segunda-feira, 21 de abril de 2014

Autobiografia na Música - Pitbulls on Crack - Capítulo 19 - Por Luiz Domingues

O caso do Gastão, que mencionei anteriormente, foi que no show que fizemos na casa Broadway, em 1992, na festa da Rádio 89 FM, o Rip Monsters, a sua banda, também tocou. No camarim, ele só conhecia o Juan Pastor, e ao ser apresentado aos demais membros,  cumprimentou-me ao dizer ser meu fã do tempo d'A Chave do Sol, e que assistira shows dessa banda, no Teatro Lira Paulistana. Falou com grande entusiasmo de tais lembranças, e claro que fiquei surpreendido e honrado, naturalmente.

Na questão da escolha das músicas, ao visar a gravação do disco / coletânea, tudo foi decidido sob um consenso entre os quatro.
Não houve interferência da gravadora, ou do produtor de estúdio.
Aliás, só fomos ter contato com ele, no estúdio. Sim, o Gastão já era uma estrela da MTV em 1992, pois fazia parte do primeiro time de VJ's, desde a inauguração da emissora, em 1990. Sua atitude foi de humildade ao contar-me essa passagem no camarim da Broadway. E dali em diante tornamo-nos amigos, e sob um futuro bem próximo, dividimos muitos camarins por conta de shows e compromissos de mídia que tivemos em conjunto, por conta da coletânea da Eldorado em que participamos com nossas respectivas bandas. A votação para a escolha das duas músicas que iríamos gravar, foi tranquila mesmo. No final, chegamos à conclusão, sem maiores conflitos. A documentação foi a praxe de qualquer gravadora. Documentos pessoais; carteira da ordem dos músicos; papelada do GRA para o ECAD etc. E dados bancários, claro...

Eu sou membro da Ordem dos Músicos do Brasil, desde 1982. Os demais precisaram adequar-se nessa burocracia. Para aproveitar o ensejo, vou contar um caso engraçado :

Na primeira vez em que fomos à MTV, fizemos uma boa entrevista.
Nos bastidores, havia outras bandas, a esperar a vez para gravar as suas entrevistas, também.

Uma delas foi o Viper. Eu conhecia os seus componentes desde 1984, e muitas vezes dividimos o palco em shows coletivos, quando eu estava n'A Chave do Sol. Lembro-me de estar com o Pit Passarel, e o Felipe Machado na sala de maquiagem. Da minha banda naquele instante, estavam o Deca, e o Juan Pastor comigo, e também o meu amigo José Reis, roadie do Pitbulls on Crack, na época. Foi quando subitamente, entrou uma VJ famosa da casa, que era considerada bonita pela audiência da emissora, para maquiar-se.

Sentou-se na cadeira, e a maquiadora começou a trabalhar etc.
Depois que passou por nós, alguém do Viper (não revelarei quem, mas recordo-me certamente...), disse : -"essa é que a fulana ? Parece bonita na TV, mas não é nada disso"... Não foi exatamente com essas palavras e diante da pilhéria, ainda que maldosa, caímos na risada...
E no mesmo dia, aguardávamos em uma rodinha no corredor, quando entediados pela demora sepulcral e típica de programas de TV, cansamos e sentamo-nos nos degraus da escada. Estávamos também com os membros do Viper , juntos, e eu conversava com o César Cardoso, que agora trabalhava na MTV, e este rapaz houvera sido meu aluno de baixo, em 1988 / 1989.

Aí apareceu subitamente a VJ Astrid Fontenelle a descer a escada, e vestida com uma saia curtíssima. A conversa parou, ela constrangeu-se por um segundo, mas aí descontraiu ao dizer-nos : -"vocês já viram, mesmo"... e todo mundo caiu na risada, incluso ela mesma, que desceu a brincar, e quebrar o constrangimento. O programa em que fomos entrevistados, foi o "Fúria Metal". Claro que o Pitbulls on Crack não tinha nada a ver com Heavy Metal, mas comparecemos, sem preconceito algum. O astral com o Gastão foi ótimo, e a entrevista transcorreu com a banda inteira.

Em relação aos funcionários, a recepção foi fria, blasé. Se fôssemos famosos, certamente seria diferente, mas no caso do Pitbulls on Crack, éramos somente mais uma banda underground a andar por aqueles corredores. A questão não fora ser uma banda iniciante. Pois todos tínhamos semblantes maduros, pessoalmente. A questão foi não sermos "hypados". Principalmente no meio onde a MTV inseria-se também, isso era causa preponderante na relação entre artistas e pessoal de mídia, a determinar o tipo de tratamento despendido da parte deles.
Continua...

2 comentários:

  1. Poxa, quero ler o resto! hehe
    Desde a época que assistia a MTV o Gastão sempre me pareceu ser um cara humilde e conhecedor da boa música, e principalmente do bom rock brasileiro. Legal saber que essa impressão é verdadeira e saber um pouco da sua passagem pela MTV.
    Muito bom acompanhar mais um pouco da história musical desse país por alguém que estava lá! Massavilha Luiz!!! =)
    Um abração!

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    1. Mas que legal que você leu e curtiu este capítulo, Fernanda.

      Afirmo com todas as letras que o Gastão Moreira é um cara 100% do bem e sempre usou o seu prestígio dentro da MTV para dar espaço para artistas outsiders, sem chances dentro do esquema mafioso que domina a difusão cultural mainstream.

      O convívio com ele como artista, junto à sua banda, Rip Monsters também era sensacional.

      E posteriormente, quando ele foi para a TV Cultura e criou o "Musikaos" foi a mesma coisa, e nos dias atuais, quando apresenta o "Heavy Lero" na Internet, junto ao jornalista Bento Araújo, permanece na sua postura de fazer o máximo que tem ao seu alcance, para ajudar artistas que não tem chances no mainstream, dominado pelos artífices da subcultura.

      É um grande cara, e particularmente sou-lhe grato por ter ajudado muito o Pitbulls on Crack na MTV; A Patrulha do Espaço na TV Cultura e recentemente o Pedra, no seu programa de Internet (Heavy Lero).

      Muito grato por ler e comentar e também por manter o Blog Limonada Hippie super atuante junto ao exército que luta bravamente para restabelecer a cultura, neste país.

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