quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Autobiografia na Música - Trabalhos Avulsos (Lynx) - Capítulo 57 - Por Luiz Domingues


Mais ou menos na mesma época em que deixei um projeto que considerei inadequado aos meus propósitos (refiro-me àquele quarteto Hard-Rock oitentista, com garotos inexperientes, cuja história já narrei anteriormente), surgiu um convite bem mais interessante, por ter sido formulado pelo guitarrista, Flavio Gutok, ex-Harppia. Ele estava a formar um quarteto ao estilo, Hard-Rock, com trabalho autoral, e em português, com já algumas músicas compostas e arranjadas, e a contar com outros dois bons músicos na formação.
Mais ou menos em junho de 1990, comecei a ensaiar com eles em um estúdio localizado na Vila Pompeia, zona oeste de São Paulo, pertencente a um guitarrista uruguaio, chamado, Jorge. Tratava-se de um estúdio caseiro, mas bem montado, na antiga adega da residência / estúdio, um belo sobrado próximo à praça Tupã.
Descíamos em um subsolo muito instigante da residência, que assemelhava-se a um bunker. Foi meio assustador chegar lá, pela profundidade de tal porão, mas o estúdio era bem montado, e tinha uma acústica muito boa. 
Os outros músicos dessa banda em formação, eram o Fábio Xepa, ex-baterista de uma banda da cena oitentista, chamada "Anarca", e o vocalista, um rapaz chamado, Joari F. Coimbra, que tinha tido passagem por outra banda oitentista, denominada: "Cavalo Vapor". 
 
O Fábio era um baterista firme, econômico nas viradas, mas seguro na condução rítmica/andamento, e o Joari tinha uma voz privilegiada, com muito "sustain", afinação e emissão típica de vocalista de Hard Rock.
 
A proposta dessa banda era interessante. Claro, não era o som dos meus sonhos, mas assemelhava-se ao som d'A Chave do Sol, na "fase Beto" (formação do quarteto clássico de 1985-1987), portanto tinha um potencial pop, mas com qualidade nos riffs e melodias. E as letras eram interessantes, longe do lugar-comum de bandas oitentistas similares.
 
E claro, o Flavio Gutok era (é) um excelente guitarrista, com ótimos recursos técnicos, bom criador de Riffs etc. Gentilmente, dispôs-se a comparecer em residência, duas ou três vezes, para ensinar-me a harmonia das músicas, e assim facilitar os ensaios elétricos com a banda toda. 
 
Ensaiei com eles, até setembro de 1990, mais ou menos, quando tive que fazer uma opção, pois simultaneamente, aceitara dois outros projetos de bandas, e havia ainda, as as aulas, meu principal meio de sustento àquela época, e em franca ascensão, pois nessa altura, eu já possuía uma média com trinta a trinta e cinco alunos por semana.
Lembro-me que o Joari não apreciou a minha decisão, mas eu realmente não estava a dar conta em ensaiar com três bandas autorais simultaneamente, e a driblar meus horários de aulas, e por necessitar deslocar-me para bairros distantes, uns dos outros, e ainda mais por não possuir um carro naquela época (justiça seja feita, o Joari e o Flavio, me forneceram várias caronas, é verdade). 
 
O Flavio lamentou, mas entendeu a minha dificuldade, e aceitou com resignação, o mesmo veio a ocorrer com o baterista, Fábio. Depois disso, tive notícias do Joari cerca de quatro anos depois. Parece que houve uma volta do "Cavalo Vapor", e ele estava nessa formação. 
 
O Flavio Gutok foi ser "side man" para duplas sertanejas do mainstream, por muitos anos, onde deve ter feito seu pé-de-meia, e quanto ao baterista, Fábio, nunca mais tive notícias.
 
Dessa forma, ao julgar ter mais esperanças nos dois outros projetos (que relatarei a seguir), tive que deixar esse projeto, que era positivo, musicalmente, mas certamente lutaria com dificuldades por um lugar ao sol no mercado da música profissional.  

Muitos anos passaram-se, e quando passei a ter convivência com o guitarrista, Kim Kehl, soube que tocara junto com Flavio Gutok, quando ambos foram guitarristas da banda de apoio de uma dupla famosa desse meio sertanejo (Rick & Renner).
O Kim Kehl me contou que o Flavio, que já era um excelente guitarrista de Rock, especializara-se no universo da Country-Music americana, e, tornou-se assim, um virtuose nesse quesito. 
 
De fato, eu já o considerava excelente na época em que tocava Heavy-Metal, no Harppia, ao final dos anos oitenta. E nesses meses em que ensaiamos juntos, nesse projeto de banda Hard-Rock, atestei com meus olhos e ouvidos, a sua qualidade técnica, excepcional.
O Xando Zupo, guitarrista do Pedra, sempre o elogiara muito, também, pelo fato de ter tocado juntos, no Harppia.
Recentemente (2012), soube (através do guitarrista, Milton Medusa), que essa banda em que ensaiei, e dava então os seus primeiros passos, tornou-se o "Lynx", uma banda que prosseguiu portanto, sem a minha presença, e lançou um disco em 1994, pelo selo Dynamo. Em meu lugar, recrutaram um baixista que chamava-se: Fredi, e o Joari adotou um novo nome artístico, doravante, ao assinar como: "Jota C".
Mais recentemente ainda (2013), assisti um vídeo de um outro projeto mais moderno de Flavio Gutok, a tocar em uma banda da escola do Country-Music, norte-americana. 
 
Curiosamente o vocalista, Joari Coimbra (Jota C), também estava presente, quando fiquei boquiaberto com a técnica de Gutok, nesse quesito. Ao pilotar uma guitarra, Fender Telecaster (guitarra ideal para esse estilo), fazia solos inacreditáveis, sob uma técnica que deixaria guitarristas norte-americanos e especialistas nesse estilo, impressionados. 
 
Senti um tremendo orgulho por vê-lo nessa forma espetacular, e só reforcei o meu conceito de que ele é um excelente guitarrista, como também assim pensam os meus amigos, Xando Zupo e Kim Kehl. 
 
E vale registrar, o Flavio Gutok é um tremendo sujeito do bem. Todos que o conhecem, pensam o mesmo.
Continua...

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