terça-feira, 18 de março de 2014

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 90 - Por Luiz Domingues


Bem, pelo fato de ser um programa especial, com essa badalação toda e nós estarmos envolvidos em tal celebração, foi evidente que outorgou-nos uma responsabilidade extra, naturalmente. E por ser uma ocasião nobre, resolvemos tocar uma música diferente, e a outra, já exibida anteriormente, no programa. Escolhemos a canção : "Luz", como música já executada anteriormente, pois nesta altura, era quase certeza que a gravaríamos de forma oficial, em breve. Aliás, falo sobre essa perspectiva fonográfica, logo mais.

De volta à apresentação do Circo Mágico no Anhembi, chegamos cedo, e logo conversamos com a produção do programa. Teria sido importantíssimo que A Chave do Sol fosse o primeiro artista a apresentar-se, pois eu teria que sair imediatamente do Anhembi, e dirigir-me ao TUCA, no bairro das Perdizes, zona oeste, onde reestrearia com o Língua de Trapo. Os produtores mostraram-se gentis e ao compreender o meu problema logístico, fizeram a inversão na escala, e assim, apresentamo-nos em primeiro lugar. Tocamos, "Luz", com extrema segurança e na mesma noite, resolvemos apresentar uma música nova, denominada  : "Reflexões Desconexas". Tratou-se de um Hard-Rock, com bastante influência de Jazz-Rock, e nítida influência de MPB setentista, principalmente por conta de um contraponto vocal que o Zé Luiz criou como arranjo, e que nós executávamos, eu Luiz Domingues e ele, ao mesclar-se ao vocal solo, da parte do Rubens. A música apresentava-se na mesma linha de "Intenções", outra canção que tínhamos no repertório, nesses mesmos moldes estilísticos, e a letra era bem complexa, apesar de ser criação nossa, coletiva, e não de autoria do poeta, Julio Revoredo, que costumava brindar-nos com a sua erudição poética. "Reflexões Desconexas" era muito complexa; com linha de baixo e bateria bem requintadas; convenções; uma bela melodia "JeffBeckeana" em uma das inúmeras intervenções do Rubens; mudanças de ritmo bruscas; e essa parte a evocar a MPB, que causava uma deliciosa estranheza aos ouvidos dos Rockers mais radicais.

Infelizmente, eu empolguei-me um pouco na performance e ao esbarrar o headstock (a parte de cima do braço do instrumento, onde ficam as tarraxas), do meu baixo em alguma coisa (nem lembro-me, o que foi, exatamente), desafinei levemente as tarraxas das cordas Ré e Sol, do meu baixo. Com isso, a tocar e cantar, no meio da música, pus-me a tentar afinar com a performance em curso, e não consegui o meu intento, ao desarticular-me um pouco, e por conta desse desajuste eu perdi um pouco a concentração. Infelizmente, essa falha de minha parte, comprometeu a performance da banda, não ao ponto de sairmos cabisbaixos, mesmo porque, 99% do público nem percebeu, mas foi o suficiente para chatear-nos um pouco.

Como consolo, a execução da canção : "Luz", foi boa, e essa é que foi ao ar, para representar-nos, nessa terceira participação no programa. De fato, a minha lembrança de quando tocamos, "Luz", é a melhor possível. Recordo-me dos rostos da várias pessoas a sorrir, outras tanto a dançar, e empunhar guitarras imaginárias etc. Somente um fator incomodou-me nessa específica performance. Em um dado momento, percebi que o cabo P 10 do meu instrumento estava enroscado em minha perna, e daí, tive que quebrar a minha mise-en-scené, ao dar um passo desajeitado, e isso foi capturado pela TV. Muito azar, mas no vídeo está lá imortalizado esse pequeno desastre cênico...
O vídeo dessa performance no programa : "A Fábrica do Som. Foi a nossa terceira participação no programa, gravado em 15 de novembro de 1983, no Circo Mágico do Parque Anhembi, em São Paulo. Música : "Luz"

No meio da plateia, o amigo / fã, Helcio Junior, de Atibaia / SP, estava lá com os seus amigos, a empunhar uma faixa em nosso apoio. Nos bastidores, falei rapidamente com meu amigo, Sérgio Henriques, tecladista com quem trabalhei em diversas ocasiões entre 1979 e 1982, e que estava agora como membro do Premeditando o Breque (ler capítulos sobre "Trabalhos Avulsos" e "Terra no Asfalto"). Salvo a minha pressa, e essa falha em "Reflexões Desconexas", foi mais uma boa apresentação n'A Fábrica do Som, o que só reforçou a ideia que os tempos de anonimato para A Chave do Sol, certamente haviam ficado para trás, e dessa maneira, vivíamos uma nova etapa, desde quando apresentáramo-nos nesse mesmo programa, em julho daquele mesmo ano, pela primeira vez.


Continua... 
  

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