quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Autobiografia na Música - Língua de Trapo - Capítulo 39 - Por Luiz Domingues

A seguir, enquanto terminávamos a canção francesa, o Laert já estava preparado para voltar em cena. Ele retornava vestido como Rocker dos anos sessenta, e nós tocávamos um blues, chamado : "Amor à Vista". 
Nessa canção, ele colocava todos os seus signos hippies para fora, ao evocar suas raízes, e eu gostava demais de tocar essa música, por várias razões :

1) Primeiro, por que era um Blues lindíssimo, muito bem composto, e como o arranjo era dramático, inspirava-se no som de Janis Joplin e Joe Cocker, sobretudo.

2) Era também era um momento raro, onde alheio à sátira que permeava o trabalho todo do Língua, a música era tão bonita, e tão cheia de vibrações dos sixties, que eu apreciava aquela epifania até a última gota.

3) Apesar de tudo isso que citei sob um âmbito muito pessoal e idiossincrático, enquanto piada, funcionava muito bem, pois era uma letra brilhante do Laert, a satirizar o sentimento do conservadorismo, e seus preconceitos contra a classe operária, através da história de um cafetão "politizado". O desfecho da música, com o Laert dramaticamente a imitar o Joe Cocker, e a Janis Joplin, revelava-se o momento onde as pessoas finalmente entendiam o significado da letra, e riam muito.

4) E também por ser um elo remoto entre eu e o Laert, como egressos do velho Boca do Céu, de 1976.


Nós nunca falamos abertamente sobre isso, mas pairava no ar uma certa cumplicidade nossa, ao entreolharmo-nos nos shows, nesse momento, e seria uma forma sutil para um dizer para o outro : conseguimos... o que fora um sonho utópico em, 1976, estava concretizado, enfim, naqueles tantos shows que fizemos juntos entre 1983 e 1984, pois agora lotávamos teatros, a tocar e cantar bem. E o melhor de tudo, por agradar o público, que saía toda noite extasiado. Mas estou a antecipar-me demais, a falar da turnê toda. Por ora, o assunto é o show de estreia, que estou a destrinchar, nesta narrativa. O arranjo era bem robusto nessa música. Com duas guitarras; piano elétrico; baixo, e bateria, fazíamos um blues intenso e muito dramático. Lembro-me que o Naminha tocava com uma garra incrível. Baixava o John Bonham nele nessa hora, tamanho o peso que ele imprimia, e ele sempre emocionava-se.

Continua...

Nenhum comentário:

Postar um comentário