sexta-feira, 28 de março de 2014

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 98 - Por Luiz Domingues


A sessão de overdubs, marcada no dia seguinte, foi tranquila e um dos técnicos mais experientes do estúdio na ocasião, chamado como, "Primo", foi acompanhar um pouco o desenrolar dos trabalhos. No mesmo dia, começamos a sessão de voz solo. Na verdade foi fácil a tarefa, por ser apenas uma música cantada ("Luz"). E no mesmo dia, fizemos também os backing vocals, nós três da banda, e a contar com o reforço de Soraia Orenga e Rosana Gióia.

Quanto ao vocal solo do Rubens, foi bem rápido, pois ele já estava seguro desde quando incorporamos essa canção ao repertório, e por termos tocado-a em quase todos os shows que fizemos no ano de 1983, e assim estar mesmo, bem preparada para gravá-la. Quanto aos backings vocals, foram tranquilos também. Fizemos uma círculo em volta do microfone Neumann, e gravamos juntos em um único canal.

Ao gravarmos em apenas oito canais, foi inevitável que fizéssemos reduções e dessa forma, alguns timbres ficariam mesmo achatados nesse processo reducionista. Alguns dias depois, fizemos a sessão de mixagem de ambas as faixas. No dia da mixagem, o ex-vocalista do Made in Brazil, Caio Flávio, apareceu, e ficou a assistir a sessão. Com redução e aliado à nossa inexperiência, a mix ficou a melhor possível, dentro desse cenário.

Ao ouvir hoje em dia, acho que tem excesso de reverber, e a extrema leveza da base da guitarra do Rubens, em "Luz", incomoda-me um pouco. Se houvesse um dobro de guitarra base, com um pouco mais de "drive", creio que a música ficaria mais encorpada. Também acho que poderia haver um pouco menos de reverber na bateria, no geral, mas entendo perfeitamente que não foi possível operar milagres em uma redução para dois canais de um instrumento complexo como é a bateria. Gosto, contudo, do Flanger nos pratos, durante um trecho do seu solo em "18 Horas", e isso foi proposital evidentemente, com a aprovação da banda inteira. No tocante ao baixo, hoje em dia eu extraio um timbre tão espetacular a usar amplificador e caixas ampeg, principalmente nos trabalhos do Pedra, que realmente fico chateado por ter gravado em linha, sem nem cogitar usar um amplificador nessa gravação d'A Chave do Sol. Não está ruim, mas o meu Fender Jazz Bass rende cem vezes mais nessa circunstância que descrevi acima. O timbre comedido, quase flat desse compacto, poderia ter sido matador, pois o Fender Jazz Bass é o mesmo, com cordas novas etc. Mas admito que há um fator limitador nesse caso, a mais. Os baixistas puristas vão execrar-me, mas o fato de nessa época eu tocar exclusivamente na técnica "Pizzicato", contribuiu também, decisivamente.

Desde 1992, eu eliminei esse estilo de tocar na minha vida, e com o uso de palheta, não tem comparação a qualidade "timbrística". Com os dedos, a tendência é perder o brilho. Com palheta, o baixo ronca de forma violenta, ao produzir o máximo que um instrumento vintage tem de bom, ou seja, a sua sonoridade natural. Dessa forma, há anos estou acostumado a explorar o máximo de baixos Fender e Rickembacker. Ouça qualquer gravação do "Pedra", e o leitor mais acostumado com produção musical, sentirá quando é Jazz Bass; Precision; ou Rickembacker, pois isso é nítido. Mas estou a comentar tecnicamente, apenas. Não queixo-me e pelo contrário, orgulho-me muito desse primeiro trabalho d'A Chave do Sol, por representar mesmo a concretização de um sonho pessoal que eu acalentava desde 1976, quando formei a minha primeira banda.

Ele é importante para a minha carreira, por esse aspecto pessoal, e também pelo trabalho em si, ao representar muito para a carreira d'A Chave do Sol. Esse compacto, aliado às aparições no programa da TV Cultura de São Paulo : "A Fábrica do Som", foram os dois principais fatores que catapultou-nos de uma condição sob anonimato para uma exposição midiática, ao dar-nos oportunidade ímpar para impulsionar a nossa trajetória, e foi exatamente o que ocorreu.


Continua...
  

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