sexta-feira, 21 de março de 2014

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 96 - Por Luiz Domingues

Eu, Luiz Domingues, a estabelecer pose como a imitar "Brian Jones" (Lp Beggar's Banquet dos Rolling Stones, em 1968, veja o encarte interno do álbum e confira), no Estúdio Mosh, em janeiro de 1984

E finalmente chegou o dia. Estava marcado para às 15:00 horas de um dia de janeiro de 1984 (não anotei o dia certo, peço perdão ao leitor / fã d'A Chave do Sol).

A sala de gravação no antigo Mosh, era um quarto muito amplo, cuja suíte foi retirada, e tornou-se uma casinha isolada para a bateria. Com uma elevação substancial, víamos o Zé Luiz como se estivesse em um praticável de show ao vivo, com a bateria suspensa. Dessa forma, apesar de fechado na casinha, tínhamos a comunicação visual essencial para uma gravação, ainda mais ao considerar-se que gravaríamos toda a base ao vivo.
Ele levou a sua bateria Tama, e usou três pratos (Crash 18' ; Ride 22' e China 24' ); os pratos de chimbau que ele usava nessa época, eram da marca, Zildjian. Pedal de bumbo, Speed King. Ele usou peles Remo hidráulicas em todos as peças, incluso na caixa.
No meu caso, eu usei o meu Fender Jazz Bass, com cordas GHS (040), mas plugado diretamente na linha. E o Rubens usou a sua guitarra Fender Stratocaster, plugada em um amplificador Music Man, com dois falantes de 12". O Rubens tinha na pedaleira nessa época, um Phase 90 da MXR; Wah-wah Cry Baby; Compression / Sustainer da Boss, e Chorus da Boss, como principais opções. Ele usava também, cinco pedais da Coloursound, que acoplava esporadicamente ao vivo, um ou outro, mas não lembro-me em vê-los todos na pedaleira.

O Chorus ele usava pouco, é verdade. Sua preferência era pelo Phase 90, aliás uma marca registrada que marcou o som d'A Chave do Sol, pois quase todos os solos dele, eram feitos com o pedal ativado. Muitos guitarristas comentam que isso era típica característica d'A Chave do Sol, e é verdade. Gravamos inicialmente a base de "Luz", por ser um Rock mais simples. Teoricamente apenas, pois se a estrutura harmônica era baseada no Rock'n Roll básico cinquentista, havia diversas convenções e verdadeiros momentos sob inspiração jazzística, com escalas de baixo andantes, por exemplo. 

O Zé Luiz fez viradas difíceis e por ter sido assim, apesar de parecer fácil para um baterista de seu nível, exigiu-lhe concentração. A guitarra ficou isolada por um biombo com madeira almofadada à moda de estúdios vintage, no fundo da sala. Não recordo-me sinceramente qual foi o microfone usado para a captação do amplificador. Remotamente lembro-me que era um da marca AKG, mas foge-me o seu modelo específico. A verba foi curta, portanto não tivemos outra alternativa a não ser gravar a base ao vivo, para reservar apenas solo e contrasolos para uma sessão extra a gravar os overdubs, além da voz e backing vocals, evidentemente. Faltou-nos experiência em estúdio, pois na ausência de um maior preparo nesse sentido, o Rubens equalizou o seu amplificador para uma base limpa, mas exagerou na dose. Ficou quase uma base ao estilo da Country Music, bem Nashville. 

Sua guitarra Fender Stratocaster soa como uma Telecaster, praticamente, nessa base que ficou registrada no disco. Não posso dizer que seja feia, pelo contrário, são desenhos rítmicos muito bem engendrados por ele e agradáveis naquela base limpíssima, mas faltou um contraponto que seria necessário com uma segunda guitarra base mais suja, para abrir no estéreo. Foi o primeiro disco da minha vida, como banda minha de fato. Antes disso eu gravara uma faixa em um disco de um cantor de MPB em 1980 (já relatado no tópico "Trabalhos Avulsos"); uma demo-tape com o Língua de Trapo (também já relatado no capítulo dessa banda), e algumas gravações mambembes de demos (inclusive uma com a própria A Chave do Sol, em 1983), para inscrever músicas em festivais etc. Em suma : mostrava-se muito pouca a minha experiência nessa ocasião.
Zé Luiz de costas; o ex-vocalista do Made in Brazil, Caio Flávio, que acompanhou a gravação como convidado do Mosh, e o técnico Robson T.S., de bigode

Estava seguro e muito calmo, mas faltou-me experiência em lidar com o estúdio, coisa que hoje tenho de sobra. Para o Zé Luiz também foi o primeiro disco. Fora disso, a sua experiência resumira-se à fitas demo com a sua banda anterior, o Contrabando. E o Rubens havia gravado um compacto com a banda, Santa Gang, em 1981, o que também mostrava-se muito pouco. A nossa sorte foi que estávamos excepcionalmente bem ensaiados, e tranquilos, seguros. E também pelo fato do técnico de som designado para servir0nos, ter apreciado o nosso som, e ser extremamente solícito.
Ao estabelecer amizade e sintonia musical instantânea, conosco, foi um amigo que auxiliou-nos do início à mixagem, com extrema boa vontade, e espírito cooperativo. O nome desse técnico é : Robson T.S. Ele era jovem, mas bastante competente e interessado em mostrar serviço, por ter dado o melhor de si para o som ficar o melhor possível. O dono do estúdio era (é) o Oswaldo Malagutti, ex-baixista dos Pholhas, e muito do equipamento do Mosh, naquela época, pertencera à tal banda, e foi muito usado na década de setenta.
Robson T.S. compenetrado na sessão de overdubs de guitarra do Rubens. Sentado ao seu lado, Caio Flávio, e à esquerda, só no detalhe, o Zé Luiz Dinola.A Chave do Sol a gravar o seu primeiro disco. Janeiro de 1984





Continua...
   

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