-se de Lineu Dias, ator, e ex-marido da atriz, Lilian Lemmertz, além de ser pai da também atriz, Júlia Lemmertz. Infelizmente, o Lineu não apreciou o nosso show, e realmente, foi uma lástima, por um motivo : talvez ele tivesse entendido melhor o trabalho d'A Chave do Sol de tempos atrás, com bem menos peso, e sem aquele ranço Heavy-Metal, que adquirimos no pós-1985. Durante o show no Sesc Pompeia, por muitas vezes vi o seu semblante a mirar-nos, com um profundo desinteresse estampado, que chegou a incomodar-me. Depois desse show, o fã-colaborador sumiu de nossa vida. Não saberia dizer se ele mesmo desestimulara-se, ou foi por conta das ponderações negativas que o ator, Lineu Dias deve ter feito ao nosso respeito, para ele em particular. Todavia, o fato foi que o rapaz sumiu, sem deixar vestígios. Outros personagens  agregar-se-iam doravante, e sempre existe esse tipo de apoio na órbita de qualquer banda. Antes de falar sobre os shows de julho de 1985, devo contar mais um evento importante ocorrido ainda nesse mês, relativo a produção da capa do nosso novo álbum...


Continua...

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