E logo após a nossa participação pela segunda vez no programa : "A Fábrica do Som", a repercussão foi muito grande e dessa forma, a produção do programa convidou-nos a participarmos da festa de aniversário de um ano dessa atração musical da TV Cultura. Seria uma edição especial e gravada fora do seu palco tradicional do Sesc Pompeia, mas sim no "Circo Mágico", um picadeiro montado no estacionamento do complexo de exposições e espetáculos, Anhembi, localizado na zona norte de São Paulo.
Lógico que aceitamos de pronto, pois seria o reconhecimento de que A Chave do Sol foi sem dúvida, uma das mais citadas bandas emergentes naquele universo que girava na órbita da "Fábrica". E isso foi muito significativo, pois ali também tocavam diversos (para não dizer todos), nomes do BR-Rock 80's mainstream oitentista.
A Fábrica do Som, ajudou a catapultar as carreiras de artistas como os Titãs; Ira; Ultraje a Rigor, e outras tantas daquela cena do Pós-Punk / New Wave, e que tais. E fora essa euforia pela confirmada terceira aparição, estávamos a todo vapor a ensaiar e compor, a respeito do baque psicológico que foi para A Chave do Sol, o fato de eu ter voltado ao Língua de Trapo, simultaneamente às nossas atividades. Como já expressei algumas vezes, isso gerou conflitos nos meses subsequentes, em meio às duas bandas, e eu mantive-me em meio do fogo cruzado, pois precisava do emprego no Língua de Trapo, e também mantinha os meus laços afetivos naquela banda, por ter sido membro fundador; ter uma parceria com o Laert desde os meus primórdios na música, e também gostar bastante do trabalho. Mas o próprio Laert sabia que o meu sonho sempre foi o Rock, e portanto, A Chave do Sol representava a minha esperança nesse sentido.
Enfim, foi uma fase em que administrei melindres, 24 h por dia. De volta a falar sobre A Chave do Sol, digo que apesar desses fatos, estávamos muito felizes e em momento sob intensa criatividade. Músicas novas não paravam de ser criadas, e nem só de longos temas instrumentais, nós vivíamos. Aliás, nós nunca tivemos essa determinação fechada. Os temas instrumentais que tornou-nos conhecidos pelas aparições na TV, foram nuances de nosso repertório, e não a sua essência definitiva. Portanto, nessa época, tínhamos canções com melodia e letra, muito interessantes e que culminaram em nunca ser gravadas e pouco ou mesmo, nunca, executadas ao vivo, infelizmente. Lembro-me que nesse final de 1983, tínhamos uma música que eu gostava muito, chamada : Superstar". Era uma canção que lembrava-me demais o som do The Kinks, e continha uma letra interessante, que fazia uma irônica crítica às pessoas que desejam ser famosas, sem ter motivo nenhum para tal. Cáspite !
Estávamos em 1983 e como tal fenômeno social piorou tempos depois, com programas de TV que tem essa proposta idiota como mote. Outra canção que eu gostava demais, era : "Vestido Branco". Salvo engano, foi a primeira letra do poeta, Julio Revoredo, que musicamos. Era uma canção "swingada", com forte acento Soul, a apresentar um groove de baixo e bateria, que remetia ao Vanilla Fudge. Uma pena mesmo, mas nem "Vestido Branco", nem "Superstar", foram gravadas ou executadas ao vivo, para que eu pudesse ter ao menos uma cópia preservada em uma simples fita K7, hoje em dia. Para não dizer que não há registro algum, existem pequenos fragmentos de ensaios com tais canções, mas creio não ser adequado lançar no You Tube, pois realmente são trechos minúsculos, e que não conseguiriam expressar a ideia, mesmo que pálida, de como eram tais trabalhos. E outra nova que preparávamos, foi : "Reflexões Desconexas". Tratava-se de uma música sob apelo Prog-Rock, mas com elementos da MPB muito interessantes, principalmente na inserção de backing vocals onomatopaicos, criados pelo Zé Luiz, que sempre foi um arranjador nato.
Esta ficara na linha de "Intenções", e cheia de convenções, ritmos quebrados, e outras ousadias instrumentais. Na sua letra, expressava uma complexa reflexão subjetiva, quase uma intervenção psicanalítica. Antes de falar da terceira apresentação no programa : A Fábrica do Som, farei um parênteses para falar de duas questões paralelas. Uma delas, é uma pequena explanação sobre o poeta, Julio Revoredo, o nosso grande parceiro, e incentivador incansável.
Continua...
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