quinta-feira, 3 de abril de 2014

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 107 - Por Luiz Domingues


Nessa dinâmica em estarmos prestes a lançar o disco (até que enfim), também estávamos preocupados com o seu show de lançamento. De minha parte, eu sempre apreciei muito os shows teatralizados, e como fã de artistas tais como, Frank Zappa; David Bowie; Alice Cooper; Arthur Brown, e outras feras que faziam muitas loucuras desse tipo em seus shows, eu sonhava realizar elementos extra musicais para incrementar o show d'A Chave do Sol. Então, começou a amadurecer uma série de ideias para esse show de lançamento do compacto.
 Eu (Luiz Domingues), e o poeta Julio Revoredo, em 1984

A ideia seria usar toda a estrutura hermética da poesia de nosso colaborador, o poeta Julio Revoredo, mais a figura performática do Edgard, entre outros elementos. Logo mais entrarei nos detalhes. Falarei sobre as loucuras que criamos, provenientes das reuniões de "brainstorm" que fizéramos com o Julio, e o Edgard, presentes. Aproveito para abrir um parêntese, para narrar sobre dois telefonemas inusitados que recebi no primeiro semestre de 1984...

Não tenho condições de lembrar a data exata em que recebi tais ligações telefônicas inesperadas, em dias diferentes, e com motivações e pessoas distintas. Para início de conversa, nessa época eu não possuía telefone em minha residência, portanto, essas pessoas culminavam em descobrir o número do telefone da residência do Rubens, possível lugar mais provável onde encontrar-me-iam. Desconfio que uma dessas pessoas em questão, obteve o contato através do Luiz Calanca (o outro foi certeza, pois ele mesmo, Calanca, contactou-me previamente), dono da Loja Baratos Afins, e manager do próprio selo, administrado na própria loja, onde recebia diariamente, contatos de produtores; artistas, e jornalistas atrás de informações sobre o seu elenco.

O primeiro, foi da parte do baixista dos Titãs, Nando Reis. Quando fui chamado a atender, por alguns segundos elucubrei : "o que será que o baixista dos Titãs tem a dizer-me" ? Atendi, e ele chamou-me pelo apelido que eu usava naquela época, e antes que eu manifestasse-me, foi logo a dizer que estava com um problema na "ponte" do seu baixo Fender etc... fui obrigado a esclarecê-lo sobre o fato de que eu não era Luthier, a despeito do outro baixista que o era de fato, usar o mesmo apelido que eu, etc. Ele desculpou-se de pronto, mas nem precisava, pois essa confusão por conta do tal apelido perseguiu-me por mais de vinte anos, e não foram poucas as vezes em que músicos vieram falar sobre instrumentos comigo, como se eu entendesse alguma coisa, ao confundir-me com o Luthier, "Tiguez".

E por sua vez, o Luthier Tiguez passou pelo mesmo constrangimento, por anos a fio ! Em meados dos anos noventa, ele chegou a colocar um banner no site da sua luthieria, a dizer : "EU NUNCA TOQUEI N'A CHAVE DO SOL"... aliás, trata-se de um grande músico e luthier. Quem precisar de reparos em guitarra, violão ou baixo, recomendo-o, sem dúvida.

O outro telefonema, aí sim, foi direcionado à minha pessoa, de fato.
Em uma outra tarde, atendi o telefonema do Luiz Calanca, ao dizer-me que indicara-me para travar um contato com uma personalidade da MPB, que estava a procurar por um baixista para acompanhá-la em turnê.

Alguns minutos depois, a própria artista ligou-me, e tratou-se da Miúcha, cantora, irmã de Chico Buarque, ex-esposa de João Gilberto, mãe da também cantora, Bebel Gilberto etc. Simpática, convidou-me para fazer parte de sua banda de apoio. Mas tive que declinar do convite, pois estava naquele preciso instante, agoniado por estar a tocar em dois trabalhos simultaneamente, e por conta dos inevitáveis choques gerados por duas agendas sob conflito, estar o tempo todo a causar melindres com ambos os grupos. Portanto, acumular um terceiro trabalho paralelo, seria um desastre em minha vida, mesmo sendo algo tão tentador, pelo status inegável dessa artista. Além disso, mesmo a estar em uma ótima forma musical em 1984, a minha predileção não era a Bossa Nova, e mesmo que esforçasse-me, acho que não encaixar-me-ia na proposta musical do repertório dela, e o correto seria que ela procurasse um especialista. Fiquei lisonjeado, claro, pois mesmo ao não apresentar a magnitude de seu irmão, e também de seu ex-marido, Miúcha tinha / tem um nome respeitável dentro da MPB. E assim foi, tive esses dois telefonemas inusitados, ainda no primeiro semestre de 1984...


Continua...   

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