O show teve um esforço de divulgação razoável, pois
foram feitos cartazes, filipetas, e até os "Lambe-Lambe" (cartazes de
grande porte para muros, e tapumes urbanos). Ocorreu no dia 19 de janeiro de 1996, mas
infelizmente com pouco público. Apenas sessenta pessoas passaram pela
bilheteria, e além dessa banda tributo, haveria a apresentação de uma
banda autoral muito interessante, que eu já havia ouvido falar, chamada :
"The Tea House Band" .
A vocalista / baixista da banda, era amiga do Laert,
e pelo que percebi em conversas travadas no camarim, havia participado da
produção do Língua de Trapo, por ocasião da retomada das atividades da
banda em 1992. Assisti o show de abertura deles pela coxia, e apreciei
muito, pois era 100% calcado na escola do "bubblegum" e Soft-Rock sessenta / setentista.
O visual deles
remetia ao Pop Bubblegum dos anos 1960, e aquilo impressionou-me muito
positivamente, pois logo eu vivia uma fase em que estava muito imbuído em resgatar
uma experiência retrô nesses moldes, e assim o foi, quando o Pitbulls on
Crack lançou o CD "Lift Off", e posteriormente com a formação do Sidharta, e
a sua fusão posterior com a Patrulha do Espaço. Conversei rapidamente com os membros do
"The Tea House Band", e gostei de saber que eles realmente mostravam-se 100%
influenciados pelos anos 1960. Foi bom saber que eu não estava sozinho no
mundo, e que não era apenas um turrão mergulhado sob idiossincrasia
nostálgica, e portanto avesso ao mundo dos duvidosos "rockers com bermuda e piercings", panorama dos anos noventa. No camarim, foi
um festival com risadas, após tantas piadas que surgiram. Principalmente
quando o Laert vestiu o figurino que alugara especialmente para o show.
Foi
um terno de cetim cor-de-rosa, com camisa colorida e cheia de babados e
acessórios vintage, como um par de sapatos com salto carrapeta, e um
chapéu espalhafatoso, acrescido por plumas enormes.Tudo bem, ele queria usar um
visual ao estilo "Hippie Chic", exagerado, mas ficou mais parecido com o Sly Stone do
que Janis Joplin.
E quando o nosso velho amigo, o ator, Paulo Elias (outro
ex-membro do Língua de Trapo, ali presente), viu aquilo, teve um ataque de riso e disse :
-"Laert , você está a parecer um cafetão de filme policial americano... só
fica a faltar um Cadillac conversível, e algumas putas em sua volta"... em
princípio, o Laert não gostou da piada, e respondeu-lhe : -"Pô, Paulinho, não
precisa esculhambar"... foi então que a reação tornou-se ainda mais engraçada, com todo
mundo no camarim a cair na risada, pois mais esculhambado que a fantasia
que ele alugara, seria impossível... O Laert também caiu na risada e ficou
tudo bem, então. Subimos ao palco e o show foi bom, embora curto.
Foram oito ou dez músicas, apenas. Confesso que apreciei muito tocar ao vivo
novamente, a canção, "Amor à Vista", uma música que eu gostava muito, que fez parte do repertório da banda durante minha
segunda passagem pelo Língua de Trapo. Era uma letra satírica, cheia de
nuances absurdas, mas tratava-se de um belo blues, bem sessentista, com
carga freak, intensa. À medida que tocávamos, eu notava no semblante
daquelas sessenta pessoas da plateia, um ar de frustração e expectativa, pois
esperavam músicas da Janis Joplin, e nós ali só a executar canções estranhas aos
seus ouvidos...
A última, foi "Buried Alive in Blues" e o público soltou-se, com alguns a dançar no imenso espaço vazio do Aeroanta, com pouca
gente presente. O Laert pôs-se a dançar pelo palco e foi um misto de algo bonito
pela homenagem sixtie, e engraçado também, pois sua veia humorística
nunca saía de férias. Então encerramos, e muita gente do público reclamou. Ouvi um rapaz a afirmar que "queria o dinheiro de volta, pois fora enganado,
já que aquilo não fora um tributo à Janis Joplin de jeito nenhum".
Um grupo
de garotas também protestava, a alegar que haviam deslocado-se de Caieiras (um
município da Grande São Paulo, relativamente longe da capital)
etc. Realmente, foi um tributo estranho, quiçá irônico, mas por outro
lado, não fora um show cover. E uma coisa eu posso confirmar : O Laert é
apaixonado pela Janis Joplin.
Desde que conhecemo-nos em 1976, eu sabia
disso. Portanto, a não inclusão de músicas da Janis Joplin, com exceção do
tema instrumental, não tivera a conotação de uma afronta, de forma alguma, embora a grosso modo, pudesse denotar isso. E assim
foi esse trabalho avulso, que valeu muito mais por reencontrar velhos
amigos como o Laert, Naminha e Paulo Elias, por exemplo.
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