quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Autobiografia na Música - Trabalhos Avulsos (Projeto Rock'n Roll) - Capítulo 63 - Por Luiz Domingues

Quando chegou o final do ano, o Luiz Fernando quis gravar uma demo tape para ver como estavam as músicas, já em ritmo de pré-produção. Nesse caso, seria uma demo-tape simples, sem maiores requintes, com a banda a ser gravada ao vivo, e sem muita elucubração sobre a timbragem de cada instrumento. O estúdio escolhido foi o Coda, pertencente aos irmãos, Molina (Jacques e Jeff), em sociedade com o baixista, Ney Haddad, futuros membros do "Neanderthal", banda com a qual eu conviveria bastante, por estarmos juntos na coletânea, "A Vez do Brasil", que o Pitbulls on Crack também participaria (do final de 1993, em diante). Essa história inclusive, já está devidamente contada no capítulo daquela banda, Pitbulls on Crack). 
Essa sessão de gravação ocorreu ao final de 1990, e o que ocorreu foi o seguinte : O Luiz queria gravar o máximo de músicas, e como a constante mudança de arranjos não permitia que o trabalho avançasse mais velozmente, recorreu à presença do baixista que fizera parte do trabalho antes de minha participação, para que esse rapaz gravasse músicas que eu nem conhecia. Sendo assim, pelo meu entendimento, não haveria problema algum em dividir a gravação com outro músico, e pelo contrário, aliviaria o trabalho, ao torná-lo mais eficaz. 
O problema, foi que esse músico chegou ao estúdio com uma postura agressiva, muito deselegante e deliberadamente predisposto a hostilizar-me, de uma forma gratuita ! Vou omitir o nome dele, para evitar exposição e constrangimento, ao tratá-lo apenas pela inicial de seu apelido, a letra "G". O tal "G" não era músico profissional. Não lembro-me ao certo a sua profissão, mas recordo-me bem que ele não vivia de música.

Logo de início, notei que desdenhou de minha pessoa, ao ironizar-me, quando fomos apresentados. Ao encarar-me com ar de superioridade, falou algo do tipo : -Então você é o "famoso Tigueis" (claro, ao referir-se ao apelido pelo qual chamavam-me à época)"... depois, passou a alfinetar-me, ao afirmar que o seu baixo era "moderno" e muito superior ao meu velho, Fender Jazz Bass. Percebi que não fora uma brincadeira, pois não parava de debochar do meu instrumento, que julgava "ultrapassado". 
Achei aquilo tão ridículo, que não tive forças para contra-argumentar. Ele, com aquele instrumento de brinquedo, a conter captação ativa, e aquele timbre de plástico, a falar mal de meu Fender Jazz Bass, ano 1974, foi no mínimo, bizarro. Se entendesse minimamente de música, saberia o significado de um instrumento vintage, e com tal atitude, só denunciara a sua ignorância.

Se realmente acreditava em suas afirmações bizarras, era certamente um idiota. Se forçava aquela situação para desestabilizar-me, foi também um idiota, enfim... depois, continuou a noite inteira a alfinetar-me, ao enaltecer a sua performance nas músicas em que gravara, e na contrapartida, apontar erros nas em que eu toquei.

Fora a banca que ficou a botar, ao dizer que só não tocava profissionalmente, porque era tão bem sucedido na sua profissão, que tocava diletantemente, a despeito de "caras" que só fazem isso na vida, e eram muito piores do que ele... enfim, depois o Paulão Thomaz disse -me que esse rapaz sempre fora arrogante, e desagradável nos ensaios, e um amigo meu que o conhecia, por pura coincidência, quando eu contei-lhe essa história, disse-me que eu deveria tê-lo mandado "àquele lugar", pois ele era mesmo um tremendo de um inconveniente. Conclusão : foi mesmo um bullying...
Passada essa gravação, que ocorreu nos últimos dias de 1990 (28 de dezembro), eu comuniquei ao Luiz Fernando a minha desistência em participar do seu projeto. De fato, eu não estava a enxergar uma evolução no trabalho, e portanto, estava cansado em esforçar-me para ir aos ensaios, e verificar que o trabalho dava um passo adiante, e três para trás, a cada mudança de arranjo proposta. Tudo foi feito com bastante educação, claro, e continuei a ser cliente da sua loja, onde encomendei muitos CD's e fitas VHS com shows de artistas que admirava, depois disso. Muitos anos depois, ele enviou-me uma cópia do disco pronto. Fiquei contente por saber que finalmente o havia lançado, e o admiro pela persistência, e vitória pessoal, claro. Depois disso, ele filmou um show da Patrulha do Espaço, em 2003, no Centro Cultural São Paulo, e creio ter sido a última vez em que conversamos.
Continua... 

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