terça-feira, 20 de agosto de 2013

Autobiografia na Música - Trabalhos Avulsos (Gravação de um CD da Cantora Regiane) - Capítulo 78 - Por Luiz Domingues




Conto uma história agora, de um trabalho avulso que realizei, desta feita, do meio para o final de 2003. Eu estava na Patrulha do Espaço, e sob um esforço coletivo para gravarmos o segundo CD daquela formação, eu e o Rodrigo Hid prestamos um serviço ao estúdio onde o gravamos, como forma de pagamento pelas horas em que a Patrulha utilizou por lá, para gravar o CD ".ComPacto".
Assim, fomos incumbidos pelo dono do estúdio, para atuarmos na gravação de um CD de uma jovem cantora, que lutava por sua carreira, chamada : Regiane. Não consigo recordar-me de seu sobrenome, infelizmente.
Era uma garota com muito potencial vocal, pois estudava canto lírico, e tinha tido a experiência em cantar em uma banda de Heavy-Metal Melódico, no interior de São Paulo, onde morava (Vinhedo ou Valinhos, não recordo-me qual cidade, exatamente). Mas, inexperiente ao extremo, foi parar naquele estúdio, com a promessa de que por um preço único, sairia dali com CD pronto, e indicações para divulgação na mídia, contato com empresários para alavancar uma carreira, etc. Ledo engano, pois saía sim, com um CD pronto, prensado e com capa, um release impresso, e um portfólio com fotos, mas sem contato algum.

Era um esquema semelhante ao de agências de modelos suspeitas, onde na verdade, só querem vender ensaios fotográficos para portfólios, e a garota que vire-se com esse material. E com a qualidade deficiente de um estúdio antiquado, e com sérios problemas de manutenção, não dava para esperar grande coisa, mesmo, na parte de áudio. Então, o Rodrigo foi convocado a gravar violão e guitarra, sob a supervisão de um tecladista veterano e conhecido por ter tocado em uma famosa banda de bailes, mas que não revelarei o nome, para não causar constrangimentos. Ele era o tecladista, produtor e arranjador dessa empreitada. A seguir, fui chamado para gravar o baixo. Por um arranjo político imprevisto, ao invés de contratar-se um baterista profissional, o responsável pelo instrumento, foi o filho de um investidor do estúdio...

Resultado: O garoto era péssimo, e mesmo com o experiente tecladista & produtor na condução dos trabalhos, gravou uma bateria horrenda, com gravíssimos erros de andamento. Dessa forma, seria impossível gravar o baixo, tampouco os demais instrumentos, pelo motivo óbvio da gravação estar arruinada. Fui orientado a não discutir isso, e para livrar-me de meu compromisso, gravar assim mesmo.
O tecladista estava com as suas mãos atadas também, pois a inclusão do garoto fora uma imposição do estúdio, e dessa forma, eu gravei o baixo, sob o esforço insuportável em ter que errar, propositalmente, para acompanhar aquele horror rítmico. Alguns dias depois, recebi o telefonema do técnico, "Kôlla", que era (é) meu amigo, e gravara a Patrulha, ali mesmo. Segundo o Kôlla, o tecladista havia vetado a minha participação, ao alegar que eu colocara "molho" demais nas músicas, quando o correto teria sido fazer linhas mais simples.


Ele possuía a mentalidade típica de produtor de música brega, mas realmente, nesse tipo de produção, fazia sentido. Então, houve uma briga entre ele, e o dono do estúdio, para culminar com o seu abandono da produção. Sendo assim, o proprietário do estúdio, convocou o Rodrigo para assumir como produtor, e tocar teclados, violão e guitarra. Eu fiquei no baixo, mas o dono insistiu para o garoto, filho de seu sócio, gravasse novamente a bateria.


Ao começar tudo de novo, o Rodrigo sugeriu mudanças radicais no repertório. Saíram os obscuros Pop Brega do repertório anterior, e agora gravaríamos, The Beatles; Roy Orbison; Creedence Clearwater Revival, enfim, um material muito mais agradável. Mesmo com o Rodrigo a tentar manobrar ao máximo, o garotp gravou uma bateria bem torta, m pouco melhor que a anterior que gravara, mas ainda com erros crassos de andamento. Coloquei o baixo com um ligeiro conforto, e com o Rodrigo a tocar guitarra, teclados e violão, o som ficou bem mais palatável, apesar do andamento equivocado, ao agradar a Regiane, que sentiu-se mais segura e respaldada. Claro, cheguei a perguntar ao dono do estúdio, se pagariam os direitos autorais daquele repertório, mas ele apenas falou que estavam acostumados a lançar discos sem pagar nada a ninguém, ao usar qualquer música que quisessem.
Durma-se com um barulho desses. A gravação ficou razoável (para aqueles padrões, é lógico), mas o tempo passou, e eu não recebi nenhuma cópia. Até gostaria de possuir uma cópia, como material de portfólio, e confesso que se não fossem covers óbvios, seria um bom disco, mesmo por que, a Regiane cantava muito bem.
E o Rodrigo atuou muito bem, ao escolher o repertório; arranjar; tocar três instrumentos; e até alguns backing vocals, além de dirigir passo a passo, a gravação da voz da Regiane. Somente num dia, ele não pôde comparecer, e eu fiz produção, ao gravar a voz dela. Confesso que fiquei bem impressionado com o seu potencial. Era o tipo de cantora que passaria fácil nesses programas de calouros da TV, e talvez construísse uma carreira boa no mundo brega etc. E tanto eu, quanto o Rodrigo, afeiçoamo-nos a ela, e seu pai, que a acompanhava nas gravações.
Eram pessoas simples do interior, a lutar com muitas dificuldades.
O pai dela era pedreiro, e não media esforços para bancar o sonho da filha, e isso comovera-nos muito. E ela também era uma batalhadora, não só pela luta em prol de seu sonho, mas por ser uma humilde professora em sua cidade, e com seus parcos recursos, e m manter uma vida muito simples, ter a coragem para lutar. A despeito do que aconteceu com ela, eu e Rodrigo cumprimos nossa parte do acordo, aliás, com muito mais carga de trabalho para ele, Rodrigo.
Continua... 

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